Perguntas dos Leitores
● Como é que os cristãos hão de “julgar anjos”, segundo 1 Coríntios 6:3?
Isto se refere evidentemente a que os cristãos ungidos participarão com Cristo no futuro julgamento de anjos iníquos, demônios. Exortando os cristãos a resolverem disputas pessoais com a ajuda de irmãos maduros da congregação, em vez de recorrerem a tribunais seculares, o apóstolo Paulo escreveu: “Ou não sabeis que os santos julgarão o mundo? E, se o mundo há de ser julgado por vós, sois vós inaptos para julgar assuntos muito triviais? Não sabeis que havemos de julgar anjos? Por que, então, não assuntos desta vida?” — 1 Cor. 6:2, 3.
Alguns acharam que Paulo, ao falar sobre ‘julgar’, referia-se aos cristãos como podendo expulsar demônios. Mas os seguidores de Cristo já haviam sido habilitados a fazer isso ocasionalmente, ao passo que Paulo estava ali falando do futuro (‘julgarão o mundo e havemos de julgar anjos’) (Mat. 10:8; Luc. 10:17; Atos 16:16-18; 19:11, 12) Outros acham que Paulo estava dizendo que os cristãos, pela sua conduta exemplar, condenam os anjos rebaixados, que seguem a Satanás. Novamente, porém, isto não era algo restrito ao futuro; já por anos os cristãos haviam demonstrado uma conduta excelente. (Mat. 5:14-16; Tito 2:6-8; 1 Ped. 3:16) Também, o contexto das palavras de Paulo parece excluir que este ‘julgamento dos anjos’ seja simplesmente uma questão de se empenhar numa conduta que condena pelo contraste.
A Bíblia, porém, mostra que aguarda ao diabo um julgamento — ter a cabeça machucada. (Gên. 3:15) Descrevendo a parte inicial desta ação, Revelação 20:1-3 diz que um forte anjo se apoderará do Diabo e o amarrará durante o milênio. Os Rev. 20 versículos 7-10 relatam que, no fim deste período, Satanás será solto por um breve tempo. Daí, porém, na segunda fase de ele ser ‘machucado’, será lançado no lago ardente da destruição eterna.
Revelação não diz especificamente que os reis-sacerdotes ungidos, no céu, tenham participação na execução deste julgamento. Mas tampouco menciona os demônios como sendo lançados no abismo junto com o diabo, o que é indicado em outra parte da Bíblia. (Luc. 8:31) Portanto, não ser retratado em Revelação 20:1-10 que os 144.000 agem junto com Cristo na expressão do julgamento não significa que eles não desempenhem um papel nisso. Romanos 16:20 diz sobre eles: “O Deus que dá paz, por sua parte, esmagará em breve a Satanás debaixo dos vossos pés.”
Por conseguinte, parece que, quando Paulo disse que os ungidos ‘hão de julgar anjos’ ele se referiu à futura execução do julgamento nos espíritos iníquos. Embora a Bíblia não nos forneça pormenores sobre o papel desempenhado pelos co-herdeiros de Cristo neste julgamento, podemos ter a certeza de que pelo menos terão um papel de apoio. Sem dúvida, estarão apoiando Jesus, aprovando o julgamento.
● Qual era a “recompensa” que o apóstolo Paulo tinha por ter proclamado espontaneamente as “boas novas”?
O apóstolo declarou: “Se eu realizar isso espontaneamente, tenho uma recompensa; mas, se eu o fizer contra a minha vontade, mesmo assim fui incumbido duma mordomia.” (1 Cor. 9:17) Um exame do contexto torna claro o que Paulo queria dizer.
Em todo o capítulo 9 de 1 Coríntios, o apóstolo enfatizou que ele não se aproveitara de seu direito de se refrear de trabalho secular e de ‘viver por meio das boas novas’. (V. 14) Usando fatos da vida diária, a lei mosaica e o que o próprio Jesus Cristo ordenara, o apóstolo esclareceu que era correto receber apoio material pelo trabalho feito na promoção das “boas novas”.
Visto que Paulo, de livre vontade, renunciara a este direito e escolhera sustentar-se materialmente, sua recompensa era a alegria e a satisfação provenientes de adotar tal proceder. De consciência limpa, podia citar seu exemplo de altruísmo na promoção dos interesses espirituais dos outros. Ninguém podia acusá-lo de lucrar materialmente por meio das “boas novas”. Ele não abusara de sua autoridade como alguém a quem se confiara uma comissão sagrada, uma mordomia. Por isso, podia dizer: “Qual é então a minha recompensa? É que, declarando as boas novas, eu forneça as boas novas sem custo, a fim de não abusar da minha autoridade nas boas novas.” — 1 Cor. 9:18.
● Há “quatro cavaleiros do Apocalipse”? Ou são cinco?
A frase, “os quatro cavaleiros do Apocalipse”, que o escritor espanhol Vicente Blasco Ibáñez popularizou como título numa novela sobre a Primeira Guerra Mundial, é tirado duma descrição feita no capítulo seis de Revelação ou Apocalipse.
Ali, o apóstolo João observou numa visão ‘um cavalo branco e o sentado nele’, o que se entende como retratando a Jesus Cristo cavalgando como Rei celestial. A seguir vinha um cavaleiro num “cavalo cor de fogo”, representando a guerra, tal como a que irrompeu em 1914 E.C. O terceiro foi um cavalo preto com seu cavaleiro, representando uma enorme escassez de víveres. O relato acrescenta então: “E eu vi, e eis um cavalo descorado; e o que estava sentado nele tinha o nome de Morte. E o Hades seguia-o de perto.” — Rev. 6:1-8.a
Mas, como seguia o Hades à Morte? Montava o Hades o seu próprio cavalo não descrito? Ou estava o Hades sentado atrás da Morte no cavalo descorado? Ou será que o Hades nem andava a cavalo, mas seguia assim mesmo? Na realidade, nenhum de nós pode dizer com certeza quais dessas possibilidades ocorreram, porque João não fornece esse pormenor. Portanto, em vista do próprio relato, tudo o que podemos dizer com certeza é que João viu quatro cavaleiros — os quatro montados em cavalos branco, vermelho, preto e descorado. Não há necessidade para ser dogmático sobre se o Hades montava um quinto cavalo ou não.
Todavia, a descrição de João nos habilita a perceber o que ele considerava mais importante do que apenas como o Hades seguia. É que os ceifados pela morte prematura — como pela guerra, pela fome e pela praga — são recolhidos pelo Hades, a sepultura comum da humanidade. — Rev. 20:13.
[Nota(s) de rodapé]
a Comentários de versículo por versículo sobre esta passagem encontram-se no livro “Cumprir-se-á, Então, o Mistério de Deus”, pp. 37-60.