Capítulo 5
Hinduísmo — uma busca de libertação
“Na sociedade hindu, é costume religioso, como primeira coisa a fazer de manhã, banhar-se num rio vizinho, ou em casa, se não houver rio ou riacho nas imediações. As pessoas crêem que isso as santifique. Daí, sem ainda se terem alimentado, vão ao templo local e fazem oferendas de flores e alimentos ao deus local. Alguns lavam o ídolo e decoram-no com pó vermelho e amarelo.
“Quase toda casa tem um canto, ou mesmo um cômodo, para a adoração do deus preferido da família. Um deus popular em algumas localidades é Ganesa, o deus-elefante. As pessoas oram a ele em especial por boa sorte, pois ele é conhecido como removedor de obstáculos. Em outros lugares, Críxena, Rama, Xiva, Durga, ou alguma outra deidade talvez tenha prioridade na devoção.” — Tara C., Katmandu, Nepal.
1. (a) Descreva alguns costumes hindus. (b) Quais são algumas diferenças entre o conceito ocidental e o conceito hindu?
O QUE é hinduísmo? Trata-se apenas da noção ocidental simplista de venerar animais, banhar-se no Ganges e estar dividido em castas? Ou há algo mais envolvido? A resposta: Há muito mais envolvido. O hinduísmo é uma maneira diferente de entender a vida, para a qual os valores ocidentais são totalmente estranhos. Os ocidentais tendem a ver a vida como linha cronológica de eventos na história. Os hindus vêem a vida como ciclo auto-repetitivo no qual a história humana pouco importa.
2, 3. (a) Por que é difícil definir o hinduísmo? (b) De que modo certo escritor indiano explica hinduísmo e politeísmo?
2 Não é fácil definir o hinduísmo, pois não tem credo definido, hierarquia sacerdotal nem órgão governante. Mas não deixa de ter suamis (mestres) e gurus (guias espirituais). Numa definição ampla do hinduísmo, certo livro de história diz que é “o inteiro complexo de crenças e instituições que surgiram desde o tempo em que seus antigos (e mais sagrados) escritos, os Vedas, foram compostos, até agora”. Outro diz: “Pode-se dizer que o hinduísmo é a devoção ou a adoração dos deuses Vixenu, ou Xiva [Siva], ou da deusa Sacti, ou das encarnações, dos aspectos, dos consortes ou da progênie deles.” Isto vale para incluir os cultos de Rama e Críxena (encarnações de Vixenu), Durga, Escanda e Ganesa (respectivamente esposa e filhos de Xiva). Afirma-se que o hinduísmo tem 330 milhões de deuses, não obstante, diz-se que o hinduísmo não é politeísta. Como é isso possível?
3 O escritor indiano A. Parthasarathy explica: “Os hindus não são politeístas. O hinduísmo fala de um Deus uno . . . Os diferentes deuses e deusas do panteão hindu são mera representação dos poderes e das funções do único Deus supremo no mundo manifestado.”
4. O que abrange o termo “hinduísmo”?
4 Os hindus não raro referem-se à sua fé como sanatana darma, que significa lei ou ordem eternas. Hinduísmoa é realmente um termo vago que descreve uma hoste de religiões e seitas (sampradaias) que se desenvolveram e floresceram no decorrer dos milênios sob a sombra da complexa mitologia hindu antiga. Essa mitologia é tão intricada que a Nova Enciclopédia Larousse de Mitologia (em inglês) diz: “A mitologia indiana é uma inextricável selva de luxuriante vegetação. Entrando nela, perde-se a luz do dia e todo senso claro de direção.” Não obstante, este capítulo abordará alguns dos aspectos e ensinos dessa fé.
Antigas Raízes do Hinduísmo
5. Quão difundido é o hinduísmo?
5 Embora o hinduísmo talvez não seja tão difundido como algumas outras religiões principais, não obstante, por volta de 1990, gozava da lealdade de uns 700 milhões de seguidores, ou cerca de 1 em 8 (13%) da população do mundo. Contudo, a maioria destes encontra-se na Índia. Assim, é lógico perguntar: Como e por que o hinduísmo ficou concentrado na Índia?
6, 7. (a) Segundo alguns historiadores, como foi que o hinduísmo chegou à Índia? (b) De que modo o hinduísmo apresenta sua lenda do dilúvio? (c) Segundo o arqueólogo Marshall, que tipo de religião era praticada no vale do Indo antes da chegada dos arianos?
6 Alguns historiadores dizem que as raízes do hinduísmo remontam a mais de 3.500 anos, quando uma onda de migração trouxe do noroeste para o vale do Indo um povo ariano de pele clara, agora localizado principalmente no Paquistão e na Índia. De lá eles se espalharam até as planícies do rio Ganges e por toda a Índia. Alguns estudiosos dizem que os conceitos religiosos desses migrantes baseavam-se em antigos ensinos iranianos e babilônicos. Um traço comum a muitas culturas, e também encontrado no hinduísmo, é a lenda sobre um dilúvio. — Veja quadro, página 120.
7 Mas, que tipo de religião se praticava no vale do Indo antes da chegada dos arianos? Um arqueólogo, Sir John Marshall, fala da “‘Grande Deusa-Mãe’, sendo às vezes representada por estatuetas de figuras femininas grávidas, a maioria nuas, com gargantilha alta e ornato na cabeça. . . . Há também o ‘Deus Macho’, ‘logo identificável como protótipo do histórico Xiva’, sentado com as plantas dos pés tocando uma na outra (uma postura ioga), itifálico (lembrando o culto linga [do falo]), cercado de animais (retratando o epíteto de Xiva, ‘Senhor dos Animais’). Há muitas figuras de pedra do falo e da vulva, . . . que apontam para o culto do linga e da ioni de Xiva e sua consorte”. (Religiões do Mundo — Da História Antiga ao Presente, em inglês) Até hoje Xiva é reverenciado como deus da fertilidade, o deus do falo, ou linga. O touro Nandi o carrega.
8, 9. (a) De que modo certo hinduísta discorda da teoria de Marshall? (b) Que contra-afirmações se fazem a respeito de objetos venerados do hinduísmo e do “cristianismo”? (c) Qual é a base para os escritos sagrados do hinduísmo?
8 O hinduísta Swami Sankarananda discorda da interpretação de Marshall, dizendo que originalmente as pedras veneradas, algumas conhecidas como Xivalinga, eram símbolos “do fogo do céu ou do sol e o fogo do sol, os raios”. (A Cultura Rigvédica do Indo Pré-histórico, em inglês) Ele arrazoa que “o culto do sexo . . . não se originou como culto religioso. É um subproduto. Uma degeneração do original. São as pessoas que rebaixam o ideal, elevado demais para sua compreensão, a seus próprios níveis”. Como contra-argumento à crítica ocidental ao hinduísmo, ele diz que, à base da veneração cristã da cruz, um símbolo fálico pagão, “os cristãos . . . são os devotos de um culto do sexo”.
9 Com o tempo, as crenças, os mitos e as lendas da Índia foram assentados por escrito, e formam hoje os escritos sagrados do hinduísmo. Embora tais obras sacras sejam bem abrangentes, elas não tentam propor uma unificada doutrina hindu.
Escritos Sagrados do Hinduísmo
10. Quais são alguns dos escritos mais antigos do hinduísmo?
10 Os escritos mais antigos são os Vedas, uma coletânea de orações e hinos conhecidos como Rig-Veda, Sama-Veda, Iajur-Veda e Atarva-Veda. Foram compostos durante vários séculos e completados por volta de 900 AEC. Os Vedas foram mais tarde suplementados por outros escritos, incluindo os Brâmanas e os Upanichades.
11. (a) Qual é a diferença entre os Brâmanas e os Upanichades? (b) Que doutrinas são esboçadas nos Upanichades?
11 Os Brâmanas especificam como realizar os ritos e sacrifícios, tanto domésticos como públicos, e dão muitos detalhes sobre seus profundos significados. Foram escritos a partir de cerca de 300 AEC ou mais tarde. Os Upanichades (literalmente: “assentos perto dum mestre”), também conhecidos como Vedanta e escritos por volta de 600-300 AEC, são tratados que delineiam a razão de todo o pensamento e ação, segundo a filosofia hindu. As doutrinas da samsara (transmigração da alma) e do carma (a crença de que as ações de uma existência anterior são a causa do atual estado da pessoa na vida) foram esboçadas nesses escritos.
12. Quem era Rama, e onde se encontra sua história?
12 Outro conjunto de escritos são os Puranas, ou longas histórias alegóricas contendo muitos mitos hindus sobre deuses e deusas, bem como sobre heróis hindus. Essa extensa biblioteca hindu inclui também as epopéias de Ramaiana e Maa-barata. A primeira é a história do “Senhor Rama . . . o mais glorioso de todos os personagens encontrados em literatura escritural”, segundo A. Parthasarathy. O Ramaiana é um dos mais populares escritos para os hindus, datado de aproximadamente o quarto século AEC. É a história do herói Rama, ou Ramachandra, tido pelos hindus como filho, irmão e marido exemplar. É considerado o sétimo avatar (encarnação) de Vixenu, e seu nome não raro é invocado como saudação.
13, 14. (a) Segundo certa fonte hindu, o que é o Bagavat Gita? (b) O que significam Sruti e Smriti, e o que é o Manu Smriti?
13 Segundo Bhaktivedanta Swami Prabhupāda, fundador da Sociedade Internacional para Conscientização Críxena, “Bagavad-gītā [parte do Maa-barata] é a suprema instrução de moralidade. As instruções do Bagavad-gītā constituem o supremo processo de religião e o supremo processo de moralidade. . . . A última instrução do Gītā é a última palavra de toda a moralidade e religião: renda-se a Kṛṣṇa [Críxena].” — BG.
14 O Bagavat Gita (Cântico Celestial), tido por alguns como “jóia da sabedoria espiritual da Índia”, é uma conversação em campo de batalha “entre o Senhor Śrī Kṛṣṇa [Críxena], a Suprema Personalidade da Divindade, e Arjuna, Seu amigo íntimo e devoto, a quem Ele instrui na ciência da auto-realização”. Contudo, o Bagavat Gita é apenas parte da extensa biblioteca sagrada hindu. Alguns desses escritos (Vedas, Brâmanas e os Upanichades) são encarados como Sruti, ou “foram ouvidos”, e são, portanto, considerados escritos sagrados diretamente revelados. Outros, como as epopéias e os Puranas, são Smriti, ou “lembrados”, e, assim, compostos por autores humanos, embora derivados de revelação. Um exemplo é o Manu Smriti, que esboça as leis religiosas e sociais hindus, além de explicar a base para o sistema de castas. Quais são algumas das crenças que surgiram desses escritos hindus?
Ensinos e Conduta — Ainsa e Varna
15. (a) Defina ainsa, e explique como é que os jainistas o aplicam. (b) Como encarou Gandhi o ainsa? (c) Em que sentido os siques diferem dos hindus e dos jainistas?
15 No hinduísmo, como também em outras religiões, há certos conceitos básicos que influenciam o pensamento e a conduta cotidiana. Um notável exemplo é o ainsa (sânscrito: ahinsa), ou não-violência, pela qual Mohandas Gandhi (1869-1948), conhecido como o Mahatma, tanto se celebrizou. (Veja quadro, página 113.) À base dessa filosofia, os hindus não devem matar outras criaturas, nem praticar violência contra elas, que é uma das razões pelas quais eles veneram certos animais, como vacas, cobras e macacos. Os mais estritos expoentes desse ensino do ainsa e respeito à vida são os seguidores do jainismo (fundado no sexto século AEC), que andam descalços e usam até mesmo uma máscara para não engolir acidentalmente algum inseto. (Veja quadro, página 104, e foto, página 108.) Em contraste, os siques são conhecidos por sua tradição guerreira, e Singh, um sobrenome comum entre eles, significa leão. — Veja quadro, páginas 100-101.
16. (a) De que modo a maioria dos hindus encara o sistema de castas? (b) O que disse Gandhi sobre o sistema de castas?
16 Um aspecto universalmente conhecido do hinduísmo é o varna, ou sistema de castas, que divide a sociedade em rígidas classes. (Veja quadro, página 113.) É impossível não perceber que a sociedade hindu ainda está estratificada por esse sistema, ainda que seja rejeitado pelos budistas e jainistas. Contudo, assim como a discriminação racial persiste nos Estados Unidos e em outras partes, da mesma forma o sistema de castas está profundamente arraigado no espírito indiano. De certo modo é uma forma de conscientização de classe que, de maneira paralela, ainda se encontra hoje em menor grau na sociedade britânica e em outros países. (Tiago 2:1-9) Assim, na Índia, a pessoa nasce dentro de um rígido sistema de castas e praticamente não existe uma saída. Ademais, o hindu mediano não procura uma saída. Ele considera isso como sua predeterminada e inescapável sorte na vida, o resultado de suas ações numa existência anterior, ou carma. Mas, como se originou o sistema de castas? Mais uma vez temos de recorrer à mitologia hindu.
17, 18. Segundo a mitologia hindu, como é que o sistema de castas começou?
17 Segundo a mitologia hindu, havia originalmente quatro principais castas baseadas nas partes do corpo do Puruxa, figura do pai original da humanidade. Os hinos do Rig-Veda dizem:
“Quando dividiram o Puruxa, quantas partes fizeram?
Como eles chamam sua boca, seus braços? Como chamam suas coxas e pés?
A brâmane [a casta mais elevada] era sua boca, de ambos os seus braços se fez a rajânia.
Suas coxas se tornaram a vaixiá, de seus pés se produziu a sudra.” — The Bible of the World (A Bíblia do Mundo).
18 Assim, os brâmanes sacerdotais, a mais elevada casta, supostamente se originaram da boca do Puruxa, sua parte mais elevada. A classe governante, ou guerreira, (xátria ou rajânia) veio de seus braços. A classe mercadora e lavradora, chamada vaixá, ou vaixiá, originou-se de suas coxas. Uma casta inferior, a sudra, ou xudra, ou classe trabalhadora, resultou da parte mais inferior do corpo, os pés.
19. Que outras castas vieram à existência?
19 No decorrer dos séculos vieram a existir até mesmo castas inferiores, os párias e os intocáveis, ou como Mahatma Gandhi os chamava mais bondosamente, os harijãs, ou “pessoas pertencentes ao deus Vixenu”. Embora a intocabilidade seja ilegal na Índia desde 1948, os intocáveis ainda levam uma existência muito dura.
20. Quais são outros aspectos do sistema de castas?
20 Com o tempo as castas se multiplicaram, passando a corresponder a quase toda profissão e artesanato na sociedade hindu. Este antigo sistema de castas, que mantém cada qual no seu respectivo lugar social, é na realidade também racial e “inclui distintos tipos raciais que variam desde o que é conhecido como tronco ariano [de pele clara] ao pré-dravidiano [de pele mais escura]”. Varna, ou casta, significa “cor”. “As primeiras três castas eram arianas, as pessoas mais claras; a quarta casta, que incluía os aborígenes de pele escura, era não-ariana.” (Série Mitos e Lendas — Índia, de Donald A. Mackenzie, em inglês) É um fato da vida na Índia que o sistema de castas, fortalecido pelo ensino religioso do carma, mantém milhões de pessoas presas a eterna pobreza e injustiça.
O Frustrador Ciclo da Existência
21. Segundo o Garuda Purana, de que modo o carma afeta o destino da pessoa?
21 Outra crença básica que afeta a ética e a conduta hindu, e uma das mais vitais, é o ensino do carma. Trata-se do princípio de que toda ação tem suas conseqüências, positivas ou negativas; determina cada existência da alma transmigrada ou reencarnada. Como explica o Garuda Purana:
“O homem é o criador de seu próprio destino, e mesmo na vida fetal, ele é afetado pela dinâmica das obras praticadas na sua existência anterior. Quer confinado num reduto de montanha, quer tranqüilo na superfície de um mar, quer seguro no colo de sua mãe quer erguido sobre a cabeça dela, o homem não pode fugir dos efeitos de suas próprias ações passadas. . . . O que quer que tenha de acontecer a um homem, em qualquer idade ou época específicas, certamente lhe sobrevirá então e naquela data.”
O Garuda Purana continua:
“O conhecimento adquirido por um homem na sua vida anterior, a riqueza dada como caridade na sua existência anterior e as obras feitas por ele numa encarnação prévia, vão à frente de sua alma na sua permanência temporária.”
22. (a) Que diferença há entre as opções hindus para a alma após a morte e as da cristandade? (b) O que ensina a Bíblia sobre a alma?
22 De que depende essa crença? A alma imortal é essencial para o ensino do carma, e é o carma que faz o conceito hindu da alma diferir do da cristandade. Os hindus crêem que cada alma pessoal, jiva ou pran,b passa por muitas reencarnações e possivelmente pelo “inferno”. Ela tem de lutar para unir-se à “Suprema Realidade”, também chamada Brâmane, ou Brâmine (não confundir com o deus hindu Brama). Por outro lado, as doutrinas da cristandade oferecem à alma as opções do céu, inferno, purgatório ou limbo, dependendo da crença religiosa. — Eclesiastes 9:5, 6, 10; Salmo 146:4.
23. De que modo o carma afeta o conceito hindu da vida? (Veja Gálatas 6:7-10.)
23 Como conseqüência do carma, os hindus tendem a ser fatalistas. Crêem que o atual status ou condição da pessoa resulta duma existência prévia, sendo, portanto, merecida, seja boa ou má. O hindu pode tentar estabelecer um registro melhor, de modo que a próxima existência seja mais suportável. Assim, ele aceita mais prontamente a sua sorte na vida do que o ocidental. O hindu vê tudo como o resultado da lei de causa e efeito em relação à sua existência anterior. É o princípio de colher o que se semeou numa suposta existência anterior. Tudo isso, naturalmente, baseia-se na premissa de que o homem tem uma alma imortal que passa para uma outra vida, seja esta como humano, animal ou vegetal.
24. O que é mocsa, e de que modo os hindus crêem que ela é alcançada?
24 Assim, qual é o derradeiro objetivo da fé hindu? É alcançar a mocsa, que significa libertação, ou liberação, do círculo vicioso de renascimentos e diferentes existências. Por conseguinte, é um escape da existência incorporada, não para o corpo, mas sim para a “alma”. “Visto que a mocsa, ou libertação duma longa série de encarnações, é o alvo de todo hindu, o maior evento de sua vida é realmente a morte”, diz certo comentarista. Pode-se conseguir a mocsa seguindo os diferentes margas, ou caminhos. (Veja quadro, página 110.) É espantoso ver quanto desse ensino religioso depende do antigo conceito babilônico da alma imortal!
25. De que modo o conceito hindu a respeito da vida difere do ponto de vista da Bíblia?
25 Todavia, segundo a Bíblia, esse desprezo e desdém para com a vida material é diametralmente contrário ao propósito original de Jeová Deus para com a humanidade. Ao criar o primeiro casal humano, ele lhes atribuiu uma existência terrestre feliz e jubilosa. O relato bíblico nos diz:
“E Deus passou a criar o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. Ademais, Deus os abençoou e Deus lhes disse: ‘Sede fecundos e tornai-vos muitos, e enchei a terra, e sujeitai-a, e tende em sujeição os peixes do mar, e as criaturas voadoras dos céus, e toda criatura vivente que se move na terra.’ . . . Depois, Deus viu tudo o que tinha feito, e eis que era muito bom.” (Gênesis 1:27-31)
A Bíblia profetiza uma iminente era de paz e justiça para a terra, uma era em que cada família terá a sua própria moradia adequada, e a saúde e vida perfeitas serão o quinhão eterno da humanidade. — Isaías 65:17-25; 2 Pedro 3:13; Revelação (Apocalipse) 21:1-4.
26. Que pergunta exige agora uma resposta?
26 A próxima pergunta a responder é: Que deuses o hindu tem de agradar a fim de alcançar um bom carma?
O Panteão de Deuses Hindus
27, 28. (a) Que deuses formam a Trimúrti hindu? (b) Quem são suas esposas ou consortes? (c) Cite alguns outros deuses e deusas hindus.
27 Embora o hinduísmo afirme existir milhões de deuses, na prática real há certos deuses favoritos que se têm tornado o ponto focal de várias seitas dentro do hinduísmo. Três dos deuses mais destacados estão incluídos no que os hindus chamam de Trimúrti, uma trindade, ou tríade, de deuses. — Quanto a outros deuses hindus, veja quadro nas páginas 116-17.
28 A tríade consiste em Brama, o Criador, Vixenu, o Preservador e Xiva, o Destruidor, e cada qual tem pelo menos uma esposa ou consorte. Brama é casado com Sarasváti, a deusa do conhecimento. A esposa de Vixenu é Lacximi e a primeira esposa de Xiva era Sati, que se suicidou. Foi a primeira mulher a passar pelo fogo sacrificial, tornando-se assim a primeira sati. Seguindo seu exemplo mitológico, milhares de viúvas hindus ao longo dos séculos se sacrificaram na pira funerária de seu marido, embora tal prática seja agora ilegal. Xiva tem também outra esposa, conhecida por vários nomes e títulos. Na sua forma benigna, ela é Parvati e Uma, bem como Gauri, a Dourada. Como Durga ou Cali, ela é uma deusa terrificante.
29. De que modo os hindus encaram Brama? (Veja Atos 17:22-31.)
29 Brama, embora seja central na mitologia hindu, não ocupa um lugar de destaque na adoração do hindu mediano. De fato, bem poucos templos são dedicados a ele, embora seja chamado de Brama, o Criador. Contudo, a mitologia hindu atribui a tarefa de criar o universo material a um ser, fonte ou essência suprema — Brâmane ou Brâmine, identificado pelas sílabas sagradas OM ou AUM. Todos os três membros da tríade são considerados parte desse “Ser”, e todos os outros deuses são tidos como diferentes manifestações. Qualquer que seja o deus que então é adorado como supremo, pensa-se que essa deidade seja todo-abrangente. Assim, ao passo que os hindus veneram abertamente milhões de deuses, a maioria reconhece a existência de apenas um único Deus verdadeiro, que pode assumir muitas formas: varão, mulher, ou até mesmo animal. Por conseguinte, os peritos hindus frisam prontamente que o hinduísmo é realmente monoteísta, não politeísta. O pensamento védico posterior, contudo, descarta o conceito de um ser supremo, substituindo-o por um impessoal princípio ou realidade divina.
30. Quais são alguns dos avatares de Vixenu?
30 Vixenu, uma benevolente deidade solar e cósmica, é o centro da adoração para os seguidores do vaixnavismo. Ele aparece sob dez avatares, ou encarnações, incluindo Rama, Críxena e o Buda.c Outro avatar é Vixenu Naraiana, “representado em forma humana adormecido sobre a serpente enrolada Xexa ou Ananta, flutuando nas águas cósmicas com sua esposa, a deusa Lacximi, sentada a seus pés ao passo que o deus Brama surge de um loto que cresce do umbigo de Vixenu”. — Enciclopédia de Crenças do Mundo (em inglês).
31. Que tipo de deus é Xiva?
31 Xiva, também comumente chamado de Mahexa (Supremo Senhor) e Maadeva (Grande Deus), é o segundo maior deus do hinduísmo, e a adoração que lhe é prestada chama-se xivaísmo. Ele é descrito como “o grande asceta, o mestre iogue sentado, mergulhado na meditação nas encostas do Himalaia, com o corpo besuntado de cinzas e a cabeça coberta de cabelo emaranhado”. É também conhecido “por seu erotismo, como originador da fertilidade e supremo senhor da criação, Maadeva”. (Enciclopédia de Crenças do Mundo) Adora-se a Xiva por meio do linga, ou representação fálica. — Veja fotos, página 99.
32. (a) Que formas assume a deusa Cali? (b) De que modo uma palavra portuguesa se derivou da adoração de Cali?
32 Como muitas outras religiões do mundo, o hinduísmo tem a sua deusa suprema, que pode tanto ser atraente como aterradora. Em sua forma mais agradável ela é conhecida como Parvati e Uma. Seu gênio temível é mostrado como Durga ou Cali, uma deusa sanguinária que se deleita em sacrifícios de sangue. Como Deusa-Mãe, Cali Ma (Negra Mãe-Terra), ela é a deidade principal da seita Sacti. É retratada nua até os quadris e usando como adornos cadáveres, cobras e caveiras. No passado, vítimas humanas estranguladas eram oferecidas a ela por crentes conhecidos como tug, de onde vem a palavra portuguesa “tugue”.
O Hinduísmo e o Rio Ganges
33. Por que o Ganges é sagrado para os hindus?
33 Não podemos falar do panteão de deuses do hinduísmo sem mencionar seu rio mais sagrado — o Ganges. Grande parte da mitologia hindu relaciona-se diretamente com o rio Ganges, ou Gangá Ma (Mãe Gangá), como os devotos hindus o chamam. (Veja mapa, página 123.) Eles recitam uma oração que inclui 108 diferentes nomes para o rio. Por que é o Ganges tão reverenciado pelos hindus sinceros? Por ser tão intimamente ligado à sua sobrevivência diária e à sua antiga mitologia. Eles crêem que o rio existia antes no céu qual Via-Láctea. Mas como é que se transformou num rio?
34. Segundo a mitologia hindu, qual é uma das explicações sobre como o rio Ganges veio a existir?
34 Com algumas variações, a maioria dos hindus explicaria isso da seguinte maneira: O Marajá Sagara tinha 60.000 filhos que foram mortos pelo fogo de Capila, uma manifestação de Vixenu. Suas almas estavam condenadas ao inferno, a menos que a deusa Gangá descesse do céu para purificá-los e livrá-los da maldição. Bagirati, bisneto de Sagara, intercedeu junto a Brama para que este permitisse que a sagrada Gangá descesse à terra. Certo relato continua: “Gangá respondeu: ‘Sou uma torrente tão poderosa que abalaria as fundações da terra.’ De modo que [Bagirati], depois de fazer penitência por mil anos, recorreu ao deus Xiva, o maior de todos os ascetas, e persuadiu-o a se posicionar alto acima da terra em meio às rochas e o gelo do Himalaia. Xiva tinha cabelos emaranhados alto na sua cabeça, e ele permitiu a Gangá que se arremessasse do céu para dentro de seus cachos, que brandamente absorveram o choque ameaçador à terra. Daí Gangá escoou suavemente para a terra e fluiu das montanhas e através das planícies, trazendo água e, por conseguinte, vida para a terra seca.” — Do Oceano Para o Céu (em inglês), de Sir Edmund Hillary.
35. Como é que os seguidores de Vixenu explicam a existência do rio?
35 Os seguidores de Vixenu têm uma versão um pouco diferente sobre a origem do Ganges. Segundo um texto antigo, o Vixenu Purana, a sua versão é:
“Dessa região [o assento sagrado de Vixenu] procede o rio Ganges, que remove todos os pecados . . . Emana da unha do dedão do pé esquerdo de Vixenu.”
Ou, como dizem os seguidores de Vixenu, em sânscrito: “Visnu-padabja-sambhuta”, que significa “Nascido do pé, semelhante ao loto, de Vixenu”.
36. O que crêem os hindus a respeito do poder das águas do Ganges?
36 Os hindus crêem que o Ganges tem o poder de libertar, purificar, limpar e curar os crentes. O Vixenu Purana declara:
“Os santos, que são purificados por se banharem nas águas deste rio, e cujas mentes estejam devotadas a Quesava [Vixenu], obtêm a libertação final. O rio sagrado, ouvindo-se dele falar, ao ser desejado, visto, tocado, ao se banhar nele, ou ao se cantar hinos por ele, dia a dia purifica todos os seres. E aqueles que mesmo vivendo à distância . . . exclamarem ‘Gangá e Gangá’ serão libertados dos pecados cometidos durante as três existências prévias.”
O Bramadapurana diz:
“Quanto aos que se banham devotamente uma vez nas puras correntes do Gangá, suas tribos são protegidas por Ela contra centenas de milhares de perigos. Males acumulados durante gerações são destruídos. Simplesmente por banhar-se no Gangá a pessoa é imediatamente purificada.”
37, 38. Por que milhões de hindus acorrem ao Ganges?
37 Os indianos acorrem ao rio para realizar a puja, ou adoração, oferecendo flores, salmodiando orações e recebendo dum sacerdote o tilaque, a manchinha de pasta vermelha ou amarela na testa. Daí eles entram na água para se banhar. Muitos também bebem a água, embora seja altamente poluída por esgotos, substâncias químicas e cadáveres. Mas, tão grande é a atração espiritual do Ganges que milhões de indianos almejam banhar-se pelo menos uma vez no seu ‘rio santo’, poluído ou não.
38 Outros trazem os corpos de seus entes queridos para serem cremados em piras na margem do rio, e daí talvez as cinzas sejam lançadas no rio. Eles crêem que isso garante a felicidade eterna para a alma que partiu. Os muito pobres para pagar uma pira funerária simplesmente lançam no rio o corpo coberto, onde é atacado por aves necrófagas, ou simplesmente se decompõe. Isto nos leva à pergunta: Além do que já consideramos, o que ensina o hinduísmo sobre a vida após a morte?
Hinduísmo e a Alma
39, 40. O que disse certo comentarista hindu a respeito da alma?
39 A Bagavat Gita nos dá uma resposta, dizendo:
“Assim como a alma incorporada continuamente passa, neste corpo, da meninice à juventude, e daí à velhice, a alma similarmente passa para outro corpo, na morte.” — Capítulo 2, texto 13, em inglês.
40 Certo comentário hindu sobre esse texto diz: “Visto que toda entidade viva é uma alma individual, todas elas estão mudando seu corpo a todo o momento, manifestando-se às vezes como criança, às vezes como jovem e às vezes como homem idoso — embora a mesma alma espiritual esteja presente e não passe por nenhuma mudança. Esta alma individual por fim muda o próprio corpo, ao transmigrar de um para outro, e visto ser certo que terá outro corpo no próximo nascimento — quer material, quer espiritual — não havia razão para lamentação da parte de Arjuna por causa da morte.”
41. Segundo a Bíblia, que distinção a respeito da alma tem de ser feita?
41 Note que o comentário diz que “toda entidade vivente é uma alma individual”. Essa declaração concorda com o que a Bíblia diz em Gênesis 2:7:
“E Jeová Deus passou a formar o homem do pó do solo e a soprar em suas narinas o fôlego de vida, e o homem veio a ser uma alma vivente.”
Mas, deve-se fazer uma importante distinção: Constitui-se o homem de uma alma vivente com todas as suas funções e faculdades, ou será que ele tem uma alma à parte de suas funções corporais? É o homem uma alma, ou tem ele uma alma? A seguinte citação clarifica o conceito hindu.
42. De que modo o hinduísmo e a Bíblia diferem quanto ao entendimento do que é a alma?
42 O capítulo 2, texto 17, do Bagavat Gita diz:
“O que permeia o inteiro corpo é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a imperecível alma.”
Esse texto é então explicado:
“Todo e qualquer corpo contém uma alma individual, e o sintoma da presença da alma é percebido na forma de estado de consciência individual.”
Portanto, ao passo que a Bíblia diz que o homem é uma alma, o ensino hindu declara que ele tem uma alma. E há uma colossal diferença aqui, que afeta profundamente os ensinos que são uma conseqüência desses pontos de vista. — Levítico 24:17, 18.
43. (a) Qual é a origem do ensino da alma imortal? (b) Quais são as suas conseqüências?
43 O ensino da alma imortal é, em última análise, tirado do antigo reservatório estagnado de conhecimento religioso de Babilônia. Tal ensino logicamente leva às conseqüências da ‘vida após a morte’, apresentadas nos ensinos de tantas religiões — reencarnação, céu, inferno, purgatório, limbo, e assim por diante. Para os hindus, céu e inferno são lugares de espera intermediários antes que a alma obtenha a reencarnação seguinte. De interesse especial é o conceito hindu do inferno.
Ensino Hindu do Inferno
44. Como sabemos que o hinduísmo ensina que existe um inferno de tormento consciente?
44 Um texto do Bagavat Gita diz:
“Quando as leis da família são destruídas, Janardana, então o que certamente para os homens resulta é morar no inferno.” — I. 44, Harvard Oriental Series, Vol. 38, 1952.
Um comentário diz: “Os que são muito pecaminosos na sua vida terrestre têm de sofrer diferentes tipos de punição em planetas infernais.” No entanto, difere um pouco do tormento eterno no fogo do inferno da cristandade: “Essa punição . . . não é eterna.” Então, o que é exatamente o inferno hindu?
45. De que modo são descritos os tormentos do inferno hindu?
45 O seguinte é uma descrição do destino de um pecador, extraída do Marcandeia Purana:
“Daí os emissários de Iama [deus dos mortos] rapidamente amarram-no com laços horríveis e arrastam-no para o sul, trêmulo por causa do golpe de vara. Daí ele é arrastado pelos emissários de Iama, emitindo gritos medonhos e nefastos, através de terrenos escabrosos com Cusa [uma planta], espinhos, formigueiros, alfinetes e pedras, com chamas acesas em alguns pontos, cheios de buracos, escaldantes com o calor do sol e queimando com seus raios. Arrastado pelos pavorosos emissários e devorado por centenas de chacais, o pecador vai à casa de Iama através de uma temível passagem. . . .
“Quando seu corpo é queimado ele sente uma grande sensação abrasadora; e quando seu corpo é espancado ou cortado ele sente grande dor.
“Seu corpo sendo assim destruído, a criatura, embora entre num outro corpo, sofre aflição eterna por causa de suas próprias ações adversas. . . .
“Daí, para ter seus pecados lavados, ele é levado para outro de tal inferno. Depois de percorrer todos os infernos, o pecador assume uma vida animalesca. Daí, passando pela vida de vermes, insetos e moscas, animais de rapina, mosquitos, elefantes, árvores, cavalos, vacas, e através de diversas outras vidas pecaminosas e miseráveis, ele, chegando à raça de homens, nasce corcunda, feio, anão ou Chandala Pucasa.”
46, 47. O que diz a Bíblia sobre a condição dos mortos, e que conclusões podemos tirar?
46 Compare isso com o que a Bíblia diz a respeito dos mortos:
“Pois os viventes estão cônscios de que morrerão; os mortos, porém, não estão cônscios de absolutamente nada, nem têm mais salário, porque a recordação deles foi esquecida. Também seu amor, e seu ódio, e seu ciúme já pereceram, e por tempo indefinido eles não têm mais parte em nada do que se tem de fazer debaixo do sol. Tudo o que a tua mão achar para fazer, faze-o com o próprio poder que tens, pois não há trabalho, nem planejamento, nem conhecimento, nem sabedoria no Seol, o lugar para onde vais.” — Eclesiastes 9:5, 6, 10.
47 Naturalmente, se, como diz a Bíblia, o homem não tem uma alma mas é uma alma, então não há existência consciente após a morte. Não há bem-aventurança e não há sofrimento. Todas as complicações ilógicas do “além” desaparecem.d
O Rival do Hinduísmo
48, 49. (a) Em suma, quais são alguns dos ensinos hindus? (b) Por que alguns têm questionado a validade do hinduísmo? (c) Quem surgiu como desafiante do pensamento hindu?
48 Esta forçosamente breve consideração do hinduísmo mostrou que se trata de uma religião de politeísmo baseada no monoteísmo — a crença em Brâmane, o Ser, a fonte ou a essência suprema, simbolizado pelas sílabas OM ou AUM, e de muitas facetas ou manifestações. É também uma religião que ensina a tolerância e incentiva a bondade para com os animais.
49 Por outro lado, alguns elementos do ensino hindu, tais como o carma e as injustiças do sistema de castas, junto com a idolatria e as contradições nos mitos, têm levado algumas pessoas refletidas a questionar a validade dessa fé. Um dos questionadores surgiu no noroeste da Índia por volta do ano 560 AEC. Era Sidarta Gautama. Ele fundou uma nova fé que não prosperou na Índia, não obstante, floresceu em outras partes, como explicará o nosso próximo capítulo. Essa nova fé era o budismo.
[Nota(s) de rodapé]
a O nome hinduísmo é de invenção européia.
b Em sânscrito, “alma” muitas vezes é a tradução de atma, ou atman, mas “espírito” é uma tradução mais exata. — Veja Dicionário de Hinduísmo — Sua Mitologia, Folclore e Desenvolvimento 1500 AC-1500 AD, página 31, e o folheto Vitória Sobre a Morte — É Possível Para Você?, publicado pela Sociedade Torre de Vigia em 1986 (ambos em inglês).
c Um décimo e futuro avatar é o de Calqui Avatara “retratado como jovem magnífico cavalgando num grande cavalo branco com uma espada semelhante a um meteoro fazendo chover morte e destruição por todos os lados”. “A sua vinda restabelecerá a justiça na terra, e a volta de uma era de pureza e inocência.” — Religiões da Índia; Dicionário do Hinduísmo (ambos em inglês). — Veja Revelação 19:11-16.
d O ensino bíblico da ressurreição dos mortos nada tem a ver com a doutrina da alma imortal. Veja o capítulo 10.
[Foto na página 96]
Ganesa, o deus hindu da boa sorte, de cabeça de elefante, filho de Xiva e Parvati.
[Fotos na página 99]
Lingas (símbolos fálicos) venerados pelos hindus.
Xiva (deus da fertilidade) está dentro de um linga e em volta de outro tem quatro cabeças.
[Foto na página 108]
Monjas jainistas usando o mukha-vastrica, ou bocal, que impede que insetos entrem e sejam mortos.
[Foto na página 115]
Adoração da cobra, praticada principal- mente em Bengala.
Manasa é a deusa das cobras.
[Foto na página 118]
Vixenu, com sua esposa Lacximi, sobre uma serpente enrolada, de nome Ananta, com Brama, de quatro cabeças, sobre um loto que cresce do umbigo de Vixenu.
[Fotos/Mapa na página 123]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
O Ganges percorre mais de 2.400 quilômetros, dos Himalaias até Calcutá e seu delta, em Bangladesh.
ÍNDIA
Calcutá
Rio Ganges
[Fotos]
Gangá Ma, no alto da cabeça de Xiva, desce através de seu cabelo.
Hindus devotos numa gat (escada), banhando-se no Ganges em Varanasi, ou Benares.
[Fotos/Quadro nas páginas 100 e 101]
Siquismo — Uma Religião de Reforma
O siquismo, simbolizado por três espadas e um círculo, é a religião de mais de 17 milhões de pessoas. A maioria delas vive no Punjab. O Templo Dourado Sique, que fica no meio de um lago artificial, localiza-se em Amritsar, a cidade santa sique. Os homens siques são facilmente reconhecidos por seus turbantes azuis, brancos ou pretos, o uso dos quais é parte essencial de sua prática religiosa, como também o é usar cabelos longos.
A palavra hindi sique significa “discípulo”. Os siques são discípulos de seu fundador, o guru Nanaque, e seguidores dos ensinos dos dez gurus (Nanaque e nove sucessores) cujos escritos estão no livro sagrado sique, o Guru Granth Sahib. Essa religião começou no início do século 16, quando o guru Nanaque quis extrair o melhor do hinduísmo e do islamismo e formar uma religião unificada.
A missão de Nanaque pode ser declarada numa única sentença: “Existe um único Deus, e Ele é nosso Pai; portanto, todos temos de ser irmãos.” Como os muçulmanos, os siques crêem num único Deus e proíbem o uso de ídolos. (Salmo 115:4-9; Mateus 23:8, 9) Eles seguem a tradição hindu de crer numa alma imortal, na reencarnação e no carma. O local de adoração sique chama-se gurdwara. — Compare com Salmo 103:12, 13; Atos 24:15.
Um dos grandes mandamentos do guru Nanaque era: “Lembre-se sempre de Deus, repita Seu nome.” Fala-se de Deus como o “Verdadeiro”, mas não se lhe dá nome. (Salmo 83:16-18) Outro mandamento era: “Partilha o que ganhas com os menos afortunados.” Concordemente, existe uma langar, ou cozinha livre, em todos os templos siques, onde qualquer pessoa pode comer gratuitamente. Há até mesmo acomodações grátis para viajantes pernoitarem. — Tiago 2:14-17.
O último guru, Gobind Singh (1666-1708), estabeleceu uma fraternidade de siques chamada Khalsa, que segue o que são conhecidos como os cinco “K”s, que são: kesh, cabelo não cortado, simbolizando espiritualidade; kangha, pente no cabelo, simbolizando ordem e disciplina; kirpan, espada, significando dignidade, coragem e abnegação; kara, bracelete de aço, simbolizando união com Deus; kachh, uma espécie de calção como roupa de baixo, implicando modéstia e usada para simbolizar refreamento moral. — Veja Enciclopédia de Crenças do Mundo, página 269, em inglês.
[Foto]
Templo Dourado dos siques, Amritsar, Punjab, Índia.
[Fotos]
O turbante azul significa uma mente tão ampla como o céu, sem lugar para preconceito.
O turbante branco significa uma pessoa santa levando uma vida exemplar.
O turbante preto é uma lembrança da perseguição britânica contra os siques em 1919.
Outras cores são uma questão de gosto.
[Foto]
Em cerimonial, um sacerdote sique relata a história de armas sagradas.
[Fotos/Quadro na página 104]
Jainismo — Abnegação e Não-Violência
Esta religião, com seu antigo símbolo suástico indiano, foi fundada no sexto século AEC pelo rico príncipe indiano Nataputa Vardamana, mais conhecido como Vardamana Maavira (título que significa “Grande Homem” ou “Grande Herói”). Ele voltou-se para uma vida de abnegação e ascetismo. Saiu nu em busca de conhecimento “pelas aldeias e planícies da Índia central à procura da libertação do ciclo do nascimento, morte e renascimento”. (Man’s Religions [As Religiões do Homem], de John B. Noss) Ele cria que a salvação da alma somente poderia ser conseguida através de extrema abnegação e autodisciplina e uma rígida aplicação do ainsa, a não-violência para com todas as criaturas. Levou o ainsa ao extremo, portando uma vassoura macia com a qual poderia brandamente afastar quaisquer insetos que cruzassem o seu caminho. Seu respeito à vida visava também proteger a pureza e a integridade de sua própria alma.
Seus seguidores atuais, no empenho de melhorar seu carma, levam uma vida similar de abnegação e respeito para com todas as outras criaturas. Vê-se mais uma vez quão poderoso é o efeito que a crença na imortalidade da alma humana tem sobre a vida humana.
Hoje há menos de quatro milhões de crentes dessa fé, e a maioria se encontra nas regiões de Bombaim e Gujarate, na Índia.
[Foto]
Jainista adorando aos pés da imagem de 17 metros do santo Gomatesvara, em Carnataca, Índia.
[Fotos/Quadro nas páginas 106, 107]
Guia Básico de Termos Hindus
ainsa (sânscrito, ahinsa) — não violência; não ferir nem matar nada. Base para o vegetarianismo hindu e o respeito aos animais.
asram — santuário ou lugar em que um guru (guia espiritual) ensina.
atmã — espírito; associado com o que é imortal. Muitas vezes traduzido erroneamente por alma. Veja jiva.
avatar — manifestação ou encarnação de uma deidade hindu.
bacti — devoção a uma deidade que leva à salvação.
bindi — manchinha vermelha que as mulheres casadas usam na testa.
Brâmane — o nível sacerdotal e mais elevado do sistema de castas; também a Derradeira Realidade. Veja a página 116.
carma — o princípio de que toda ação tem suas conseqüências positivas ou negativas para a vida seguinte da alma transmigrada.
darma — a derradeira lei de todas as coisas; o que determina a correção e o desacerto dos atos.
gat — escada ou plataforma junto a um rio.
guru — mestre ou guia espiritual.
harijã — membro da casta dos intocáveis; significa “povo de Deus”, nome compassivo que lhes foi dado por Mahatma Gandhi.
ioga — da raiz yuj, que significa juntar-se ou jungir; envolve a junção da pessoa ao ser divino universal. Popularmente conhecida como disciplina de meditação envolvendo a postura e o controle da respiração. O hinduísmo reconhece pelo menos quatro Iogas principais, ou caminhos. Veja página 110.
japa — adoração de Deus pela repetição de um de seus nomes; usa-se um mala, ou rosário, de 108 contas, para controlar a contagem.
jiva (ou pran, prani) — a alma ou o ser pessoal.
maant — homem ou mestre santo.
maatma — santo hindu, de maa, elevado ou grande, e atmã, espírito.
maia — o mundo como ilusão.
mantra — fórmula sagrada, que se crê ter poder mágico, usada na iniciação a uma seita e repetida em orações e encantamentos.
mocsa, ou mucti — libertação do ciclo de renascimentos; o fim da jornada da alma. Também conhecido como Nirvana, a união do indivíduo com a Entidade Suprema, Brâmane.
OM, AUM — palavra-símbolo representando Brâmane, usada para meditação; som considerado como sendo a vibração mística; usada como mantra sagrada.
paramatmã — O Espírito-Mundo, o universal atmã, ou Brâmane.
puja — adoração.
Sacti — o poder feminino ou a esposa de um deus, especialmente a consorte de Xiva.
sadu — homem santo; asceta ou iogue.
samsara — transmigração de uma alma eterna, imperecível.
srada — importantes rituais conduzidos para honrar ancestrais e ajudar almas que partiram a atingir a mocsa.
suami — mestre ou nível mais elevado de guia espiritual.
sudra — trabalhador, a mais baixa das quatro principais castas.
tilaque — uma marca na testa que simboliza a retenção da memória do Senhor em todas as suas atividades.
Trimúrti — tríade hindu composta de Brama, Vixenu e Xiva.
Upanichades — primitivos escritos sagrados poéticos do hinduísmo. Também conhecidos como Vedanta, o fim dos Vedas.
vaixá — classe dos mercadores e fazendeiros; terceiro grupo no sistema de castas.
Vedas — primitivos escritos poéticos sagrados do hinduísmo.
xátria — a classe profissional, governante e guerreira, e o segundo nível no sistema de castas.
[Fotos]
A partir da esquerda: maant hindu; sadu, em postura de meditação; guru do Nepal.
[Foto/Quadro na página 113]
Mahatma Gandhi e o Sistema de Castas
“A não-violência é o primeiro artigo da minha fé. É também o último artigo do meu credo.” — Mahatma Gandhi, 23 de março de 1922.
Mahatma Gandhi, famoso por sua liderança não violenta em ajudar a conseguir a independência da Índia da Grã-Bretanha (concedida em 1947), também fez campanha para melhorar a sorte de milhões de co-hindus. Como explica o professor indiano M. P. Rege: “Ele proclamou o ainsa (não-violência) como valor moral fundamental, que interpretava como preocupação pela dignidade e bem-estar de toda pessoa. Ele negava a autoridade das escrituras hindus quando o ensino destas era contrário ao ainsa, lutou bravamente pela erradicação da intocabilidade e o hierárquico sistema de castas, e promoveu a igualdade das mulheres em todas as esferas da vida.”
Qual era o conceito de Gandhi a respeito da sorte dos intocáveis? Numa carta a Jawaharlal Nehru, de 2 de maio de 1933, ele escreveu: “O movimento harijã é grande demais para mero empenho intelectual. Não existe nada tão mau no mundo. E, no entanto, eu não posso deixar a religião e, por conseguinte, o hinduísmo. Minha vida seria uma carga para mim se o hinduísmo me traísse. Amo o cristianismo, o islamismo e muitas outras fés através do hinduísmo. . . . Mas não posso tolerá-lo com intocabilidade.” — The Essential Gandhi (Fundamentos de Gandhi).
[Foto]
Mahatma Gandhi (1869-1948), reverenciado líder hindu e mestre do ainsa.
[Fotos/Quadro nas páginas 116, 117]
Hinduísmo — Alguns Deuses e Deusas
Aditi — mãe dos deuses; deusa-céu; o Infinito.
Agni — deus do fogo.
Brama — O Deus Criador, o princípio da criação no universo. Um dos deuses da Trimúrti (trindade).
Brâmane, ou Brâmine — o Supremo, entidade todo-presente no universo, representada pelo som OM ou AUM. (Veja símbolo acima.) Também conhecido como Atmã. Alguns hindus consideram Brâmane como um Princípio Divino impessoal, ou Derradeira Realidade.
Buda — Gautama, fundador do budismo; os hindus o consideram como uma encarnação (avatar) de Vixenu.
Cali — Consorte negra de Xiva (Sacti) e sanguinária deusa da destruição. Muitas vezes representada com grande língua vermelha de fora.
Críxena — a brincalhona oitava encarnação de Vixenu e a deidade da Bagavat Gita. Suas amantes eram as gopis, ou ordenhadoras.
Durga — esposa ou Sacti de Xiva e identificada com Cali.
Ganesa (Ganexa) — Filho-deus de cabeça de elefante, de Xiva, e Senhor dos Obstáculos, deus da boa sorte. Também chamado Ganapati e Gajanana.
Gangá — deusa, uma das esposas de Xiva, e personificação do rio Ganges.
Hanumã — deus-macaco e devoto seguidor de Rama.
Himalaia — morada da neve, pai de Parvati.
Lacximi — deusa da beleza e da boa sorte; consorte de Vixenu.
Manasa — deusa das cobras.
Manu — ancestral da raça humana; salvo da destruição no dilúvio por um grande peixe.
Mitra — deus da luz. Conhecido como Mitras pelos romanos.
Nandi — o touro, veículo ou meio de transporte de Xiva.
Nataraja — Xiva em posição de dança, rodeado de um anel de chamas.
Parvati ou Uma — deusa consorte de Xiva. Assume também a forma da deusa Durga ou Cali.
Prajapati — Criador do universo, Senhor das Criaturas, pai dos deuses, demônios e todas as outras criaturas. Mais tarde conhecido como Brama.
Puruxa — homem cósmico. As quatro principais castas foram feitas de seu corpo.
Rada — consorte de Críxena.
Rama, Ramachandra — a sétima encarnação do deus Vixenu. A narrativa épica Ramaiana conta a história de Rama e sua esposa Sitá.
Sarasváti — deusa do conhecimento e consorte de Brama, o Criador.
Soma — tanto deus como remédio; o elixir da vida.
Vixenu — deus preservador da vida; terceiro membro da Trimúrti.
Xaxti — deusa que protege mulheres e crianças no parto.
Xiva — deus da fertilidade, morte e destruição; membro da Trimúrti. Simbolizado pelo tridente e pelo falo.
(Baseado na listagem em Mythology—An Illustrated Encyclopedia.)
[Fotos]
A partir da esquerda no alto, no sentido horário, Nataraja (dançante Xiva), Sarasváti, Críxena, Durga (Cali).
[Quadro na página 110]
Quatro Caminhos à Mocsa
A fé hindu oferece pelo menos quatro caminhos para se alcançar a mocsa, ou libertação da alma. Estes são conhecidos como iogas ou margas, caminhos à mocsa.
1. Carma Ioga — “O caminho da ação, ou carma ioga, a disciplina da ação. Basicamente, carma marga significa realizar o darma da pessoa segundo seu lugar na vida. Certos deveres são exigidos de todas as pessoas, tais como o ainsa e a abstenção do álcool e da carne, mas o darma específico de cada indivíduo depende da casta e do estágio de vida dessa pessoa.” — Great Asian Religions (Grandes Religiões Asiáticas).
Este carma se realiza estritamente dentro das limitações da casta. A pureza da casta é mantida por não se casar e nem comer fora da casta da pessoa, que foi determinada pelo carma da pessoa numa existência prévia. Por conseguinte, a casta da pessoa não é encarada como injustiça, mas sim como legado duma encarnação prévia. Na filosofia hindu os homens e as mulheres não são todos iguais. São divididos por casta e por sexo e, efetivamente, por cor. Usualmente, quanto mais clara a pele, tanto mais elevada a casta.
2. Janana Ioga — “O caminho do conhecimento, ou janana ioga, a disciplina do conhecimento. Em contraste com o caminho da ação, o carma marga, com seus deveres prescritos para toda a ocasião na vida, o janana marga provê um caminho filosófico e psicológico para conhecer o eu e o universo. Ser, não fazer, é a chave para o janana marga. [O grifo é nosso.] O que é mais importante, este caminho possibilita a seus praticantes conseguirem a mocsa nesta vida.” (Grandes Religiões Asiáticas) Envolve ioga introspectiva, isolar-se do mundo e a prática da austeridade. É a expressão do autocontrole e da abnegação.
3. Bacti Ioga — “A mais popular forma de tradição hindu hoje. É o caminho da devoção, o bacti marga. Em contraste com o carma marga . . . este caminho é mais fácil, mais espontâneo, e pode ser seguido por pessoas de qualquer casta, sexo ou idade. . . . Permite que as emoções e os desejos humanos fluam livremente, em vez de serem sobrepujados pelo ascetismo iogue . . . Consiste exclusivamente da devoção a seres divinos.” E tradicionalmente há 330 milhões deles a venerar. Segundo essa tradição, conhecer é amar. De fato, bacti significa “apego emocional ao deus escolhido”. — Grandes Religiões Asiáticas.
4. Raja Ioga — Um método de “posturas especiais, métodos de respiração e repetição rítmica das adequadas fórmulas de pensamento”. (Man’s Religions [As Religiões do Homem]) Tem oito passos.
[Quadro na página 120]
Lenda Hindu do Dilúvio
“De manhã eles trouxeram a Manu [ancestral da humanidade e primeiro legislador] água para lavar-se . . . Quando ele se lavava, um peixe [Vixenu em sua encarnação como Matsia] veio parar nas suas mãos.
“O peixe falou-lhe: ‘Cria-me, eu te salvarei!’ ‘Do que me salvarás?’ ‘Um dilúvio eliminará todas essas criaturas: disto eu te salvarei!’ ‘Como devo criar-te?’”
O peixe instruiu Manu sobre como cuidar dele. “Daí, ele disse: ‘Em tal ano virá esse dilúvio. Deverás então acatar (meu conselho) por preparar um navio; e quando o dilúvio subir, deverás entrar no navio, e eu te salvarei dele.’”
Manu seguiu as instruções do peixe e, no dilúvio, o peixe arrastou o navio para “uma montanha ao norte. Daí disse: ‘Eu te salvei. Amarra o navio a uma árvore; mas não permita que a água te elimine, enquanto estiveres na montanha. Quando a água baixar, podes gradativamente descer!’” — Satapata- Bramana; compare com Gênesis 6:9-8:22.