Capítulo 6
Budismo — uma busca de iluminação sem Deus
1. (a) De que modo o budismo se manifestou na sociedade ocidental? (b) Quais são as causas desse desenvolvimento ocidental?
POUCO conhecido fora da Ásia na virada do século 20, o budismo hoje assumiu o papel de religião universal. De fato, muitos no Ocidente admiram-se de ver o budismo vicejar ali mesmo em sua própria comunidade. Grande parte disso resulta do movimento internacional de refugiados. Comunidades asiáticas consideravelmente grandes se estabeleceram na Europa Ocidental, na América do Norte, na Austrália e em outros lugares. À medida que cada vez mais imigrantes fincam raízes em um novo país, eles também trazem consigo a sua religião. Ao mesmo tempo, mais pessoas no Ocidente se deparam com o budismo pela primeira vez. Isto, somado à permissividade e ao declínio espiritual nas igrejas tradicionais, têm feito com que alguns se convertessem à “nova” religião. — 2 Timóteo 3:1, 5.
2. Onde se encontram hoje seguidores do budismo?
2 De acordo com um estudo realizado em 2010 pelo Pew Research Center, há quase 500 milhões de budistas em todo o mundo, e a grande maioria deles vive em países asiáticos, como China, Coreia do Sul, Japão, Mianmar (Burma), Sri Lanka e Tailândia . Apenas na China, cerca de 250 milhões de pessoas afirmam ser budistas. Como se iniciou essa religião? Quais são os ensinos e as práticas do budismo?
Uma Questão de Fonte Confiável
3. Que fonte de matéria se dispõe a respeito da vida do Buda?
3 “O que se conhece da vida de Buda baseia-se principalmente na evidência dos textos canônicos, sendo que os mais extensos e abrangentes são os escritos em páli, uma língua da antiga Índia”, diz o livro World Religions—From Ancient History to the Present (Religiões do Mundo — Da História Antiga ao Presente). O que isso significa é que não existe fonte de matéria de seu tempo que nos diga algo sobre Sidarta Gautama, o fundador dessa religião, que viveu no norte da Índia no sexto século AEC. Isto, naturalmente, representa um problema. Mas, ainda mais importante é a pergunta: Quando e como foram produzidos os “textos canônicos”?
4. Como foi o autêntico ensino do Buda preservado de início?
4 A tradição budista afirma que logo após a morte de Gautama, convocou-se um concílio de 500 monges para decidir qual era o autêntico ensino do Mestre. Se tal concílio realmente aconteceu é tema de muito debate entre peritos e historiadores budistas. O ponto importante que devemos notar, porém, é que mesmo textos budistas reconhecem que aquilo que se decidiu ser o ensino autêntico não foi assentado por escrito, mas sim memorizado pelos discípulos. A escrita efetiva dos textos sagrados teve de esperar um bom tempo.
5. Quando é que os textos em páli foram assentados por escrito?
5 Segundo certas crônicas cingalesas do quarto e sexto séculos EC, os mais antigos desses “textos canônicos” em páli foram assentados por escrito durante o reinado do rei Vatagamani Abhaia, do primeiro século AEC. Outros relatos da vida de Buda não apareceram por escrito antes talvez do primeiro ou mesmo quinto século EC, cerca de mil anos depois de seu tempo.
6. Que críticas há contra os “textos canônicos”? (Veja 2 Timóteo 3:16, 17.)
6 Assim, diz o Abingdon Dictionary of Living Religions (Dicionário Abingdon de Religiões Vivas): “As ‘biografias’ são tanto tardias em origem como repletas de matéria lendária e mítica, e os mais antigos textos canônicos são produtos de um longo processo de transmissão oral que evidentemente incluiu revisões e muita adição.” Certo perito até mesmo “sustentou que nem uma única palavra do ensino registrado pode ser atribuída com insofismável certeza ao próprio Gautama”. Justificam-se tais críticas?
A Concepção e o Nascimento do Buda
7. Segundo os textos budistas, como foi que a mãe do Buda o concebeu?
7 Considere os seguintes excertos de Jataca, parte do cânon em páli, e Buda-charita, um texto em sânscrito do segundo século EC sobre a vida do Buda. Primeiro, o relato de como a mãe do Buda, rainha Maha-Maia, veio a concebê-lo num sonho.
“Os quatro anjos-da-guarda vieram e ergueram-na, junto com o seu leito, e levaram-na aos contrafortes do Himalaia. . . . Daí vieram as esposas desses anjos-da-guarda, e conduziram-na ao lago Anotata, e banharam-na, para remover toda impureza humana. . . . Não longe dali ficava a Montanha de Prata, e nela uma mansão dourada. Colocaram ali um leito divino com a cabeceira voltada para o oriente, e deitaram-na nele. Neste ponto o futuro Buda se havia tornado um esplêndido elefante branco . . . Ele subiu a Montanha de Prata e . . . rodeou três vezes o leito de sua mãe, com seu lado direito virado para o leito, e golpeando-a em seu lado direito, parecia entrar no ventre dela. Assim ocorreu a concepção na festividade do solstício de verão.”
8. O que foi predito com respeito ao futuro do Buda?
8 Quando a rainha contou o sonho a seu marido, o rei, ele convocou 64 eminentes sacerdotes hindus, alimentou-os e vestiu-os, e pediu uma interpretação. Esta foi a resposta deles:
“Não te aflijas, grande rei! . . . Terás um filho. E ele, se continuar a levar a vida caseira, tornar-se-á um monarca universal; mas, se ele abandonar a vida caseira e se retirar do mundo, se tornará um Buda, e afastará as nuvens do pecado e da tolice deste mundo.”
9. Que extraordinários eventos alegadamente aconteceram após o pronunciamento a respeito do futuro do Buda?
9 Depois disso, ocorreram alegadamente 32 milagres:
“Todos os dez mil mundos subitamente tremeram, estremeceram e se sacudiram. . . . Os fogos se extinguiram em todos os infernos; . . . acabaram-se as doenças entre os homens; . . . todos os instrumentos musicais emitiram seus tons sem serem tocados; . . . no poderoso oceano a água tornou-se doce; . . . os inteiros dez mil mundos viraram uma só massa de grinaldas da mais alta magnificência possível.”
10. De que modo os textos budistas sagrados descrevem o nascimento do Buda?
10 Daí ocorreu o incomum nascimento do Buda num jardim de árvores-sal chamado Bosque Lumbini. Quando a rainha desejou deitar mão num ramo da mais alta árvore-sal do bosque, a árvore anuiu por inclinar-se ao seu alcance. Segurando o ramo e em pé, ela deu à luz.
“Ele saiu do ventre de sua mãe como um pregador que desce do púlpito, ou como um homem que desce uma escadaria, estirando as mãos e os pés, livre de qualquer impureza do ventre de sua mãe. . . . ”
“Assim que nasce, o [futuro Buda] planta firmemente os pés rente ao chão, dá sete passos para o norte, com uma capota branca acima da cabeça, e inspeciona todos os quadrantes do mundo, exclamando em tom inigualável: No mundo todo eu sou chefe, o melhor e o mais destacado; este é meu último nascimento; jamais nascerei de novo.”
11. A que conclusão chegaram alguns peritos sobre os relatos da vida do Buda conforme encontrados nos textos sagrados?
11 Há também histórias igualmente minuciosas sobre sua infância, seus encontros com jovens admiradoras, suas peregrinações e praticamente todos os eventos de sua vida. Talvez não seja de admirar que a maioria dos peritos rejeite todos esses relatos como lendas e mitos. Um destacado funcionário do Museu Britânico até mesmo sugere que devido à “grande quantidade de lenda e milagre, . . . uma vida histórica do Buda está além de restauração”.
12, 13. (a) Qual é o relato tradicional sobre a vida do Buda? (b) O que é comumente aceito quanto a quando o Buda nasceu? (Veja Lucas 1:1-4.)
12 Apesar desses mitos, existe um relato tradicional da vida do Buda amplamente difundido. Um texto moderno, A Manual of Buddhism (Manual do Budismo), publicado em Colombo, Sri Lanka, fornece o seguinte relato simplificado:
“No dia de lua cheia de maio do ano 623 AC nasceu no distrito de Nepal um príncipe indiano saquiano, de nome Sidata Gotama.a O rei Sudodana era seu pai, e a rainha Maha Maia era sua mãe. Ela morreu alguns dias depois do nascimento da criança e Maha Pajapati Gotami tornou-se sua mãe adotiva.
“Aos dezesseis anos de idade ele casou-se com sua prima, a bela princesa Iasodara.
“Por uns treze anos após seu feliz casamento ele levou uma vida de esplendor, bem-aventuradamente desconhecedor das vicissitudes da vida fora dos portões do palácio.
“Com a marcha do tempo, começou gradativamente a compreender a verdade. Em seu 29.º ano, que marcou o ponto de virada em sua carreira, nasceu seu filho Rahula. Ele considerou sua prole como impedimento, pois entendeu que todos, sem exceção, estavam sujeitos ao nascimento, à doença e à morte. Compreendendo assim a universalidade da tristeza, ele decidiu descobrir uma panacéia para essa doença universal da humanidade.
“Assim, renunciando a seus prazeres palacianos, ele deixou a casa certa noite . . . cortou o cabelo, vestiu a roupa simples de um asceta, e saiu a peregrinar como Buscador da Verdade.”
13 Claramente, estes poucos detalhes biográficos contrastam-se nitidamente com os relatos fantásticos encontrados nos “textos canônicos”. E, à exceção do ano de seu nascimento, eles são comumente aceitos.
A Iluminação — Como Aconteceu
14. Qual foi o ponto de virada na vida de Gautama?
14 Qual foi o supramencionado “ponto de virada em sua carreira”? Foi quando, pela primeira vez na vida, ele viu um enfermo, um ancião e um cadáver. Esta experiência deixou-o aflito com relação ao significado da vida — Por que os homens nascem, apenas para sofrer, envelhecer e morrer? Daí, informa-se que ele viu um homem santo, que renunciara o mundo em busca da verdade. Isto impeliu Gautama a renunciar sua família, seus bens e seu nome principesco e passar os seguintes seis anos buscando a resposta de mestres e gurus hindus, mas sem êxito. Os relatos nos dizem que ele dedicou-se a um proceder de meditação, jejum, ioga e extremo desprendimento, não obstante, não encontrou nenhuma paz ou iluminação espiritual.
15. Como se deu que Gautama finalmente conseguiu a sua suposta iluminação?
15 Por fim, ele veio a perceber que seu proceder de desprendimento extremo era tão inútil como a vida regalada que levara antes. Adotou então o que chamou de Caminho Médio, evitando os extremos dos estilos de vida que seguira antes. Decidindo que a resposta devia ser encontrada na sua própria percepção, ele sentou-se para meditar debaixo de um pipal, ou figueira-dos-pagodes indiana. Resistindo a ataques e tentações do diabo Mara, ele continuou firme em sua meditação por quatro semanas (alguns dizem sete semanas) até que supostamente transcendeu todo conhecimento e entendimento e atingiu a iluminação.
16. (a) O que Gautama se tornou? (b) Que diferentes conceitos existem a respeito do Buda?
16 Por esse processo, na terminologia budista, Gautama tornou-se o Buda — o Despertado, ou Iluminado. Ele atingira o derradeiro alvo, Nirvana, o estado de paz e iluminação perfeita, libertado do desejo e do sofrimento. Tornou-se também conhecido como Saquiamuni (sábio da tribo sáquia), e não raro dirigia-se a si mesmo como Tatagata (um que assim veio [para ensinar]). Diferentes seitas budistas, contudo, têm diferentes conceitos sobre este assunto. Alguns encaram-no estritamente como ser humano que encontrou o caminho da iluminação para si mesmo e ensinou-o a seus seguidores. Outros encaram-no como o último duma série de Budas que vieram ao mundo para pregar ou reavivar o darma (páli, Dama), o ensino ou caminho do Buda. Ainda outros encaram-no como bodisatva, alguém que alcançou a iluminação mas postergou a entrada no Nirvana a fim de ajudar outros em sua busca de iluminação. O que quer que seja, este evento, a Iluminação, é de importância central para todas as escolas do budismo.
A Iluminação — O Que É?
17. (a) Onde e a quem o Buda pregou seu primeiro sermão? (b) Explique brevemente as Quatro Nobres Verdades.
17 Tendo conseguido a iluminação, e depois de vencer certa hesitação inicial, o Buda pôs-se a ensinar a outros a sua recém-encontrada verdade, seu darma. Seu primeiro e provavelmente mais importante sermão foi proferido na cidade de Benares, num parque de veados, a cinco bicus — discípulos ou monges. Nele, ensinou que, para se ser salvo, deve-se evitar tanto o proceder de indulgência sensual como o do ascetismo, e seguir o Caminho Médio. Daí, deve-se entender e seguir as Quatro Nobres Verdades (veja o quadro, na página ao lado), que podem brevemente ser assim resumidas:
(1) Toda existência é sofrimento.
(2) O sofrimento vem do desejo ou anseio.
(3) A cessação do desejo significa o fim do sofrimento.
(4) Consegue-se a cessação do desejo seguindo-se o Caminho Óctuplo, controlando a conduta, o pensamento e a crença da pessoa.
18. O que disse o Buda a respeito da fonte de sua iluminação? (Veja Jó 28:20, 21, 28; Salmo 111:10.)
18 Este sermão sobre o Caminho Médio e as Quatro Nobres Verdades engloba a essência da Iluminação e é considerado o epítome de todo o ensino de Buda. (Em contraste, compare com Mateus 6:25-34; 1 Timóteo 6:17-19; Tiago 4:1-3; 1 João 2:15-17.) Gautama não reivindicou inspiração divina para seu sermão, mas deu mérito a si próprio com as palavras “descoberto pelo Tatagata”. Alega-se que em seu leito de morte o Buda disse a seus discípulos: “Buscai a salvação apenas na verdade; não procureis ajuda de ninguém, exceto de vós mesmos.” Assim, segundo o Buda, a iluminação vem, não de Deus, mas sim de empenho pessoal em desenvolver raciocínio correto e boas ações.
19. Por que foi bem recebida na época a mensagem do Buda?
19 Não é difícil perceber por que esse ensino foi bem recebido na sociedade indiana da época. Ele condenava as gananciosas e corruptas práticas religiosas promovidas pelos brâmanes hindus, ou casta sacerdotal, por um lado, e, por outro, o rígido ascetismo dos jainistas e outros cultos místicos. Acabou também com os sacrifícios e rituais, as miríades de deuses e deusas, e o fatigante sistema de castas que dominava e escravizava todo aspecto da vida das pessoas. Em suma, prometia libertação a todos os que se dispusessem a seguir o caminho do Buda.
O Budismo Amplia a Sua Influência
20. (a) Quais são as “Três Jóias” do budismo? (b) Quão extensa foi a campanha de pregação do Buda?
20 Quando os cinco bicus aceitaram o ensino do Buda, tornaram-se os primeiros sanga, ou ordem de monges. Assim, as “Três Jóias” (Triratna) do budismo estavam completas, a saber, o Buda, o darma e o sanga, que supostamente ajudariam as pessoas a entrar no caminho da iluminação. Assim preparado, Gautama, o Buda, saiu a pregar em toda a extensão do vale do Ganges. Pessoas de todo o nível e condição sociais vinham ouvi-lo, e tornavam-se discípulos seus. Por ocasião de sua morte, aos 80 anos, ele já era bem conhecido e bem respeitado. Consta que as últimas palavras a seus discípulos foram: “A decadência é inerente a todas as coisas. Produzi a vossa própria salvação com diligência.”
21. (a) Quem cooperou para a expansão do budismo? (b) Qual foi o resultado de seus empenhos?
21 No terceiro século AEC, cerca de 200 anos depois da morte do Buda, apareceu o maior paladino do budismo, o imperador Asoca, que pôs sob seu controle a maior parte da Índia. Entristecido pelas matanças e convulsões causadas por suas conquistas, ele adotou o budismo e deu-lhe apoio estatal. Erigiu monumentos religiosos, convocou concílios e exortou o povo a viver segundo os preceitos do Buda. Asoca enviou também missionários budistas a todas as partes da Índia e ao Sri Lanka, Síria, Egito e Grécia. Principalmente devido aos empenhos de Asoca, o budismo passou de seita indiana a religião universal. Justificadamente, alguns o consideram o segundo fundador do budismo.
22. De que modo o budismo veio a ficar estabelecido em toda a Ásia?
22 Do Sri Lanka o budismo se propagou para o leste, a Myanmar (Birmânia), à Tailândia e a outras partes da Indochina. Para o norte, o budismo se espalhou à Cachemira e à Ásia central. A partir dessas regiões, e já no primeiro século EC, monges budistas viajaram através das agrestes montanhas e desertos e levaram sua religião para a China. Da China, foi um passo curto para o budismo chegar à Coréia e ao Japão. O budismo foi também introduzido no Tibete, vizinho da Índia ao norte. Mesclado com crenças locais, emergiu como lamaísmo, que dominou, ali, tanto a vida religiosa como política. Por volta do sexto ou sétimo século EC, o budismo já estava bem estabelecido em todo o sudeste asiático e Extremo Oriente. Mas, o que acontecia na Índia?
23. O que aconteceu com o budismo na Índia?
23 Ao passo que o budismo espalhava sua influência a outros países, declinava gradativamente na Índia. Profundamente envolvidos em interesses filosóficos e metafísicos, os monges passaram a perder a ligação com seus seguidores leigos. Além disso, a perda de patrocínio palaciano e a adoção de conceitos e práticas hindus apressaram a extinção do budismo na Índia. Até mesmo lugares santos budistas, como Lumbini, onde Gautama nasceu, e Buda Gaia, onde ele teve a “iluminação”, viraram ruínas. Por volta do século 13, o budismo virtualmente desaparecera da Índia, seu país de origem.
24, 25. Que desenvolvimentos adicionais ocorreram no budismo no século 20?
24 Durante o século 20, o budismo passou por outra mudança de feição. Levantes políticos na China, Mongólia, Tibete e países do sudeste asiático aplicaram-lhe um golpe devastador. Milhares de mosteiros e templos foram destruídos e centenas de milhares de monges e monjas foram afastados, aprisionados ou mesmo mortos. Não obstante, ainda se percebe fortemente a influência do budismo no modo de pensar e nos hábitos do povo desses países.
25 Na Europa e na América do Norte, o conceito budista de buscar a “verdade” dentro da própria pessoa parece exercer um amplo atrativo, e sua prática de meditação provê uma fuga do corre-corre do estilo de vida ocidental. É interessante que, no prefácio do livro Living Buddhism (Budismo Vivo), Tenzin Gyatso, o exilado Dalai Lama do Tibete, escreveu: “Talvez hoje o budismo tenha uma parte a desempenhar em lembrar os povos ocidentais da dimensão espiritual de suas vidas.”
Os Diversificados Caminhos do Budismo
26. De que modos está dividido o budismo?
26 Embora seja costumeiro falar-se do budismo como religião única, na realidade ele está dividido em várias escolas de pensamento. Baseadas em diferentes interpretações da natureza do Buda e de seus ensinos, cada qual tem suas próprias doutrinas, práticas e escrituras. Estas escolas estão adicionalmente divididas em numerosos grupos e seitas, muitos dos quais fortemente influenciados por culturas e tradições locais.
27, 28. Como descreveria o budismo Teravada? (Veja Filipenses 2:12; João 17:15, 16.)
27 O Teravada (Caminho dos Mais Velhos), ou Hinaiana (Pequeno Veículo) é uma escola do budismo que floresce no Sri Lanka, Myanmar (Birmânia), Tailândia, Kampuchea (Cambodja) e Laos. Alguns consideram-na a escola conservadora. Ela enfatiza ganhar sabedoria e a pessoa produzir a sua própria salvação por renunciar ao mundo e levar uma vida de monge, devotando-se à meditação e ao estudo num mosteiro.
28 É comum ver em alguns desses países grupos de rapazes com cabeça rapada, em longos trajes cor de açafrão e descalços, segurando tigelas de esmolas para receberem sua provisão diária dos crentes leigos, cujo papel é sustentá-los. É costumeiro os homens passarem pelo menos parte de sua vida num mosteiro. O derradeiro objetivo da vida monástica é tornar-se arat, isto é, alguém que atingiu a perfeição espiritual e a libertação da dor e do sofrimento nos ciclos do renascimento. O Buda indicou o caminho; compete a cada um segui-lo.
29. Quais são as características do budismo Mahaiana? (Veja 1 Timóteo 2:3, 4; João 3:16.)
29 A escola Mahaiana (Grande Veículo) do budismo encontra-se comumente na China, Coréia, Japão e Vietnã. Tem este nome porque destaca o ensino do Buda de que “a verdade e o caminho da salvação é para todos, quer se viva numa caverna, num mosteiro, quer numa casa . . . Não é apenas para os que renunciam ao mundo”. O conceito básico mahaiano é que o amor e a compaixão do Buda são tão grandes que ele não privaria ninguém da salvação. Ensina que, estando a natureza do Buda presente em todos nós, todos somos capazes de tornar-nos um buda, um iluminado, ou bodisatva. A iluminação vem, não através de estrênua autodisciplina, mas sim pela fé no Buda e compaixão para com todas as coisas vivas. Isto obviamente exerce maior atrativo sobre as massas de mentalidade prática. Por causa dessa atitude mais liberal, contudo, desenvolveram-se numerosos grupos e cultos.
30. Que objetivo buscam os devotos do budismo “Terra Pura”? (Veja Mateus 6:7, 8; 1 Reis 18:26, 29.)
30 Entre as muitas seitas mahaianas que se desenvolveram na China e no Japão figuram as escolas Terra Pura e Zen do budismo. A primeira centraliza sua crença na fé no poder salvador do Buda Amida, que prometeu a seus seguidores um renascimento na Terra Pura, ou Paraíso Ocidental, uma terra de alegria e deleite habitada por deuses e seres humanos. De lá, é fácil alcançar o Nirvana. Repetindo a oração: “Tenho fé em Buda Amida”, às vezes milhares de vezes por dia, os devotos se purificam a fim de chegar à iluminação ou ganhar o renascimento no Paraíso Ocidental.
31. Quais são as características do budismo Zen? (Veja Filipenses 4:8.)
31 O budismo Zen (escola Ch’an, na China) derivou seu nome da prática da meditação. As palavras ch’an (chinês) e zen (japonês) são variações da palavra sânscrita diana, que significa “meditação”. Esta disciplina ensina que o estudo, as boas obras e os rituais têm pouco mérito. Pode-se conseguir a iluminação simplesmente por meditar em enigmas imponderáveis, tais como: ‘Qual é o ruído de se bater palmas com uma só mão?’, e: ‘O que encontramos onde nada existe?’ A natureza mística do budismo zen tem encontrado expressão nas finas artes de arranjos florais, caligrafia, pinturas a nanquim, poesia, jardinagem, e assim por diante, e estas têm sido bem recebidas no Ocidente. Hoje, existem centros de meditação Zen em muitos países ocidentais.
32. Em que consiste a prática do budismo tibetano?
32 Por fim, há o budismo Tibetano, ou Lamaísmo. Esta forma de budismo é às vezes chamada de Mantraiana (Veículo Mantra) por causa do largo uso de mantras, uma série de sílabas com ou sem significado, em longos recitais. Em vez de enfatizar a sabedoria ou a compaixão, esta forma de budismo enfatiza o uso de rituais, orações, magia, e espiritismo na adoração. As orações são repetidas milhares de vezes por dia com a ajuda de contas de oração e tambores de oração. É possível aprender os complicados rituais apenas sob instrução oral dos lamas, ou líderes monásticos, dentre os quais os mais conhecidos são o Dalai Lama e o Panchen Lama. Depois da morte de um lama, faz-se a busca de uma criança na qual alegadamente o lama teria sido reencarnado para ser o próximo líder espiritual. Esse termo, contudo, é também aplicado genericamente a todos os monges, que, segundo certa estimativa, certa vez somavam cerca de um quinto de toda a população do Tibete. Os lamas eram também mestres, médicos, proprietários de terra ou figuras políticas.
33. Em que sentido são as divisões do budismo similares às da cristandade? (Veja 1 Coríntios 1:10.)
33 Estas principais divisões do budismo estão, por sua vez, subdivididas em muitos grupos, ou seitas. Alguns são devotados a um líder específico, como Nichiren, no Japão, que ensinou que apenas o Sutra de Loto mahaiano contém os ensinos definitivos do Buda, e Nun Ch’in-Hai, em Taiwan (Formosa), que tem numerosos seguidores. Neste respeito, o budismo não difere muito da cristandade com suas muitas denominações e seitas. De fato, é comum ver pessoas que afirmam ser budistas envolvidas em práticas do taoísmo, do xintoísmo, da adoração de ancestrais e até mesmo da cristandade.b Todas estas seitas budistas afirmam basear suas crenças e práticas nos ensinos do Buda.
Os Três Cestos e Outras Escrituras Budistas
34. O que temos de ter em mente ao considerarmos os ensinos do budismo?
34 Os ensinos atribuídos ao Buda foram transmitidos pela palavra oral, e começaram a ser assentados por escrito apenas séculos depois de sua morte. Assim, quando muito, eles representam o que seus seguidores em gerações posteriores pensavam que ele disse e fez. Isto se complica ainda mais pelo fato de que, naquela época, o budismo já se havia ramificado em muitas escolas. Assim, diferentes textos apresentam versões bem diferentes do budismo.
35. Quais são os mais antigos dos textos sagrados budistas?
35 Os mais antigos dos textos budistas foram escritos em páli, alegadamente relacionada com a língua nativa do Buda, por volta do primeiro século AEC. São aceitos pela escola Teravada como sendo os textos autênticos. Consistem em 31 livros organizados em três coleções chamadas de Tipitaca (sânscrito, Tripitaca), significando “Três Cestos”, ou “Três Coleções”. O Vinaia Pitaca (Cesto da Disciplina) trata especialmente de regras e regulamentos para monges e monjas. O Suta Pitaca (Cesto de Discursos) contém os sermões, as parábolas e os provérbios enunciados pelo Buda e seus principais discípulos. Por último, o Abidama Pitaca (Cesto da Derradeira Doutrina) consiste em comentários sobre doutrinas budistas.
36. O que caracteriza as escrituras budistas mahaianas?
36 Por outro lado, os escritos da escola Mahaiana são na maioria em sânscrito, chinês e tibetano, e são volumosos. Apenas os textos em chinês consistem em mais de 5.000 volumes. Contêm muitos conceitos não constantes nos escritos anteriores, tais como relatos de budas tão numerosos como os grãos de areia do Ganges, que alegadamente viveram por incontáveis milhões de anos, cada qual presidindo sobre seu próprio mundo buda. Não há exagero quando certo escritor observa que esses textos são “caracterizados pela diversidade, imaginação extravagante, personalidades pitorescas e repetições desordenadas”.
37. Que problemas resultaram dos escritos mahaianos? (Veja Filipenses 2:2, 3.)
37 É desnecessário dizer que poucas pessoas conseguem compreender esses tratados altamente abstratos. Conseqüentemente, esses desenvolvimentos posteriores têm levado o budismo para muito longe do que o Buda originalmente intencionara. Segundo o Vinaia Pitaca, o Buda queria que seus ensinos fossem entendidos não apenas pela classe culta, mas por todo tipo de pessoa. Para isso, ele insistia que seus conceitos fossem ensinados na língua do povo comum, e não na sagrada língua morta do hinduísmo. Assim, à objeção dos budistas teravadas de que esses livros não são canônicos, a resposta dos seguidores mahaianos é que Gautama, o Buda, primeiro ensinou aos simples e ignorantes, mas, para os instruídos e sábios, ele revelou os ensinos escritos mais tarde nos livros mahaianos.
O Ciclo do Carma e do Samsara
38. (a) Como se comparam os ensinos budista e hindu? (b) Qual é o conceito budista da alma na teoria e na prática?
38 Embora o budismo até certo ponto libertasse as pessoas das amarras do hinduísmo, seus conceitos fundamentais ainda são um legado dos ensinos hindus do carma e do samsara. O budismo, conforme originalmente ensinado pelo Buda, difere do hinduísmo no sentido de que nega a existência de uma alma imortal, mas fala do indivíduo como sendo “uma combinação de forças ou energias físicas e mentais”.c Não obstante, seus ensinos ainda se centralizam nos conceitos de que toda a humanidade passa de vida em vida através de incontáveis renascimentos (samsara) e sofre as conseqüências de ações passadas e presentes (carma). Ainda que a sua mensagem de iluminação e libertação desse ciclo possa parecer atraente, alguns se perguntam: Quão sólida é a base? Que prova existe de que todos os sofrimentos são o resultado das ações da pessoa numa vida anterior? E, de fato, que evidência existe de que realmente há alguma vida anterior?
39. De que modo certo texto budista explica a lei do carma?
39 Certa explicação da lei do carma diz:
“O cama [equivalente de carma em páli] é uma lei em si mesmo. Mas isso não significa que deva existir um legislador. Leis comuns da natureza, como a gravidade, não necessitam de legislador. A lei do cama também não exige legislador. Ela opera em seu próprio campo sem a intervenção dum agente diretivo externo, independente.” — Manual do Budismo.
40. (a) A existência de leis naturais indica o quê? (b) O que diz a Bíblia a respeito de causa e efeito?
40 É esse um raciocínio sólido? Será que as leis da natureza realmente não necessitam de legislador? O perito em foguetes Dr. Wernher von Braun disse certa vez: “As leis naturais do universo são tão precisas que não temos dificuldade alguma em construir uma espaçonave para voar à lua, e podemos cronometrar o vôo com a precisão de uma fração de segundo. Estas leis devem ter sido estabelecidas por alguém.” A Bíblia também fala sobre a lei da causa e efeito. Ela nos diz: “De Deus não se mofa. Pois, o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6:7) Em vez de dizer que essa lei não requer legislador, ela destaca que “de Deus não se mofa”, indicando que essa lei foi posta em operação pelo seu Criador, Jeová.
41. (a) Que comparação pode-se fazer entre a lei do carma e a lei de tribunais? (b) Contraste o carma com a promessa da Bíblia.
41 Além disso, a Bíblia diz-nos que “o salário pago pelo pecado é a morte”, e que “aquele que morreu foi absolvido do seu pecado”. Até mesmo os tribunais de justiça reconhecem que ninguém deve sofrer dupla condenação por qualquer crime que cometa. Por que, então, deveria a pessoa que já pagou por seus pecados, por morrer, renascer apenas para sofrer novamente as conseqüências de seus atos passados? Ademais, sem ter conhecimento dos atos passados pelas quais está sendo punida, como pode a pessoa arrepender-se e melhorar? Poderia isso ser considerado justiça? É coerente com a misericórdia, que, segundo se diz, é a mais notável qualidade do Buda? Em contraste, a Bíblia, depois de declarar que “o salário pago pelo pecado é a morte”, diz mais: “Mas o dom dado por Deus é a vida eterna por Cristo Jesus, nosso Senhor.” Sim, ela promete que Deus acabará com toda corrupção, pecado e morte e trará liberdade e perfeição para toda a humanidade. — Romanos 6:7, 23; 8:21; Isaías 25:8.
42. Como um perito budista explica o renascimento?
42 Quanto ao renascimento, segue-se uma explanação do perito budista Dr. Walpola Rahula:
“Um ser nada é senão uma combinação de forças ou energias físicas e mentais. O que chamamos de morte é o total não-funcionamento do corpo físico. Será que todas essas forças e energias cessam completamente com o não-funcionamento do corpo? O budismo diz: ‘Não.’ Vontade, volição, desejo, ânsia de existir, de continuar, de tornar-se sempre mais importante, é uma tremenda força que move inteiras vidas, inteiras existências, que move até mesmo o mundo inteiro. Esta é a maior força, a maior energia do mundo. Segundo o budismo, essa força não cessa com o não-funcionamento do corpo, que é a morte; mas continua a manifestar-se em outra forma, produzindo a reexistência, chamada de renascimento.”
43. (a) Biologicamente, como é que se determina o componente genético da pessoa? (b) Que “prova” é às vezes apresentada para apoiar o renascimento? (c) Harmoniza-se tal “prova” do renascimento com a experiência comum?
43 No momento da concepção, a pessoa herda 50 por cento de seus genes de cada um dos genitores. De modo que não existe maneira de ela poder ser cem por cento igual a alguém de uma existência anterior. De fato, não é possível sustentar o processo de renascimento através de algum conhecido princípio de ciência. Não raro, os que crêem na doutrina do renascimento citam como prova as experiências de pessoas que afirmam lembrar-se de rostos, eventos e lugares que não conheciam antes. É isso lógico? Dizer que a pessoa que pode lembrar-se de coisas de tempos passados deve ter vivido naquela era, implica também dizer que a pessoa que pode predizer o futuro — e são muitas as que afirmam fazê-lo — devem ter vivido no futuro. O que, obviamente, não é o caso.
44. Compare os ensinos da Bíblia a respeito do “espírito” com a doutrina budista do renascimento.
44 Mais de 400 anos antes do Buda, a Bíblia falou de uma força de vida. Descrevendo o que acontece por ocasião da morte da pessoa, ela diz: “Então o pó retorna à terra, assim como veio a ser, e o próprio espírito retorna ao verdadeiro Deus que o deu.” (Eclesiastes 12:7) A palavra “espírito” é traduzida da palavra hebraica rú·ahh, que significa a força de vida que anima todas as criaturas viventes, humanas e animais. (Eclesiastes 3:18-22) Contudo, a importante diferença é que rú·ahh é uma força impessoal, não tem vontade própria, tampouco retém a personalidade ou quaisquer das características do indivíduo falecido. Não passa de uma pessoa para outra na morte, mas sim “retorna ao verdadeiro Deus que o deu”. Em outras palavras, as perspectivas de vida futura da pessoa — a esperança da ressurreição — estão inteiramente nas mãos de Deus. — João 5:28, 29; Atos 17:31.
Nirvana — Atingindo o Inatingível?
45. Em que consiste o conceito budista do Nirvana?
45 Isto nos leva ao ensino do Buda a respeito de iluminação e salvação. Em termos budistas, o conceito básico da salvação é a libertação das leis do carma e samsara, bem como chegar ao Nirvana. E o que é o Nirvana? Os textos budistas dizem que é impossível descrever ou explicar, podendo apenas ser vivenciado. Não é um céu, para onde a pessoa vai após a morte, mas sim uma consecução que está ao alcance de todos, aqui e agora. Afirma-se que a própria palavra significa “apagar, extinguir”. Assim, alguns definem o Nirvana como a cessação de toda paixão e desejo; uma existência isenta de todo sentimento sensorial, como a dor, o medo, a ânsia, o amor ou o ódio; um estado de eterna paz, descanso e imutabilidade. Essencialmente, diz-se ser a cessação da existência individual.
46, 47. (a) Segundo os ensinos budistas, qual é a fonte da salvação? (b) Por que o conceito budista da fonte da salvação é contrário à experiência comum?
46 O Buda ensinou que a iluminação e a salvação — a perfeição do Nirvana — vem, não de algum Deus ou força exterior, mas sim de dentro da pessoa através de seus próprios empenhos em boas ações e pensamentos corretos. Isto suscita a pergunta: Pode algo perfeito vir de algo imperfeito? Não nos ensina a experiência comum que, como disse o profeta hebreu Jeremias, ‘não é do homem terreno o seu caminho, não é do homem que anda o dirigir o seu passo’? (Jeremias 10:23) Se ninguém é capaz de exercer controle total de suas ações mesmo nos simples assuntos do dia-a-dia, é lógico pensar que alguém poderia produzir sua salvação eterna inteiramente sozinho? — Salmo 146:3, 4.
47 Assim como uma pessoa afundada na areia movediça provavelmente não sairá sozinha dali, toda a humanidade está presa na armadilha do pecado e da morte, e ninguém é capaz de se desembaraçar sozinho dessa dificuldade. (Romanos 5:12) Todavia, o Buda ensinou que a salvação depende unicamente dos empenhos da própria pessoa. Sua exortação de despedida a seus discípulos foi: “Confiai em vós mesmos e não confiai em ajuda externa; apegai-vos à verdade como uma lâmpada; buscai a salvação apenas na verdade; não procureis a ajuda de ninguém, exceto de vós mesmos.”
Iluminação ou Desilusão?
48. (a) De que modo certo livro descreve o efeito dos complicados conceitos budistas tais como o Nirvana? (b) Qual tem sido o resultado do recente interesse pelos ensinos budistas em algumas regiões?
48 Qual é o efeito de tal doutrina? Inspira em seus crentes a verdadeira fé e devoção? O livro Budismo Vivo diz que, em alguns países budistas, até mesmo os “monges pouco se importam com as sublimidades de sua religião. Chegar ao Nirvana é amplamente considerado como sendo uma ambição irremediavelmente irrealista, e a meditação é raramente praticada. Além do dessultório estudo da Tipitaca, eles devotam-se a ser uma benevolente e harmoniosa influência na sociedade.” Similarmente, a Enciclopédia Mundial (japonesa), comentando sobre o recente ressurgimento de interesse pelos ensinamentos budistas, observa: “Quanto mais o estudo do budismo se torna especializado, tanto mais se aparta de seu objetivo original — guiar as pessoas. Deste ponto de vista, a recente tendência de rigoroso estudo do budismo não significa necessariamente o reavivamento de uma fé viva. Ao contrário, deve-se dizer que quando uma religião passa a ser objeto de complicada erudição metafísica, a sua vida real como fé está perdendo seu poder.”
49. Para muitos, o que se tornou o budismo?
49 O conceito fundamental do budismo é que o conhecimento e o entendimento levam à iluminação e à salvação. No entanto, as complicadas doutrinas das várias escolas do budismo têm apenas produzido a acima mencionada situação “irremediavelmente irrealista”, que está além da compreensão da maioria dos crentes. Para eles, o budismo tem sido reduzido a fazer o bem e seguir uns poucos rituais e preceitos simples. Não vem de encontro às desconcertantes perguntas a respeito da vida, tais como: De onde viemos? Por que existimos? E qual é o futuro do homem e da terra?
50. Que pergunta vem à mente em vista do que tem acontecido com alguns budistas sinceros? (Veja Colossenses 2:8.)
50 Alguns budistas sinceros têm reconhecido a confusão e a desilusão que surgem das complicadas doutrinas e fatigantes rituais do budismo, conforme praticado hoje. Os empenhos humanitários de grupos e associações budistas em alguns países talvez tenham trazido algum alívio da dor e do sofrimento a muitos. Mas, como fonte de verdadeira iluminação e libertação para todos, correspondeu o budismo à sua promessa?
Iluminação Sem Deus?
51. (a) O que diz certa historieta a respeito dos ensinos do Buda? (b) Que importante omissão é evidente nos ensinos do Buda? (Veja 2 Crônicas 16:9; Salmo 46:1; 145:18.)
51 Relatos da vida do Buda dizem que certa vez ele e seus discípulos estavam numa floresta. O Buda apanhou um punhado de folhas e disse a seus discípulos: “O que eu vos ensinei é comparável às folhas em minha mão, o que eu não vos ensinei é comparável à quantidade de folhas na floresta.” A implicação, naturalmente, era que o Buda ensinara apenas uma fração do que sabia. Contudo, existe uma importante omissão — Gautama, o Buda, praticamente nada tinha a dizer a respeito de Deus; tampouco alguma vez afirmou ser Deus. De fato, consta que ele disse a seus discípulos: “Se existe um Deus, é inconcebível que Ele esteja interessado em meus assuntos do dia-a-dia”, e “não existem deuses que podem ou que irão ajudar o homem”.
52. (a) Qual é o conceito do budismo sobre Deus? (b) O que tem desconsiderado o budismo?
52 Neste sentido, o papel do budismo na busca do verdadeiro Deus por parte da humanidade é mínimo. A Enciclopédia de Crenças do Mundo (em inglês) observa que “o primitivo budismo aparentemente não levou em conta a questão de Deus, e certamente não ensinou nem exigiu a crença em Deus”. Em sua ênfase em cada pessoa procurar a salvação por si mesma, voltando-se para sua própria mente ou percepção em busca de iluminação, o budismo é realmente agnóstico, se não ateísta. (Veja quadro, página 145.) Na tentativa de livrar-se dos grilhões de superstições do hinduísmo e seu atordoante rol de deuses míticos, o budismo pendeu para o outro extremo. Ignorou o conceito fundamental de um Ser Supremo, por cuja vontade tudo existe e opera. — Atos 17:24, 25.
53. O que se pode dizer a respeito de buscar iluminação sem Deus? (Veja Provérbios 9:10; Jeremias 8:9.)
53 Por causa desse modo de pensar voltado para si mesmo e independente, o resultado é um verdadeiro labirinto de lendas, tradições, doutrinas complexas e interpretações geradas pelas muitas escolas e seitas ao longo dos séculos. O que visava trazer uma solução simples para os complicados problemas da vida resultou num sistema religioso e filosófico além da compreensão para a maioria das pessoas. Em vez disso, o seguidor mediano do budismo simplesmente se preocupa com a adoração de ídolos e relíquias, deuses e demônios, espíritos e ancestrais, e em realizar muitos outros rituais e práticas que pouco têm a ver com o que Gautama, o Buda, ensinou. Obviamente, buscar a iluminação sem Deus não funciona.
54. Os ensinos de que outros pensadores religiosos orientais serão considerados a seguir?
54 Mais ou menos na mesma época em que Gautama, o Buda, procurava o caminho à iluminação, em outra parte do continente asiático viviam dois filósofos cujos conceitos vieram a influenciar milhões de pessoas. Eram Lao-tzu e Confúcio, os dois sábios venerados por gerações de chineses e outros. O que ensinaram eles, e como influenciaram a busca de Deus por parte da humanidade? É isto o que consideraremos no próximo capítulo.
[Nota(s) de rodapé]
a Esta é a transliteração em português de seu nome em páli. Do sânscrito, a transliteração é Sidarta Gautama. Sua data de nascimento, porém, tem sido variadamente fornecida como 560, 563 ou 567 AEC. A maioria dos estudiosos aceita a data de 560 ou, pelo menos, enquadra seu nascimento no sexto século AEC.
b Muitos budistas no Japão celebram um ostentoso “Natal”.
c Doutrinas budistas, como a anata (não existe eu), negam a existência de uma alma imutável ou eterna. Contudo, a maioria dos budistas hoje, particularmente os do Extremo Oriente, crêem na transmigração de uma alma imortal. A sua prática de adoração de ancestrais e a crença no tormento num inferno após a morte claramente demonstram isso.
[Fotos na página 131]
Chengteh, norte da China
Kofu, Japão
Nova Iorque, EUA
Chiang Mai, Tailândia
Os templos budistas variam mundialmente em estilo.
[Foto na página 133]
Relevo em pedra, Sonho de Maia, de Gandara, Paquistão, retrata o futuro Buda como elefante branco rodeado de um halo entrando no lado direito da rainha Maia para engravidá-la.
[Fotos na página 134]
Monges e devotos budistas num templo em Nova Iorque.
[Fotos na página 141]
Imagens do Buda com gestos estilizados.
entrando no Nirvana
ensinando
meditando
resistindo a tentações.
[Foto na página 147]
Procissão em homenagem ao nascimento do Buda, em Tóquio, Japão. O elefante branco no fundo simboliza o Buda.
[Fotos na página 150]
Páginas do Sutra de Loto (século 10), em chinês, descrevem o poder do bodisatva Kuan-yin de salvar do fogo e da inundação. O bodisatva Ksitigarba, à direita, era popular na Coréia no século 14.
[Foto na página 155]
Rolo budista de Quioto, Japão, retrata os tormentos do “inferno”.
[Fotos na página 157]
Budistas atuais prestam adoração perante (sentido horário a partir da esquerda no alto) um linga em Bancoque, Tailândia; a relíquia do Dente do Buda em Kandy, Sri Lanka; imagens do Buda em Cingapura e Nova Iorque.
[Fotos na página 158]
Uma senhora budista orando diante do altar da família, e crianças participando de serviços no templo.
[Mapa na página 142]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
Por volta do sétimo século EC, o budismo espalhara-se da Índia para toda a Ásia oriental.
ÍNDIA
Benares
Buda Gaia
3.º SÉCULO AEC • SRI LANKA
1.º SÉCULO AEC • ÁSIA CENTRAL
• CACHEMIRRA
1.º SÉCULO EC • CHINA
• JAVA
• TAILÂNDIA
• KAMPUCHEA
• MYANMAR
4.º SÉCULO EC • CORÉIA
6.º SÉCULO EC • JAPÃO
7.º SÉCULO EC • TIBETE
[Quadro na página 139]
As Quatro Nobres Verdades do Buda
O Buda expôs seus ensinamentos fundamentais no que se conhece como as Quatro Nobres Verdades. Citamos a seguir trechos de Damacakapavatana Suta (O Fundamento do Reino da Justiça), numa tradução (para o inglês) de T. W. Rhys Davids:
▪ “Esta, ó Bicus, é a nobre verdade a respeito do sofrimento. O nascimento é acompanhado de dor, a decadência é dolorosa, a doença é dolorosa, a morte é dolorosa. A união com o que é desagradável é dolorosa, e doloroso é separar-se do que é agradável; e todo anseio não satisfeito, isto também é doloroso. . . .
▪ “Esta, ó Bicus, é a nobre verdade a respeito da origem do sofrimento. Na verdade, é esse desejo ardente, que causa a renovação da existência, acompanhada de deleite sensual, buscando satisfação ora aqui, ora ali — isto é, a ânsia de gratificação das paixões, ou a ânsia de viver, ou a ânsia de sucesso. . . .
▪ “Esta, ó Bicus, é a nobre verdade a respeito da eliminação do sofrimento. Na verdade, é a eliminação, sem deixar sobrar paixão alguma, justamente desse desejo ardente; deixá-lo de lado, livrar-se dele, libertar-se dele, não mais alimentar tal desejo ardente. . . .
▪ “Esta, ó Bicus, é a nobre verdade a respeito da senda que leva à eliminação da tristeza. Na verdade, é esta nobre senda óctupla; isto é: conceitos corretos; aspirações corretas; linguagem correta; conduta correta; vida correta; empenhos corretos; vigilância correta; e contemplação correta.”
[Quadro na página 145]
O Budismo e Deus
“O budismo ensina o caminho à bondade e à sabedoria perfeitas sem um Deus pessoal; o mais elevado conhecimento sem uma ‘revelação’; . . . a possibilidade de redenção sem um redentor vicário, uma salvação na qual cada um é seu próprio salvador.” — A Mensagem do Budismo, do bicu Subhadra, conforme citado em O Que
É o Budismo? (em inglês).
São, portanto, ateus os budistas? O livro O Que É o Budismo?, publicado pela Casa Budista, de Londres, responde: “Se por ateu se quer dizer alguém que rejeita o conceito de um Deus pessoal, nós somos.” Daí prossegue: “A mente em formação pode assimilar a idéia de um Universo guiado por uma Lei imutável com a mesma facilidade com que assimila o conceito de um Personagem distante que talvez nunca veja, que mora onde ela não sabe, e que em algum tempo criou do nada um Universo permeado de inimizade, injustiça, desigualdade de oportunidades e infindáveis sofrimentos e lutas.”
Assim, teoricamente, o budismo não advoga a crença em Deus ou num Criador. Contudo, há hoje templos e estupas budistas em praticamente todo país em que o budismo é praticado, e imagens e relíquias de budas e de bodisatvas transformaram-se em objetos de orações, oferendas e devoção da parte de budistas devotos. O Buda, que jamais afirmou ser Deus, tornou-se um deus no verdadeiro sentido da palavra.