África do Sul e territórios vizinhos (Parte Um)
Venha conosco a uma terra de curiosos contrastes — cidades movimentadas e lugares remotos na selva, moradias modernas e humildes choupanas africanas. Ande no meio de pessoas de muitas raças. Escute, e ouvirá milhões de pessoas que falam inglês ou africâner (derivado do holandês antigo). Outros, dentre os 26.000.000 de habitantes deste país, ficam à vontade com línguas tais como o xosa e o zulu.
Esta é a África do Sul. Abrange 1.221.000 quilômetros quadrados e é o lar de pessoas interessantes, amiúde amáveis. Entre elas há muitas que anseiam coisas boas da espécie espiritual, e seus desejos estão sendo satisfeitos pela verdade bíblica proclamada pelas cristãs Testemunhas de Jeová.
Primeiramente, um pouco de história: Durante os séculos dezoito e dezenove, a África do Sul foi cenário de muitas lutas. À medida que a “onda” negra da população se movia para o sul, partindo da África central, e a “onda” branca se espalhava para o norte, provinda do Cabo, elas se chocaram em cruéis guerras sanguinolentas. A pior delas foi a Guerra Anglo-Bôer de 1899-1902, entre os ingleses e os bôeres, os agricultores holandeses. Em resultado disso, as quatro colônias de Natal, o Estado Livre de Orange, o Transvaal e o Cabo ficaram sob regência britânica. Em 1910, tornaram-se uma só nação. Meio século depois, em 1961, o país se tornou a República da África do Sul. Isto se deu pelo voto majoritário dos brancos. Os negros não podem votar, exceto em suas “homelands” (terras natais), grandes territórios reservados para cada tribo africana.
BREVE VIAGEM
Assim, façamos uma breve viagem pela África do Sul. Começaremos na Cidade do Cabo, próxima à extremidade sul do continente. A Cidade do Cabo é a capital legislativa, a cidade mais antiga do país. A mais de 800 quilômetros para o nordeste acha-se Bloemfontein, a capital do Estado Livre de Orange, cidade considerada a capital judicial do país. Pretória, ainda mais para o nordeste, é capital do Transvaal e é a capital administrativa da república.
A principal caraterística topográfica da África do Sul é o planalto interior. Da planície costeira, no leste, a terra sobe agudamente para formar maciças cadeias montanhosas, variando em altitude de mais de 1.500 a 3.300 metros. O planalto inclina-se gradualmente em direção para oeste. Certa vez, a maior parte dele era constituída de pastos ondulantes que pululavam de grandes rebanhos de impalas, zebras, gazelas sul-africanas e outras lindas criaturas. Hoje em dia, grande parte do interior é terra agrícola, e a maior parte dos animais selvagens só podem ser encontrados nas reservas de animais, tais como o Parque Nacional Kruger, de renome mundial. Mas, para o norte, no interior, a terra é mais seca e se torna o Deserto de Kalahari. Para o nordeste há o bushveld (pronuncia-se “bush-felt”) ou savana, com sua abundância de arbustos.
Kimberley, no Estado Livre de Orange, é famoso em todo o mundo como centro da mineração de diamantes. No Transvaal se acha Joanesburgo, a maior cidade do país e conhecida como a “rainha” do “Filão”, uma corrente de cidades de mineração e industriais. O Filão passou a existir devido à descoberta de ouro nessa área lá em 1886. A um pouco mais de 480 quilômetros em linha reta ao sudeste de Joanesburgo acha-se Durban, nas praias do Oceano Índico, e aqui se vê muitas indianas em seus coloridos saris.
Doze e meio milhões de africanos, que pertencem pelo menos a nove tribos, vivem na África do Sul. As maiores tribos — os povos xosa e zulu — atingem cada uma a mais de três milhões de pessoas. Em seguida vêm os basutos, daí os tsvanas, tsongas, swazis, ndebeles, vendas e outros. Pouco mais da metade da população africana vive nas “terras natais” africanas, os grandes territórios designados a cada tribo africana de per si. Usualmente, o modo de vida nestas “terras natais” e nas reservas é bem primitivo, a maioria das pessoas vivendo em choupanas de paredes principalmente de barro, e tetos de colmo. O restante da população africana vive em povoados africanos, tais como Soweto, com suas pequenas casas de alvenaria construídas pela municipalidade. Estas se localizam a alguns quilômetros fora das cidades e povoados europeus. A diretriz governamental é que cada grupo racial se desenvolva separada e independentemente. A África do Sul tem sido duramente criticada por sua política de apartheid, ou segregação racial.
À parte das principais seitas da cristandade, os africanos têm suas próprias religiões. Não só se acham representadas entre eles as principais fés da cristandade, porém muitos pregadores africanos começaram sua própria seitazinha. Por conseguinte, a África do Sul tem o maior número de seitas no mundo — pelo menos 2.000! Além de professarem aderir a uma das igrejas da cristandade, a maioria dos africanos participam em alguma forma de adoração dos antepassados e vivem com medo dos mortos. Isto não se dá apenas nas “terras natais”. Muitos africanos modernos, embora dirijam um carro de último tipo, ocasionalmente sacrificam um cabrito para apaziguar os espíritos dos antepassados mortos.
VOLTANDO AO DESPONTAR DO SÉCULO
No despontar do século, a população da África do Sul era menor, o ritmo era mais lento, e a vida mais simples. O país apenas se recuperava da Guerra Anglo-Bôer quando o tempo parecia adequado para que as boas novas atingissem este campo fascinante.
No ano de 1902, certo clérigo reformado holandês foi mandado da Holanda para Klerksdorp, cidade do Transvaal. Trouxe consigo uma grande caixa de publicações religiosas de segunda mão, inclusive os Estudos das Escrituras, um exemplar da Torre de Vigia de Sião, em inglês, e o folheto Que Dizem as Escrituras Sobre o Inferno?. Frans Ebersohn e Stoffel Fourie conheceram este clérigo em Klerksdorp. Foi-lhes permitido examinar sua biblioteca, eles acharam essas publicações muito interessantes e lhes foi permitido tirá-las da coleção. Tais homens ficaram tão profundamente impressionados pelas verdades que estas publicações continham que decidiram formar uma nova congregação. Chamaram-na “Volheid van Christus” (Plenitude de Cristo). Esta foi a primeiríssima base da mensagem do Reino na África do Sul.
Estes dois homens começaram a realizar reuniões e a trabalhar de casa em casa para disseminar as boas novas. Em 1903, Frans Ebersohn escreveu ao primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA), C. T. Russell, e pediu que um “peregrino”, ou representante especial da Sociedade, fosse enviado à África do Sul. O irmão Russell respondeu que as circunstâncias do momento não permitiam isto, mas que tão logo possível, isto seria feito.
Em 1906, duas irmãs que emigraram de Glasgow, Escócia, para Durban, eram entusiásticas em espalhar as boas novas. Não demorou muito até que outros se interessaram pela verdade naquela cidade, e, no fim de 1906, havia 40 assinantes da Torre de Vigia de Sião na África do Sul.
Em 1907, certo “Reverendo” Joseph Booth surgiu em cena no drama do Reino na África meridional. Nascido na Inglaterra, mudou-se para a Nova Zelândia com 29 anos, para criar ovelhas e, mais tarde, começou a negociar na Austrália. Juntou-se aos batistas e, depois de algum tempo, sentiu-se chamado para se tornar missionário em África e, destarte, chegou à Niassalândia (agora Malaui), em 1892 como missionário independente. Booth se entusiasmava com a idéia de igualdade para os africanos e da “África para os africanos”. Estabeleceu várias “Missões Industriais”.
No ano de 1900, Booth já havia rompido com a maioria das missões e fizera algumas viagens aos Estados Unidos, onde foi convertido à fé dos Batistas do Sétimo Dia. Logo depois retornou à Niassalândia para estabelecer uma missão para essa organização sabatista. Não demorou muito até que estava em dificuldades com os Batistas do Sétimo Dia. Então se juntou aos Adventistas do Sétimo Dia e estabeleceu uma missão para eles. Também se desentendeu com as autoridades governamentais, visto que elas sentiam forte repulsa pelos planos dele para a mudança social africana. Parece que, em 1906, Booth começou a se interessar nas Igrejas de Cristo e, embora rejeitado pelas Igrejas de Cristo britânicas, encontrou certa acolhida no ramo da Cidade do Cabo, das Igrejas de Cristo da África do Sul. Booth serviu como instrumento para ajudá-las a estabelecer uma missão na Niassalândia. Segundo a publicação Independent Africa, Booth passou de uma denominação para outra como um “caroneiro religioso”.
Perto do fim de 1906, Booth, agora na Escócia, leu alguns dos livros do irmão Russell. Logo partiu para os Estados Unidos. Booth conseguiu uma entrevista com o irmão Russell e esta resultou ser uma palestra muito interessante e crucial. O irmão Russell conhecia muito pouco sobre a formação de Booth e do seu objetivo principal de restaurar a África aos africanos. Não poderia ter sabido que Booth já era tido como indesejável pela autoridades e pelos brancos na Niassalândia, e que já usara várias organizações religiosas para apoiar seus próprios planos. Também, o irmão Russell estava ansioso de encontrar alguém que abrisse um novo campo amplo. Daí, a Sociedade, por algum tempo, assumiu as despesas de Booth como seu missionário para aqueles povos com os quais ele estava familiarizado.
Pouco compreendia o irmão Russell que isto resultaria em muitas dificuldades e em trazer grande vitupério para o nome da Sociedade. De qualquer modo, no início de 1907, Joseph Booth retornou à África e começou suas operações na Cidade do Cabo e em outras partes do país. Sendo persona non grata em Niassalândia, parece que Booth não voltou para lá por um bom tempo, embora, por meio de cartas e mensageiros pessoais, mantivesse íntimo contato com o campo da Niassalândia e exercesse profundo efeito sobre ele.
No número de 1.º de junho de 1908 da Torre de Vigia de Sião, uma carta assinada por L. de Beer, e escrita ao irmão Russell, esclarece um pouco o que acontecia. Diz, em parte: “Estou profundamente interessado em seus seis livros, e tenho dois irmãos similarmente interessados; um deles é um clérigo da Igreja Holandesa; não só um leitor, mas um pensador. Ele é emérito; mora em Pretória, Transvaal, e edita um jornal da Igreja Holandesa, além de pregar, quando solicitado. . . .
“Daí, há um amigo mútuo meu e do irmão Booth, o Rev. J. H. Orr, ministro da Igreja Congregacional Independente, de Wynberg (um de nossos bairros), que já prega algumas das novas verdades contidas em seus livros.
“Como já deve ter ouvido, uma companhiazinha muito boa, da qual eu era um, todos interessados na mensagem do Milênio, reuniu-se na Igreja do irmão Orr para celebrar a Páscoa — cinco europeus, 29 nativos, dirigida em três línguas. Foi uma hora importante e impressiva, uma nova era em nossas vidas.”
Mais notícias da obra na África do Sul aparecem em A Torre de Vigia de 15 de janeiro de 1909. O relatório afirma: “Há três irmãos pretos que pregam a Verdade aos nativos. Um deles viajou para o norte, por cerca de 3.200 quilômetros, para sua região natal, a fim de levar a mensagem. Este irmão, embora jovem, fala várias das línguas nativas e escreve em inglês de forma bem fluente. O mais recente relatório dele é mui encorajador. Os nativos parecem ter ouvidos abertos para as Boas Novas de Grande Alegria, a mensagem da Restituição.”
O jovem africano mencionado como viajando cerca de 3.200 quilômetros para o norte, para sua região natal, era Elliott Kamwana. Kamwana provinha da tribo tanga e fora educado pela missão Livingstonia (Presbiteriana Escocesa) em Bandawe, nas margens ocidentais do Lago Niassa. No entanto, tinha conhecido Booth em Blantyre, Niassalândia, em 1900, e dois anos depois foi batizado em uma das Missões do Sétimo Dia que Booth estabelecera. Viera até à África do Sul mais tarde, trabalhara nas minas por algum tempo e então encontrara-se de novo com Booth no Cabo. Parece que Kamwana ficou com Booth por alguns meses, recebendo algumas instruções, e então retornou a seu país natal, a Niassalândia. Na Torre de Vigia de 1.º de julho de 1909, Booth descreve a distribuição de tratados em Joanesburgo e Pretória, entre os africanos, e então afirma:
“Ficaram muito alegres de que a mesma mensagem que ouviram proclamada em seu país natal, a Niassalândia, pelo irmão Elliott Kamwana, fora trazida para cá.
“Um deles, que só está aqui há três meses, conta que viu Elliott batizar 300 pessoas num só dia; outro sugere que, em certo lugar, há 700 adeptos. E estou ainda informado de que há para perto de 3.000 naquele país, em cerca de 30 locais diferentes; que aceitaram o Plano Divino em preferência ao presbiterianismo e à Igreja Anglicana. O irmão Elliott mesmo relata que há cerca de 9.000 pessoas que estão de alguma forma interessadas, embora nem todas na medida mencionada acima.”
Perto do fim deste relato, o irmão Russell incluiu algumas notícias bem recentes sobre a prisão de Elliott Kamwana, às instâncias dos Missionários Calvinistas Escoceses de Bandawe Lago Niassa. O irmão Russell conclui o relatório com a declaração sucinta: “O irmão Kamwana batizou 9.126 pessoas no ano passado.”
Nenhum comentário é feito sobre esse total fantástico. Naquele tempo, havia muito menos do que esse total de pessoas batizadas em todos os Estados Unidos! Mas, como é que Kamwana o fazia? Que métodos eram usados?
COMEÇAM OS “MOVIMENTOS DA TORRE DE VIGIA”
Em realidade, nem Booth nem Kamwana tinham realmente deixado Babilônia, a Grande, ou a religião falsa; jamais se tornaram Estudantes da Bíblia ou testemunhas cristãs de Jeová. Sua relação com a Sociedade Torre de Vigia (EUA) foi curta e superficial. A Sra. Marjorie Holliday, cujas memórias no que tange à verdade remontam ao início dos anos 1900, descreve como Joseph Booth freqüentemente se empenhava em sabotar as reuniões dos irmãos em seu sobrado de Durban. Afirma nossa irmã cristã, Holliday: “Exemplificando: enquanto cantávamos ‘Libertos da Lei’, ele se colocava do lado de fora e respondia com ‘não libertos da lei’.”
Assim, não é surpreendente que Elliott Kamwana, o aprendiz espiritual de Booth, tivesse uma idéia adulterada das verdades apresentadas nas publicações da Sociedade. Mas, exatamente o que pregava ao retornar à Niassalândia é agora impossível dizer. Certamente parece verdadeiro que marcante caraterística, de sua campanha era seus dramáticos batismos ao ar livre. Mas, estes batismos realizados por Kamwana não tinham relação alguma com o verdadeiro batismo cristão dos servos de Jeová. Seja lá o que tenha dito ou que métodos empregasse, a campanha de Kamwana só durou pouco tempo, aproximadamente de setembro de 1908 a junho de 1909, quando o governo interferiu e o prendeu, mais tarde o deportando para as Ilhas Seychelles. Não lhe foi permitido retornar à Niassalândia senão em 1937, quando prosseguiu sendo líder de um dos falsos “movimentos da Torre de Vigia”.
Infelizmente, como resultado do trabalho de Kamwana, surgiu uma situação na África central que, por longo tempo, era terrivelmente confusa. Desenvolveram-se movimentos que usavam os livros do irmão Russell até certo ponto. Estes misturavam algumas verdades com muitas de suas próprias idéias e métodos. Assim, muitos foram desviados. Nem todos esses movimentos usavam os nomes “Torre de Vigia” ou “Sociedade Torre de Vigia”, com efeito, o movimento que Kamwana liderava com o tempo criou o nome “Missão do Vigia”.
Muitos anos depois, em 1947, devido a que estas falsas seitas da Torre de Vigia ainda causavam algumas confusões, os irmãos encarregados da obra de pregação do Reino na Niassalândia escreveram a Kamwana. Numa resposta escrita e assinada por Kamwana, ele diz: “A Missão do Vigia (Missão Mlonda) não tem tempo a perder com rumores, porque os negros e os europeus na Niassalândia sabem que a Missão do Vigia é separada e distinta da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA) dos europeus.”
Assim, os fatos deixam claro que Kamwana jamais fora um servo verdadeiro e dedicado de Jeová, e parece que ele iniciou ou provocou a formação dos vários falsos “movimentos da Torre de Vigia”. Parece que tudo isso começou com sua “ardente” campanha em 1909. O irmão Nguluh, irmão africano em Joanesburgo que estava na Niassalândia, naquele tempo, assemelhou a campanha de Kamwana a “um fogo desenfreado que queima o mato”. Naqueles dias, havia considerável emigração dos nativos da Niassalândia que procuravam trabalho e melhores salários. Evidentemente, então, foi desse modo que se espalharam falsos movimentos da “Torre de Vigia” por toda a Rodésia, Congo e até na África do Sul.
DURBAN OUVE A MENSAGEM
Agora, voltemos a Durban, no ano de 1906. Marjorie Holliday e sua mãe moravam vizinhas de certa Sra. Morton. A irmã Arnott, de Glasgow, Escócia, constantemente enviava tratados e panfletos à sua irmã carnal, a Sra. Morton. Por sua vez, a Sra. Morton passava esses tratados para a mãe de Marjorie Holliday, a Sra. Agnes Barrett, e com o tempo ambas aceitaram a verdade. Nessa época, havia também uma certa irmã Taylor aqui, vinda da Escócia. Um pouco mais tarde, a irmã Arnott e sua família decidiram vir de Glasgow e fixar-se em Durban. Assim, segundo a irmã Holliday, foram as irmãs Arnott, Taylor, Morton e Barrett que realmente iniciaram a obra em Durban. Um dos seus principais métodos de disseminar a verdade era passar tratados e folhetos às pessoas nas praias.
A própria Marjorie Holliday tomou sua posição à idade de 10 anos, por escrever uma carta de demissão à Igreja Presbiteriana, assim se dissociando de Babilônia, a Grande. Ela também afirma que, em 1910, um irmão de cor, estadunidense, irmão Whiteus, juntou-se ao pequeno grupo de Durban. A irmã Holliday nos conta que ele teve excelente êxito em Durban. Daí, ela menciona um incidente bem surpreendente. Pelo que parece, o irmão Whiteus foi chamado de volta aos EUA, possivelmente pelo irmão Russell. Mas, não muito antes de o navio partir de Durban, ele foi seqüestrado por Booth e trancado num quarto! (Porque Booth fez isso não está claro.) De qualquer modo, as irmãs locais conseguiram descobrir onde o irmão Whiteus estava trancado, e a irmã Barrett teve êxito em soltá-lo, e então escoltá-lo seguramente até o cais, de modo que pudesse pegar seu navio.
Por volta do ano de 1910, tinha-se semeado alguma semente boa, mas coisas estranhas aconteciam na África meridional. A situação não era boa em Niassalândia e Booth estava causando dificuldades em Durban. Era muito necessário que alguém maduro e fidedigno assumisse a supervisão da obra do Reino neste vasto campo.
MOMENTO DECISIVO
O ano de 1910 presenciou novo capítulo na obra do Reino na África do Sul. Nessa época, Booth estava liquidado no que tange à Sociedade. Em meados daquele ano, o irmão Russell enviara William W. Johnston, que provavelmente tinha seus trinta e poucos anos. Era um escocês de Glasgow, sóbrio, cuidadoso e fidedigno, verdadeiro contraste com o volátil e imprevisível Booth. O irmão Johnston tinha sido ancião em Glasgow por vários anos, era profundo estudante da Palavra de Deus e excelente orador. Era uma das “dádivas em homens”, muito necessárias no campo africano, que havia sido seriamente abalado pelos feitos de Booth. (Efé. 4:8) A principal missão do irmão Johnston era ir à Niassalândia, investigar a situação ali e fornecer ajuda aos irmãos.
O primeiro homem branco a descobrir o Lago Niassa tinha sido o famoso explorador e missionário David Livingstone, em 1859. Depois disso, o país foi explorado para a colonização branca pelos missionários das Igrejas Presbiteriana Escocesa e Católica Romana. Tornou-se protetorado britânico em 1891, e parte da África Central inglesa. No tempo da viagem do irmão Johnston, a população da Niassalândia era de cerca de um milhão, com pouquíssimos residentes locais brancos.
O irmão Johnston passou cerca de quatro meses na Niassalândia e relatou que havia perto de cem igrejas, em igual número de aldeias, e milhares de nativos que prestavam lealdade à “presente verdade”. (2 Ped. 1:12, Almeida) Verificou que alguns tinham “bem razoável entendimento da Verdade”. Mas, estava mui desapontado com a atitude geral.
“Alguns deles pareciam imaginar também que eu tinha vindo com os bolsos cheios de dinheiro para dar a todos os pastores e professores e lhes dar empregos lucrativos na Sociedade”, disse o irmão Johnston. “Tive que remover de suas mentes essa idéia. . . . Lamento dizer que, em quase todo caso em que lidei com os irmãos, individualmente suas entrevistas terminavam com um apelo de ajuda financeira de algum modo ou forma.” Também verificou que a influência de Booth era “marcantemente manifesta na obra na Niassalândia”. Alguns guardavam o sábado do sétimo dia. “Fiz o que pude para apresentar a verdade neste assunto”, observou o irmão Johnston, “e consegui, pela graça de Deus, livrar pelo menos alguns da escravidão”.
O irmão Johnston fez esforços de estabelecer alguma forma de organização e escolheu diversos nativos para atuarem como instrutores depois de ter esclarecido a questão do sábado para eles. Também ficou contente de verificar que muitos pareciam “ter forte desejo de familiarizar-se mais intimamente com a Palavra de Deus”. Por algum tempo depois de voltar à África do Sul, recebeu relatórios de algumas dessas pessoas na Niassalândia, mas, depois de alguns anos, houve muito pouco contato. Durante quinze anos, o movimento iniciado por Booth e Kamwana ficou quase que totalmente entregue a si mesmo. Não é surpreendente que tal situação desse origem a falsos e nativos “movimentos da Torre de Vigia”.
PEQUENA FILIAL COM VASTO TERRITÓRIO
Pouco depois de sua volta a Durban, em 1910, o irmão Johnston recebeu instruções do irmão Russell para abrir uma filial da Sociedade Torre de Vigia (EUA) ali. Esta nova filial, de um só homem, era simples sala na School Lane, Durban. Servia como escritório e, às vezes, de local de reuniões. Mas, o território sobre o qual tinha jurisdição era tremendo. A grosso modo, a inteira África, ao sul do Equador, era seu campo. Com efeito, alguns dos territórios que vieram a ficar sob essa filial, tais como o Congo, Uganda e Quênia, estendiam-se bem ao norte do Equador. Também se achava incluída a ilha de Maurício, bem longe, no Oceano Índico, a enorme ilha de Madagascar (República Malgaxe) junto à costa de Moçambique, Sta. Helena, a centenas de milhas no meio do Atlântico, e a ilha de S. Tomé, no Golfo da Guiné. Outrossim, como escreveu o profeta Zacarias: “Quem desprezou o dia das coisas pequenas?” — Zac. 4:10.
ESFORÇOS RESULTAM FRUTÍFEROS
Não é bom desprezar o trabalho dos humildes, tais como o irmão Whiteus. Ele, certa vez, visitou uma casa em Durban e colocou o conjunto completo dos Estudos das Escrituras. A senhora que os obteve não os leu, mas, pouco depois, a filha dela, a Sra. Thompson, levou os livros numa viagem de navio para Glasgow e os leu na viagem. Durante sua estada em Glasgow, alguém visitou sua casa e deixou um convite que anunciava um discurso de Charles T. Russell. A Sra. Thompson compareceu, mas encontrou tão apinhado o local que não conseguiu entrar. No entanto, nesse momento os irmãos decidiram abrir o balcão da orquestra, e assim, a Sra. Thompson conseguiu um lugar de primeira fila para o discurso público. Ela o apreciou muitíssimo. Uma das irmãs locais anotou seu endereço na África do Sul e, no decorrer do tempo, o irmão W. Johnston fez uma revisita. A Sra. Thompson aceitou a verdade e foi batizada logo depois disso. Ela mesma era publicadora fiel e ativa por muitos anos, até 1965, quando faleceu aos 98 anos. Sua filha e duas netas também tornaram-se zelosas Testemunhas. Assim, tal visita feita pelo irmão Whiteus resultou mui frutífera.
No ínterim, em Durban, o irmão Johnston proferia regularmente discursos públicos na Loja Maçônica, na Rua Smith, todo domingo à noite. As assistências ainda eram bem pequenas, mas, entre eles havia um norueguês chamado Myrdal. Sua esposa era convicta Adventista do Sétimo Dia. Os dois discutiam sobre doutrinas noite após noite. Contudo, o Sr. Myrdal levou a melhor nas discussões, e, não demorou muito até que ele, sua esposa e seu filho Henry se tornaram freqüentadores regulares dos discursos do irmão Johnston. Começaram também a assistir às reuniões da manhã de domingo chamadas “estudos bíblicos abertos”.
Também, desde 1911, há registro definido de verdadeiro interesse entre os africanos na África do Sul. Jeremiah Khuluse, de Ndwedwe, pequeno povoado nativo a cerca de 48 quilômetros de Durban, lembra-se de que certo homem chamado Johannes Tshange veio até lá, da Cidade do Cabo. Tshange obtivera conhecimento da verdade na Cidade da Cabo e estava ansioso de disseminá-lo em sua cidade natal de Ndwedwe. O pai de Jeremiah Khuluse ficou interessadíssimo, em especial no novo ensino sobre o inferno. Assim, iniciaram-se estudos bíblicos que eram realizados toda noite. Havia muitos associados com o pequeno grupo. Usavam os Estudos das Escrituras para seus estudos bíblicos, e, em questão de alguns meses, visto que já pregavam a outros religiosos, o clérigo local começou a ficar preocupado. Em resultado disso, os membros da Igreja Metodista Wesleyana se reuniram para considerar o problema. Depois de muitos argumentos, esses recém-interessados na verdade foram excomungados da igreja. Esta foi, provavelmente, a primeira congregação africana de adoradores verdadeiros a ser formada na África do Sul.
O irmão Johnston estava bem ativo em 1911. Ele fez uma viagem especial a Joanesburgo, no Transvaal, e a Parys, no Estado Livre de Orange. Em Joanesburgo, fez muitas visitas e, como resultado, foram feitos arranjos para reuniões de “classes bíblicas”. Excelente reunião foi realizada na Prefeitura de Parys, onde o prefeito apresentou o orador, o vice-prefeito traduziu suas observações para o holandês e cerca de 250 pessoas o escutaram. É claro que o irmão Johnston estava ativo na obra de extensão da classe que era feita pelo povo de Deus em todo o mundo naquele tempo. Logo também se realizavam reuniões em Pretória, Balfour, Port Elizabeth e Ndwedwe.
Embora fossem poucos, os servos de Jeová faziam grande esforço de disseminar a mensagem vital da Bíblia. Num relatório sobre a obra na África do Sul para 1912, o número de 1.º de fevereiro de 1913 da Torre de Vigia, em inglês, mostra que distribuíram 28.808 tratados intitulados “Púlpito do Povo” em inglês, 30.000 tratados intitulados “Jornal de Todo o Mundo” em inglês, e 3.000 “Púlpito do Povo” em holandês. De interesse, também, é breve nota na Torre de Vigia de 15 de novembro de 1913, em inglês, que mostrava haver publicações disponíveis em zulu. As boas novas alcançavam muitas pessoas nesse país.
Também, naquele tempo, os sermões do irmão Russell eram publicados regularmente nos jornais. A Torre de Vigia, de 15 de dezembro de 1913, mostrava que cerca de 600 jornais na Grã-Bretanha, África do Sul e Austrália imprimiam semanalmente seus artigos. Em todo o mundo, o total era de aproximadamente 2.000 jornais. O irmão Johnston tinha organizado uma agência de publicidade para os sermões na África do Sul, e, no fim de 1913, onze jornais no país os publicavam em quatro idiomas.
CHEGA 1914!
Os meses passaram e chegamos a 1914. Em todo o mundo, naquele tempo, os irmãos deviam estar imaginando o que tal ano traria. Os irmãos na África do Sul estavam muito cônscios dessa data. Entre eles se achava o casal Myrdal, em Durban. Henry Myrdal afirma: “Lembro-me bem da data de 4 de agosto de 1914, quando minha mãe, ao ler o jornal disse à família: ‘Aqui está! A Guerra chegou, assim como o Pastor Russell disse em seus livros.’”
Na Grã-Bretanha, muitos observavam com interesse os eventos mundiais, e reconheceram o “sinal”. Estes incluíam um jovem irmão chamado George Phillips, então um rapazinho de 16 anos que fazia o serviço de colportor em Barrow, Furness, Inglaterra. Pouco imaginaria George então que desempenharia importante papel no desenvolvimento da obra do Reino na África meridional!
Lá na Niassalândia, muitos africanos sinceramente interessados na verdade também observavam essa data. Os alemães estavam bem do outro lado da fronteira, em Tanganica (então a África Oriental Alemã) e as tropas inglesas preparavam-se para defender a fronteira. Alguns estavam cônscios de que a profecia bíblica estava sendo cumprida.
Afirma o livro Independent African (Africano Independente) página 230: “Os próprios africanos deixaram seu próprio registro de inquietação que a Guerra lhes trouxe. Parecia, deveras, para muitos, que a profecia da Torre de Vigia, de que o mundo iria findar em outubro de 1914, estava prestes a cumprir-se.” Confirmando isto, há uma carta do irmão Achirwa, de Niassalândia, para o irmão Russell, (publicada na Torre de Vigia de 1.º de setembro de 1914). Entre outras coisas, diz: “Por certo, vivemos no Tempo do Fim, segundo as Escrituras. . . . Mas, lemos na Bíblia que o Libertador virá, e que o Reino de Deus virá, e que todas as nações conhecerão o Caminho de nosso Deus; mas Ele destruirá os iníquos.” Passa então a descrever suas reuniões, que, em ocasiões especiais, eram assistidas por centenas de pessoas de uma só vez.
“PRIMEIRO CONGRESSO SUL-AFRICANO”
Sob este tópico, A Torre de Vigia, de 15 de agosto de 1914, publicou uma carta do irmão Johnston. Escreveu ele:
“O primeiro Congresso Sul-Africano da Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia passou agora para a história, deixando naqueles que tiveram o privilégio de assistir ao mesmo gloriosa memória que servirá de estímulo e inspiração, até que cheguemos ao maior de todos os Congressos, além do véu [no céu].”
Johnston passou então a descrever o que ocorreu em 10 de abril em Durban. Vieram pessoas de todas as partes do subcontinente. Mencionou, em especial, “uma querida irmã que viajou cerca de mil e seiscentos quilômetros”. Johnston também disse: “Éramos ‘pequeno rebanho’ deveras. Nossa maior assistência foi de 34 pessoas.” O irmão Johnston queria dizer 34 Estudantes da Bíblia, pois a assistência no discurso público foi de cerca de cinqüenta pessoas. Considerando a assistência, o número de batizados foi muito grande, um total de dezesseis. Também celebraram a Comemoração da Morte de Cristo no mesmo fim de semana, havendo 32 participantes. Pouco compreendiam tais irmãos que, cerca de 57 anos depois (1971) haveria uma assembléia em Joanesburgo com uma assistência total de cerca de 50.000! Isto certamente nos traz à mente a profecia: “O próprio pequeno tornar-se-á mil.” — Isa. 60:22.
ACUSAÇÕES INFUNDADAS
As primeiras semanas de 1915 foram muito sombrias para a Niassalândia. Nesse tempo, os ingleses e alemães já tinham travado duras lutas na fronteira, resultando na vitória dos ingleses. Muitos africanos foram mortos ou feridos em batalha, mas o pior se seguiria. Em 23 de janeiro houve grave insurreição entre os africanos, liderados por John Chilembwe, líder instruído de uma seita africana. Ele matou alguns europeus locais e tentou causar uma insurreição geral. No entanto, esta foi rapidamente esmagada pelas tropas africanas, e por oficiais e voluntários europeus.
Subseqüentemente, contudo, fizeram-se acusações de que a Sociedade Torre de Vigia (EUA) tinha tido algo que ver com a revolta. Com efeito, a oficial History of the Great War (História da Grande Guerra) se refere a Chilembwe como “fanático religioso . . . da chamada seita ‘Torre de Vigia’”. Cuidadosa investigação desde então provou que aqueles, na Niassalândia, que estavam interessados na verdade e até mesmo os do movimento de Kamwana, um falso “movimento da Torre de Vigia”, não tiveram relação com o tal, ou nenhuma responsabilidade, pelos motins. O livro Independent African examina a evidência sobre isso de forma bem cabal e, na página 324, chega à seguinte conclusão: “O próprio Chilembwe não tinha nenhuma aparente ligação com o estadunidense movimento da Torre de Vigia, e as tentativas de ligar seus projetos insurrecionais com esta organização dos Estados Unidos parecem mal orientadas.” Naturalmente, visto que Chilembwe tinha sido um dos convertidos por Booth, e Booth certa vez tinha tido alguma relação com a Sociedade, os inimigos da verdade usaram tais fatos para tecer acusações e usar a Sociedade como bode expiatório. Na realidade, Chilembwe e seus tenentes eram membros das missões ortodoxa altamente respeitadas. Estas, também, foram muito criticada pelo governo.
O livro Independent African, na página 232, também tece o seguinte comentário interessante sobre as acusações falsas de que as publicações da Sociedade Torre de Vigia (EUA) influenciaram alguns africanos a tomar parte nas insurreições: “Mas, é preciso notar que em parte alguma dos volumes de Russell [o grifo é nosso] foi sugerido que os crentes em seus ensinos deveriam tomar passos ativos para apressar a derrubada destas instituições, em preparação para a Era Milenar; antes, recomendava-se-lhes que esperassem pacientemente a intervenção divina.”
CONTINUA O CRESCIMENTO
Alguns meses depois, lá em Durban, os irmãos realizaram outra excelente assembléia. Esta estava de novo ligada com a Comemoração da morte de Cristo, e 47 pessoas participaram dos emblemas. Para a classe zulu, em Ndwedwe, havia 38 presentes, também 15 em Joanesburgo, 8 na Cidade do Cabo, 6 em Douglas e 2 em Balfour.
O ano de 1914 tinha vindo e passado. Embora os eventos mundiais cumprissem a profecia de forma notável, a obra ainda não tinha terminado e parecia que ainda havia muita coisa a fazer. O irmão Johnston disse numa carta ao irmão Russell: “O ano passado foi um ano de contínuos testes e provações, tanto individualmente como para as Classes [ou congregações]”. No entanto, o relatório da atividade da África do Sul para o ano de 1915 mostra que se distribuíram mais de 4.700 volumes impressos, 75.131 exemplares de publicação grátis circularam e 312 reuniões foram realizadas. De forma alguma a obra tinha ficado parada.
O FOTODRAMA DA CRIAÇÃO
Em 1916, o Fotodrama da Criação chegou à África do Sul. Esta combinação de filmes sonoros e diapositivos delineava o propósito de Deus para a terra e o homem. Pelo que parece, entrou em dificuldades na Província do Cabo e foi proscrito pelas autoridades ali como passível de “ofender as suscetibilidades religiosas” do público.
No entanto, indicando o âmbito do trabalho com o Fotodrama, no início de 1918 o irmão Johnston calculou que, em dezoito meses, ele havia viajado 16.000 quilômetros para exibi-lo em muitas partes do país. O Drama atraiu grandes assistências em toda a parte. Embora lhe fosse negada permissão na Província do Cabo, foi exibido em Durban, Joanesburgo, Pretória e várias outras partes do Transvaal, do Estado Livre de Orange e de Natal. A exibição do Drama não resultou num grande ajuntamento, mas deu mui amplo e poderoso testemunho.
PRIMEIRAS NOTÍCIAS DA RODÉSIA E DO TRANSVAAL
Em 1916, ouvimos, pela primeira vez, certa menção de atividades do Reino na Rodésia. William W. Johnston disse numa carta ao irmão Russell: “Suas comunicações referentes à obra na Rodésia, para o Sr. Nodehouse, foram devidamente recebidas. Escrevi àquele cavalheiro solicitando pormenores e aguardo a resposta.”
A obra de testemunho na África do Sul, naquele tempo, não se limitava de forma alguma às cidades. Na pequena cidade de Koster, no Transvaal ocidental, havia um senhor chamado Japie Theron que estava ativo em estudar a verdade. Theron, advogado capaz, tinha concluído que as religiões do mundo eram falsas. Certo dia, leu no jornal a respeito da notável profecia sobre 1914 que fora publicada pela Sociedade Torre de Vigia (EUA) décadas antes. Assim, Theron solicitou publicações e recebeu os livros Estudos das Escrituras. Logo depois, entendeu a verdade e sentiu ardente desejo de ajudar outros. Amiúde debatia com os clérigos, desafiando-os a provar os falsos ensinos deles, tais como o do inferno de fogo literal.
O irmão Theron por certo tinha muita iniciativa. Em certo estágio testemunhava regularmente no trenzinho que passava todo dia pela sua cidade soltando fumaça. Subindo ao trem na estação, começava na locomotiva e ia trabalhando até a traseira, oferecendo as publicações a todos os passageiros, ao passo que o trem subia lentamente a íngreme inclinação. Ele cronometrava as coisas de modo que, quando o trem chegasse no alto da subida, ele teria terminado seu “território” sobre rodas e pulava fora! O irmão Theron tornou-se amplamente conhecido no Transvaal ocidental e no Estado Livre de Orange e ajudou muitos a aceitar a verdade.
No Transvaal setentrional, a luz já brilhava por algum tempo por ampla área, e muitas publicações eram enviadas pelo correio de uma pessoa para outra. Chegava às mãos de dois jovens que cursavam a escola no povoado de Nylstroom, no Transvaal setentrional. Segundo um destes jovens, Paul Smit, a publicação que havia tocado seu coração e o movera à ação era o folheto Que Dizem as Escrituras Sobre o Inferno?. Usando as palavras do próprio irmão Smit: “Creia-me, Nylstroom tornou-se um centro de comoção, como se fosse atingido por um ciclone, à medida que nós, dois escolares, tornamos conhecido, de forma nada incerta, que as doutrinas da Igreja eram falsas. Nós agíamos com destemor. Naquele tempo, só havia as três Igrejas Reformadas Holandesas e a Igreja Anglicana que gozavam da ‘liberdade da cidade’ de cuidar dos seus assuntos sem serem perturbadas. Assim, poderá bem imaginar, quando ‘viramos a mangueira sobre o inferno’, a fumaça de tormento que subiu! Em curto tempo, o assunto popular era essa nova religião no povoado e no distrito. Os clérigos, naturalmente, quais instrumentos das trevas, desempenharam seu papel bem conhecido de fazer acusações falsas e de perseguir-nos. Seus sermões semanais durante meses, sim até mesmo anos, centralizavam-se nesta ‘religião falsa’.”
PROSPERIDADE ESPIRITUAL APESAR DE DIFICULDADES
As reuniões, lá naquele tempo, eram então conduzidas pelos “anciãos”, eleitos pela congregação com o erguer das mãos. Votos eram também lançados para os diáconos, cuja tarefa era abrir janelas, endireitar as cadeiras, passar os cancioneiros e dar ajuda em geral. Este era o arranjo congregacional daquele tempo.
Em 31 de outubro de 1916, C. T. Russell, o primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia (EUA), faleceu, ficando ativo e fiel até o fim. As notícias disso causaram tristeza e desânimo entre o povo de Jeová. Entre os irmãos, em Durban surgiu o clamor: “Que iremos fazer agora?” Depois da primeira reação pesarosa, iniciou-se um período de provas. A personalidade e a atividade do irmão Russell tinham dominado de tal modo a obra do Reino até aquele tempo, e tantos estavam tão ligados a ele, pessoalmente, que ressentiram as mudanças que tinham de vir após sua morte. Em Durban, o irmão Myrdal lembra-se das discussões surgidas nas reuniões, vez após vez, e de um grupo começar a manifestar-se como estando contra a Sociedade, e causando muitas dificuldades. Divisões e problemas não foram resolvidos com facilidade. Todavia, a obra prosseguiu, com evidência clara da bênção divina.
Em algum tempo, em 1917, a filial da Sociedade na África do Sul foi transferida de Durban para a Cidade do Cabo, quase à sombra da grande rocha da Montanha da Mesa. Fez-se isso devido às facilidades de despachos marítimos, e as pequenas instalações da Rua Plein, 123, Cidade do Cabo, tornaram-se a filial durante os próximos seis anos.
O número de irmãos na África do Sul aumentava continuamente. O irmão Johnston relatou que o número de “irmãos” brancos era calculado entre 200 e 300. A maioria deles se achavam nos quatro grupos ou congregações principais — Durban, Joanesburgo, Pretória e Cidade do Cabo — e muitos outros eram isolados. Em Ndwedwe havia florescente congregação de cerca de oitenta zulus. Havia também pequeno grupo de basutos que se reuniam num lugar chamado Bank, e alguns irmãos xosas se reuniam em East London.
Num relatório, o irmão Johnston teceu estas observações interessantes sobre os irmãos africanos:
“Apesar de que não dispomos de publicações nas línguas nativas, o entendimento da Verdade Presente destes irmãos nativos é fenomenal. Podemos apenas dizer, ‘É obra do Senhor, e isso é maravilhoso aos nossos olhos.’ Nutrindo todos profundo respeito pela Bíblia como sendo a Palavra de Deus, escutam ansiosamente a Verdade que lhes é transmitida pelos instrutores nativos, capazes de ler os volumes em inglês, e de traduzir o que leram para o vernáculo. Não tendo praticamente nada a desaprender, facilmente abraçaram a Mensagem do Senhor quando lhes foi apresentada. A inteligência e sinceridade de sua consagração [dedicação] têm sido comprovadas por seus sofrimentos por motivos de consciência. Quase todos esses nossos queridos irmãos nativos foram solene e publicamente excomungados de Babilônia — expulsos das Reservas das Missões em que nasceram e classificados como pessoas perigosas em suas Localidades [povoados africanos] que constituem seu mundo. Todavia, nenhuma dessas coisas os demoveu; consideram motivo de alegria que lhes tenha sido permitido sofrer por amor a Cristo.”
A obra na Niassalândia já suscitara a oposição do governo, atiçado por missionários invejosos, por causa de suas escolas ficarem vazias e suas igrejas despojadas. “Em resultado disso”, disse Johnston, “vários dos irmãos destacados foram deportados e acham-se agora detidos na Ilha Flat, Maurício”.
ABRE-SE NOVO CAMPO
Desde o século dezessete, Stellenbosch tem sido um centro educativo, em especial para a instrução de clérigos reformados holandeses. Em 1917, Piet de Jager estudava ali na universidade, antes de ir para a missão da Igreja Reformada Holandesa na Nigéria. Parece que um dos seus colegas já aceitara a verdade e estudava as publicações da Sociedade. Isto, naturalmente, preocupava as autoridades eclesiásticas, e assim, Piet de Jager foi designado para falar com seu colega e convidá-lo a assistir o estudo bíblico semanal organizado pela Associação dos Estudantes Cristãos. Qual foi o resultado? O próprio Piet de Jager aceitou a verdade. Pode-se imaginar a consternação que isto causou naqueles círculos eclesiásticos! Logo depois disso, Piet de Jager teve muitos debates ardentes com os professores sobre a alma, o inferno e outros pontos, e não demorou muito até que abandonou o seminário.
Mais tarde, um debate público foi arranjado, entre o irmão Piet de Jager e um doutor de teologia reformado holandês Dwight Snyman, com 1.500 estudantes na assistência. O irmão A. Smit descreve o incidente: “Piet encurralou este erudito doutor em cada ponto e provou pela Bíblia que a igreja possuía doutrinas antibíblicas. Um dos estudantes resumiu o resultado em poucas palavras: ‘Se não soubesse que Piet de Jager estava errado, eu juraria que ele estava certo porque provou tudo pela Bíblia, mediante textos!’”
Enquanto estava na Cidade do Cabo, o irmão Johnston, além do trabalho no escritório, gastava muito tempo no campo, e, certo dia, fez uma visita à cidadezinha de Franschhoek, perto de Stellenbosch. Trata-se de outra das cidades mais antigas da África do Sul e, originalmente, foi povoada pelos refugiados huguenotes em 1688. Também tinha população mestiça (descendentes de pretos e brancos misturados) e o tempo era então propício para que a semente do Reino caísse em bom solo ali. Vários anos antes, algumas pessoas, sob a liderança de Adam van Diemen, um professor mestiço local, e homem dotado de mente brilhante e de elevados princípios, romperam com a Igreja Reformada Holandesa e formaram seu próprio grupo religioso. Deve ter sido em fins de 1917 ou em princípios de 1918 que o irmão Johnston visitou Van Diemen e colocou publicações com ele. O Sr. Van Diemen não só obteve publicações para si mesmo, mas adquiriu um bom suprimento para dar aos amigos. Estes incluíam certo homem chamado Daniels, e, assim um exemplar do Plano Divino chegou às mãos de seu filho, G. Daniels, de 17 anos. Para o jovem Daniels, esse foi o começo duma vida de serviço a Jeová. Van Diemen também aceitou a verdade e tornou-se muito ativo em disseminar a mensagem. Visitou outros lugares tais como Wellington, Paarl, Bellvile, Parow, Elsie’s River, Wynberg e Retreat, na vizinhança da Cidade do Cabo. Esta zelosa atividade obrigou-o a demitir-se de sua posição como professor e a se tornar pregador de tempo integral das boas novas. A mensagem do Reino agora tinha tido bom início neste campo.
Em 1918, William W. Johnston, o superintendente da filial, recebeu nova designação. A Sociedade decidira que o campo na Austrália e na Nova Zelândia precisava de um irmão bom, espiritualmente forte para assumir a supervisão, e assim pediu ao irmão Johnston que fosse para lá. Seu sucessor, como superintendente da filial, foi Henry Ancketill que recebera a verdade em Pietermaritzburgo e tinha sido antes um membro da assembléia legislativa em Natal. Era de descendência irlandesa e, ao mesmo tempo, era um cavalheiro aposentado, já avançado nos anos, de estatura baixa, com cabelo e barba brancos, e uma expressão bondosa. Devido à sua idade, achou pesada demais a carga de trabalho. Todavia, o irmão Ancketill cuidou fiel e eficientemente de sua nova responsabilidade nos seguintes seis anos.
FÉ DEMONSTRADA EM TEMPOS PROVADORES
O novo superintendente da filial, Henry Ancketill, assumiu seus deveres numa época difícil. Os diretores da Sociedade estavam presos nos Estados Unidos, a obra de testemunho estava em declínio, e manifestavam-se os infiéis. Isto era mui evidente em Durban. As discussões e dificuldades que haviam começado logo depois da morte do Pastor Russell tinham crescido todo o tempo, e agora atingiam um clímax sob a liderança dum homem chamado Jackson, que tinha alto conceito de si mesmo e de suas habilidades. Ele e dois outros, Pitt e Stubbs, eram aparentemente os líderes da oposição.
Ocorreu em 1919 uma divisão, e um grupo grande, com efeito, a maioria dos que já freqüentavam as reuniões, tornaram-se opositores e decidiram realizar suas próprias reuniões em separado. Chamavam-se de “Estudantes Associados da Bíblia” e estabeleceram sua própria organização. Isto deixou apenas um grupo de doze pessoas, a maioria das quais eram irmãs. Henry Myrdal se encontrava em difícil posição naquele tempo, porque seu pai se juntou à oposição, ao passo que sua mãe permaneceu leal à Sociedade Torre de Vigia (EUA). No entanto, considerou com cuidado o assunto e orou; e chegou à conclusão, sabiamente, de que a Sociedade tinha de ser a agência abençoada pelo Senhor, e, assim, acompanhou sua mãe.
Cada vez mais pessoas de língua africâner vieram a conhecer a verdade. Willem Fourie é um exemplo. Era sobrinho de Stoffel Fourie, que inicialmente aprendeu a verdade em Klerksdorp com Frans Ebersohn. Seu pai, efetivamente, adquirira um exemplar do Plano Divino das Eras em holandês, por volta de 1906, e viera a compreender que as religiões do mundo eram falsas. Willem Fourie ouvira dizer que Japie Theron, o advogado de Koster, tinha debatido com os clérigos e lhes tinha feito um desafio especial: Ele lhes daria 1.000 libras (uns Cr$ 28.000,00) se conseguissem provar pela Bíblia que a alma era imortal. Naquele tempo, Fourie ainda era membro da Igreja Reformada Holandesa e, visto que precisavam de fundos para construir nova igreja, solicitou-se a seu predikant (“pregador”) que aceitasse este desafio. Mas, ele se recusou, e isto desapontou a Fourie, que mais tarde abandonou a igreja. Por volta de 1919, ele recebeu as publicações da Torre de Vigia, estudou-as cuidadosamente e viu que esta era a verdade. Não demorou muito até que participava no serviço de campo.
Lembram-se daqueles dois jovens em Nylstroom que provocaram sensação por dizerem a todos que os ensinos da igreja sobre o inferno estavam errados? Tanto Paul Smit como o outro jovem receberam o ‘gelo’ de seus melhores amigos. Algum tempo depois, o colega de Paul obteve um emprego da junta escolar e foi submetido a forte pressão de largar sua religião. Ele sucumbiu. Paul verteu muitas lágrimas pela perda de seu colega, mas orou sem cessar a Jeová, e, pela Sua bondade imerecida, jamais vacilou quanto à verdade. Persistiu em pregar mediante testemunho incidental e por emprestar publicações a outros. Tão isolado estava que não compreendia que havia uma organização, e ele teve de confiar inteiramente em Jeová para obter ajuda e orientação. Um pouco mais tarde, recebeu visitas pessoais do irmão Piet de Jager e de outros colportores. Que maravilhosa ajuda tais visitas pessoais devem ter sido naqueles dias!
Embora muito novo e ainda jovem, Paul Smit começou a obter a bênção de Jeová em forma de “cartas de recomendação”. (2 Cor. 3:1-3) Sua primeira ‘carta’ foi o filho dum agricultor vizinho que aceitou a verdade. Em 1922, Paul iniciou um estudo com uma família chamada Vorster, usando o livro A Harpa de Deus, que acabara de ser publicado. Havia sete pessoas na família Vorster e moravam a uns 6,5 quilômetros de distância dos Smits. Paul andava toda semana aquela distância, através dos campos, até à fazenda deles. No decorrer do tempo, os pais e um dos filhos se tornaram Testemunhas. Assim, em 1924, Paul tivera êxito em organizar excelente grupo de treze pessoas, em Nylstroom, esta sendo a primeira classe ou grupo no norte do Transvaal.
Mas, como iam as coisas na África central, na Niassalândia? M. Nguluh estava em Niassalândia naquele tempo, e era pregador da Igreja Presbiteriana. Mas, ele relata que, depois da Primeira Guerra Mundial, os interessados na Niassalândia estavam ativos em disseminar a verdade, e, por volta daquele tempo, 1920, recebeu o livro Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão. Afirma que “abalou meu entendimento da Bíblia como pregador”.
Outro homem que obteve a verdade na Niassalândia por volta da mesma época era um jovem africano chamado Junior Phiri. Seu batismo, contudo, teve de ser feito em segredo, visto que o temor e a suspeita das seitas não ortodoxas resultantes da insurreição de John Chilembwe, em 1915, ainda tornava difícil que fossem executadas certas atividades religiosas. Depois de seu batismo, um dos irmãos apertou a mão de Junior e o avisou de que, dali em diante, correria perigo, mas que tinha de andar fielmente em nome de Jesus.
O irmão Phiri realmente encontrou séria oposição do clero batista local, que insistiu com o chefe que o mandasse prender e levar perante o juiz, onde foi acusado de pertencer à seita proscrita de John Chilembwe. Quando o juiz lhe perguntou por que havia abandonado sua anterior religião batista, Junior explicou que discordava com o ensino dela sobre os mortos e perguntou ao juiz qual era o conceito dele. O juiz disse: “Tanto quanto eu possa ver, os mortos estão em seus túmulos.” Junior concordou com ele e citou João 3:13, e isto, depois de o juiz o ter verificado em sua própria Bíblia, causou boa impressão. Junior assegurou ao juiz que não pertencia à seita de John Chilembwe, mas que pertencia à religião chamada “Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia”. Foi liberto para grande surpresa e desapontamento dos líderes batistas locais.
Agora, vamos saltar uma distância de quase 3.200 quilômetros da Niassalândia até a Província do Cabo, na África do Sul, para ver como o grupo mestiço em Franschhoek está passando. Nessa época, a Igreja Reformada Holandesa local tornara-se cônscia deste novo e vigoroso grupo e começou a fazer algo a respeito. Um colega do jovem irmão Daniels, chamado Van Niekerk, promissor estudante da Bíblia, tornou-se professor habilitado e lhe foi oferecido um bom emprego, com a condição de que ele e sua família voltassem para a Igreja Reformada Holandesa. Eles cederam a tal pressão e retornaram ao “cativeiro espiritual”. Mais tarde, quando Van Niekerk deixou essa área, fez-se a Daniels a mesma oferta, mas ele a recusou. Desse ponto em diante, começou a perseguição, e ela se tornou tão amarga que, por fim, a família teve de mudar-se. Os opositores não os deixavam em paz; certa noite, vieram à sua casa e disseram à família de Daniels que, se não entrassem na linha, usariam a feitiçaria para exterminar toda a família. Em resposta, Daniels citou um hino baseado no Salmo 23, mostrando que confiavam na proteção de Jeová.
Depois disso, o ódio e a oposição aumentaram e se tornou inseguro que os irmãos saíssem sozinhos à noite. Chamavam-nos de todos os tipos de nomes, tais como “russelitas”, “grupo sem alma de Van Diemen”, “falsos profetas” e outros semelhantes. Mas, os irmãos ficaram firmes. Sentiam o cumprimento do que Jesus dissera sobre seus verdadeiros discípulos a saber: “Sereis pessoas adiadas por todos, por causa do meu nome.” — Luc. 21:17.
NOVO LOCAL DA FILIAL
Por volta desse tempo (1923) a filial se mudara para novas instalações à Rua Lelie, 6, onde havia apenas uma grande sala no térreo. A congregação da Cidade do Cabo ocupava cerca de 95 por cento do espaço para suas reuniões, e o irmão Ancketill usava pequeno cubículo nos fundos da sala como seu escritório. No ano seguinte, 1924, a congregação se mudou para outro lugar. Uma divisão separava o escritório perto da porta de entrada, da expedição, armazenagem e gráfica, que ficavam todas no fundo da sala. Construíram-se prateleiras, e arranjou-se espaço para a prensa, quando esta chegou.
ACONTECIMENTOS EM JOANESBURGO
Agora, vamos dar uma espiada em como vão as coisas em Joanesburgo, onde o irmão Johnston formara a primeira classe, vários anos antes. A irmã Iris Tutty, daquela cidade tinha cerca de cinco anos quando começou a participar em distribuir tratados, colocando-os debaixo das portas das pessoas. Ela também se lembra de ficar em pé durante horas junto à escrivaninha de sua mãe, observando-a escrever cartas e cartões que eram enviados a vários “irmãos” em ocasiões de mortes, aniversários, casamentos, e qualquer outra ocasião especial. A mãe da irmã Tutty fazia isso porque era secretária da “Liga de Filadélfia”, instituída pelo irmão Russell, para manter-se em contato com os irmãos e as irmãs em suas alegrias e tristezas, mediante o vínculo do amor fraternal.
Falando-se em sentido social, havia pouquíssimo contato entre brancos e pretos, muito embora, naqueles dias, as leis mais estritas do apartheid ainda não tivessem sido promulgadas. Mas, isto não impedia o testemunho do Reino. Um irmão africano, Enoch Mwale, foi ajudado pela mãe da irmã Tutty a aprender a verdade em 1921, e, um ano depois, começou a participar no serviço de campo. O irmão Mwale estudou por um tempo com os irmãos europeus e mais tarde, depois de receber A Harpa de Deus, os irmãos africanos começaram seu próprio grupo.
A CAMPANHA DOS “MILHÕES”
Em 1921, a Sociedade iniciou extensiva campanha de reuniões públicas que durou vários anos. O famoso discurso “Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”, primeiramente proferido pelo irmão Rutherford, em fevereiro de 1918, começou a ser usado amplamente na África do Sul. O irmão Ancketill, o superintendente da filial, auxiliado pelo irmão Piet de Jager, então no serviço de tempo integral, e um irmão de língua inglesa chamado Parry Williams, visitaram todas as grandes cidades da África do Sul e proferiram este discurso em inglês e africâner. Os resultados foram excelentes. Para o primeiro discurso, no Teatro de Opera, da Cidade do Cabo, 2.000 pessoas estavam presentes. Considerável quantidade de publicações foram colocadas e muito interesse se manifestou. Tais discursos eram realizados tanto em holandês como em inglês, e o livro Milhões era colocado em inglês, holandês e africâner. Nesta viagem extensiva de 1921, tais irmãos visitaram Bulawayo e Salisbury, na Rodésia do Sul (agora Rodésia).
Tanto grandes como pequenas assistências ouviram o discurso. “Viajamos centenas de quilômetros para falar em povoados em que só se apresentam cerca de 80 ouvintes em inglês, e a mesma quantidade de ouvintes em holandês”, escreveu o irmão Parry Williams. Os irmãos P. J. de Jager e William Dawson, anunciados como o orador e o colportor, respectivamente, cuidaram de 70 discursos durante o ano, segundo um relatório com data de 31 de agosto de 1923. Isto dava uma média de quase seis por mês, e a assistência total tinha sido de 9.376. Vários assuntos eram usados em aditamento ao famoso “Milhões Que agora Vivem Jamais Morrerão”, inclusive títulos tão notáveis como “A Ressurreição em Breve”, “Começa o Novo Mundo” e “Todas as Nações Marcham Para o Armagedom”. Usando os endereços entregues em cada discurso, fizeram 2.483 visitas às casas e colocaram milhares de publicações.
As igrejas da cristandade começaram a sentir o calor direto da mensagem. “Na verdade”, afirma o relatório anual de 1923, “em um povoado, uma inteira Igreja Apostólica foi fechada graças ao efeito penetrante de nossa mensagem e isto alegra o coração de todos os ligados à obra. Um escritor do ‘Kerkbode’, jornal da Igreja Holandesa, cumprimentou a A. I. E. B. [Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia] no outro dia por declarar que, embora não concordasse com nossas doutrinas, todavia, ele elogiava o zelo dos seguidores da A. I. E. B. perante os adeptos da Igreja Reformada Holandesa.”
ATIVIDADES DOS COLPORTORES
O serviço de pioneiro ou de colportor, como era então conhecido, também tomava forma. Em 1923, havia seis no serviço de tempo integral, e estes faziam a maior parte da obra de testemunho no país, outros irmãos e interessados empenhando-se mormente em testemunho incidental. Um desses trabalhadores de tempo integral era o irmão Edwin Scott, designado a distribuir exemplares impressos da Resolução adotada no Congresso Internacional de Cedar Point, Ohio, em setembro de 1922. Trinta e cinco milhões de exemplares deste tratado foram distribuídos por toda a cristandade. Este fiel irmão levava grande sacola nas costas com os tratados, tanto em inglês como em africâner, e uma vara na mão para se defender de cachorros bravos! Visitou 64 cidades em quatro províncias da África do Sul, e distribuiu 50.000 exemplares em seis meses. Em adição a isso, este tratado foi mandado pelo correio para os clérigos de toda denominação da África do Sul, e da Rodésia. “Anunciem, anunciem, anunciem o Rei e o Reino” tinha sido o brado de guerra expresso pelo irmão Rutherford naquela famosa assembléia de 1922, e o punhado de irmãos da África do Sul estava determinado a fazer exatamente isso.
No início de 1923, duas irmãs jovens, que por algum tempo tinham sido membros da eclésia (congregação) de Joanesburgo, entraram no serviço de tempo integral. Eram Lenie Theron (irmã carnal do irmão Theron, o advogado de Koster) e Elizabeth Adshade. Elas deixaram seus empregos de professoras e se iniciaram juntas no campo da colportagem. Na excursão de três meses pelo norte de Natal e do Transvaal, estas duas irmãs colocaram 3.188 livros, cerca de 500 livros por mês, cada uma! Uma carta de uma destas irmãs, citada na Torre de Vigia de 1.º de janeiro de 1924, afirma em parte:
“Parece que ando correndo o tempo todo na velocidade máxima, pegando todo tipo de trem. . . . Amiúde, tenho chegado tarde da noite a uma estação isolada, em virtude do atraso indevido do trem; mas, veraz à sua palavra, o Senhor nunca deixa ninguém em apuros. Em cada ocasião, ele colocou no coração de alguém que me ajudasse. Ver Seu devotado e providencial cuidado fortalece a fé da pessoa e aumenta seu amor.
“Um dia, depois de ler de novo aquele lindo artigo sobre ‘Serviço É Essencial’, fiquei tão estimulada que não consegui dormir. Por fim, levantei, segurei um mapa e descobri que estávamos deixando fora de nossa rota Barbeton e outros lugares dum ramal e de imediato resolvi que não deveríamos pulá-los. Mencionei isso à minha companheira; e decidimos que ela iria até lá enquanto eu prosseguia e terminava minha área. O lugar que visitei em seguida era bem pequenininho; só fiz dezoito visitas mas [coloquei] 49 volumes [dos Estudos das Escrituras], 16 ‘Milhões’, e 13 HARPAS grandes. Na noite anterior eu dormira muito pouco, apenas três horas; pois estivera falando até 23,30 horas com algumas pessoas muito interessadas e então arrumei as malas até 2 da madrugada e levantei-me de novo para pegar o trem às 5,30 da manhã. Apreciaria muito contar-lhe todas as pequenas experiências que temos, e quão obviamente nosso Salvador nos guia; mas, não disponho do tempo.” Não é esse um maravilhoso exemplo para nós hoje?
MUDANÇAS IMPORTANTES NA CIDADE DO CABO
Por ampla área e de muitos modos, a obra progredia. Mas, o irmão Ancketill, na Cidade do Cabo, estava adentrado nos anos e achando muito pesado o trabalho. Assim, o presidente da Sociedade, irmão Rutherford, decidiu mandar novo superintendente da filial. O irmão Ancketill tinha trabalhado bem, “defendendo sua posição” durante difícil período do desenvolvimento da obra do Reino. Agora, nuvens de outras dificuldades se formavam sobre os territórios da África do Sul, porém, o sucessor do irmão Ancketill deveria enfrentar essa situação.
No ano de 1924, importantes mudanças ocorriam na Cidade do Cabo. A Sociedade enviara para lá uma prensa, com tipos e equipamentos. Também, novos irmãos chegaram da Inglaterra. Um deles era Thomas Walder, que fora superintendente-auxiliar da filial inglesa por algum tempo. Era um rapaz de uns trinta anos, simpático e robusto, e foi enviado para tomar o lugar do irmão Henry Ancketill como superintendente da filial da África do Sul. Seu colega, George Phillips, alguns anos mais jovem, era um escocês alto e de cabelos claros, de Glasgow.
Em maio de 1924, quando o irmão Rutherford fez uma visita a Glasgow, para uma assembléia, George Phillips foi seu presidente, na manhã de domingo. Ao se sentarem juntos, esperando a vez de subir à tribuna, o irmão Rutherford disse a George: “Você me ouviu fazer o anúncio, ontem à noite, de que eu estava enviando o irmão Walder para a África do Sul? Gostaria de ir junto com ele?” A resposta foi: “Eis-me aqui; envia-me.” Assim, George recebeu duas semanas para preparar as malas, dizer adeus a seus parentes e aos irmãos em Glasgow, e ficar pronto para partir. O irmão Rutherford também lhe disse: “Talvez seja por um ano, ou talvez por um pouco mais tempo, e lembre-se, George, não existe licença em tempo de guerra. Você receberá só o bilhete de ida.”
Quando estes dois irmãos recém-designados chegaram na África do Sul, só havia seis pessoas no serviço de tempo integral ali, e cerca de quarenta que faziam um pouco de serviço de campo. Quanto ao território, era muitíssimo extenso. Incluía a África do Sul, Basutolândia, Bechuanalândia, Suazilândia, a África do Sudoeste, a Rodésia do Norte e do Sul, Niassalândia, Moçambique, Tanganica, Quênia, Uganda, Angola e várias ilhas dos Oceanos Índico e Atlântico, tais coma Sta. Helena, Madagáscar e Maurício.
Logo depois chegou de Brooklyn uma prensa plana de alimentação manual. Sob a orientação dum irmão da Cidade do Cabo que era impressor, os irmãos Walder e Phillips fizeram em cerca de cinco meses um aprendizado de cinco anos. Descobriram o que significa o impressor “diferençar um p dum q”. Não demorou muito até que a pequena prensa imprimia milhares de volantes, tratados e formulários de serviço. Além disso, outras publicações eram preparadas em africâner e em diversas línguas africanas. Um irmão no Estado Livre de Orange, um agricultor chamado Izak Botha, ao ouvir dizer que A Harpa de Deus estava sendo traduzida em africâner, imediatamente fez uma doação de 500 libras (uns Cr$ 14.000,00) para ajudar a pagar a impressão.
SURGEM DIFICULDADES
Uma das primeiras coisas feitas pelo irmão Walder, o novo superintendente da filial, foi dar atenção às Rodésias (do Norte e do Sul) e também à Niassalândia. As publicações da Sociedade já tinham alcançado tais territórios, embora a situação naquela parte da África fosse incerta.
É difícil, agora, formar um quadro preciso do que se passava realmente nas Rodésias no princípio dos anos 20. Em todo caso, o clero da cristandade estava ficando bem alarmado. Em The Rhodesia Herald, de 6 de junho de 1924, havia extenso relatório de uma conferência de missionários, realizada na Rodésia do Sul, em que se discutiu o “movimento da Torre de Vigia” e a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA). Como Elimas, o feiticeiro, que ‘torceu os caminhos de Jeová’, no esforço de impedir o trabalho cristão do apóstolo Paulo, o clero da cristandade lançou acusações falsas contra as hodiernas testemunhas cristãs de Jeová. (Atos 13:6-12) Um clérigo, C. E. Greenfield, acusou a Sociedade Torre de Vigia de propagar o “bolchevismo eclesiástico”. Disse que esta propaganda vinha da Rússia e perguntou se deveria ser tolerada na África. Assim, propôs a adoção da seguinte resolução: “Que, na opinião desta conferência de missionários da Rodésia, o ensino da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA) é subversivo para com a verdadeira religião da Igreja e a lei do Estado, e como tal, sua propaganda entre os nativos deste país é especialmente perigosa; solicita-se que o Governo, destarte, vigie e controle suas operações.”
Outros falaram em apoio desta resolução. O encarregado da Mina de Carvão Wankie (na Rodésia do Sul), Sr. Thomson, descreveu como ‘montões’ de vinte ou trinta pessoas estavam sendo batizadas numa piscina. Tentativas de controlar o movimento, relatou-se, resultaram em grande aumento de conversos, que se dizia então somarem cerca de 1.500. Segundo Greenfield, a propaganda prometia a derrubada do homem branco do poder. A conferência aprovou a resolução, havendo pouca discordância.
Naquela época, era golpe favorito dos missionários e clérigos suscitar o velho fantasma do comunismo. No entanto, muito embora descontemos as referências à Rússia e ao bolchevismo, é incerto se aqueles 1.500 adeptos, que afirmavam ser da Torre de Vigia em Wankie eram nossos irmãos ou membros de um dos falsos “movimentos da Torre de Vigia”. O relato, contudo, deveras serve para indicar que o nome “Torre de Vigia” já era bem conhecido nas Rodésias em 1924, e que havia mister de se esclarecer o assunto.
Assim, perto do fim de 1924, o irmão Walder fez uma visita às Rodésias, visitando as autoridades governamentais tanto na Rodésia do Norte como na do Sul, para verificar o que estava acontecendo em nome da “Torre de Vigia”. As autoridades lhe disseram o bastante para habilitá-lo a compreender que ação tinha de ser tomada, de imediato, para separar aqueles sinceramente interessados em nossa obra dos que pertenciam a movimentos indígenas. No ano seguinte, 1925, um irmão europeu, William Dawson, foi enviado da África do Sul. Ele visitou todos os centros que afirmavam ter qualquer relação com a Sociedade Torre de Vigia (EUA) tanto na Rodésia do Norte como do Sul.
O relatório deste irmão indicava que a ampla maioria de tais pessoas não tinha entendimento real da verdade, conforme exposta nas publicações da Sociedade. Por outro lado, alguns estavam sinceramente interessados, e esses precisavam de ajuda e orientação maduras. O irmão Walder, na Cidade do Cabo, prontamente repudiou os movimentos indígenas que estavam empregando indevidamente o nome da Sociedade, e notificou desse fato os governos interessados. Enviou carta às autoridades responsáveis das Rodésias e da Niassalândia declarando meridianamente que a Sociedade não aceitava nenhuma responsabilidade pelos falsos movimentos que elementos religiosos estavam relacionando à Sociedade.
Por volta do tempo em que o irmão Dawson visitou as Rodésias, certa pessoa chamada Mwana Lesa provocou o terror entre os africanos da Rodésia do Norte. Mwana Lesa (que significa “Filho de Deus”) era um africano da Niassalândia; seu verdadeiro nome era Tom Nyirenda e veio para a Rodésia do Norte através do Congo. Relatórios falam dele como adepto de um dos indígenas “movimentos da Torre de Vigia”, que se transformou em profeta. Segundo o relato do Sunday Times, de 1.º de julho de 1934, feito por Scott Lindberg, ele obteve um exemplar do Book of Martyrs (Livro dos Mártires) de Fox. Nele, viu como os homens brancos nos tempos antigos tinham amarrado “feiticeiras” a uma cadeira e as afogado. Pelo que parece, isto causara profunda impressão nele. Viajando de povoado em povoado, pregava e dizia aos nativos “que a África pertence aos africanos e que era preciso expulsar o homem branco”.
Nyirenda então se associou a Chiwila, chefe de Lala (a parte sul do atual Cinturão de Cobre). Estes dois tramaram para que Nyirenda eliminasse os inimigos políticos de Chiwila por rotulá-los de “feiticeiros” e os afogasse pelo batismo, de modo que ele pudesse ganhar a eleição para a realeza. Afirma o Sr. Lindberg: “Tom ficou então sabendo os nomes de todos os inimigos de Chiwila. Ele chamou os chefes e lhes disse que fora enviado por Deus para limpar a tribo da feitiçaria, e que todo homem, mulher e criança tinham de ser batizados no rio.
“Os nativos supersticiosos foram engodados para um lugar em que um rio ligeiro abria caminho por uma ravina serpenteante no meio das colinas, e ali, em cima de uma grande pedra, no meio do rio, estava Tom, vestido com longas roupa brancas.
“Ele disse às pessoas que Deus o enviara para separar as ovelhas dos cabritos. Então batizou cada pessoa por imersão no rio, com a ajuda dos firmes apoiadores de Chiwila, que seguravam seus inimigos debaixo d’água, com as cabeças contra a corrente, até se afogarem.
“O povo entoava hinos ao contemplarem cada vítima inanimada, e por toda a noite a floresta ecoava as frenéticas exortações de Mwana Lesa.
“Tendo afogado 22 nativos naquela noite, Tom decidiu atravessar a fronteira e estabelecer-se na Província de Catanga, do Congo Belga, onde as autoridades rodesianas não poderiam pegá-lo.”
ESCLARECIMENTO E AJUDA NECESSÁRIOS
No Congo, Tom Nyirenda cometeu outras atrocidades antes de ser preso pela polícia da Rodésia do Norte, julgado, condenado e enforcado na Praça da Prisão de Broken Hill, em frente dos chefes nativos. Estes feitos diabólicos foram relacionados ao nome da “Torre de Vigia”. Mas, Mwana Lesa não tinha qualquer ligação com a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA), ou com os Estudantes da Bíblia, como as Testemunhas de Jeová eram então conhecidas. Pelo contrário, o Sr. Lindberg relatou que Tom Nyirenda “fora recebido na Igreja Católica Romana e conseguiu absolvição enquanto estava na prisão”, antes de ser executado. Apesar disto, os inimigos do reino de Deus, o clero das denominações da cristandade, empenharam-se ao máximo para lançar a culpa disto sobre a genuína Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA) e encher as autoridades e o público de preconceito contra nós, para tentar manter as Testemunhas fora do país. Assim, podemos avaliar o montanhesco obstáculo que teve de ser transposto para se estabelecer a obra do Reino na Rodésia do Norte.
Na Niassalândia, também, nossa posição precisava ser esclarecida e os interessados precisavam de ajuda. Na Torre de Vigia de 15 de dezembro de 1923, acha-se o seguinte relatório do representante da Sociedade: “Recebi, recentemente, a visita do Prefeito —, o Principal Comissário de Polícia. Trata-se de excelente pessoa, um moderno Gamaliel. Ele tem investigado nossa obra na Niassalândia. Ficou aborrecido diante das mentiras tremendamente iníquas que são circuladas sobre nós e que lhe foram contadas pelos clérigos. Declarou que ele se havia disfarçado e ido às nossas reuniões entre os nativos. Ele conhece individualmente todos os líderes. Ele me conta que a verdade se espalha como fogo desenfreado entre os nativos.”
Em qualquer caso, foi bom que a Sociedade enviou John Hudson e sua esposa para a Niassalândia, em 1925, a fim de investigar e organizar as coisas. Sua visita foi de ajuda. John Hudson relata que, durante os quinze meses que passou na Niassalândia, percorreu muitas partes do país e proferiu discursos em muitos lugares. Verificou que a maioria dos irmãos tinha pouquíssimo conhecimento ou entendimento da verdade. Em seus discursos, o irmão se esforçou de ajudá-los a avaliar a importância de se manterem em contato com a Sociedade e aceitarem sua orientação e direção.
O irmão Junior Phiri também afirma que o irmão Hudson os aconselhou a respeito de os maridos se sentarem junto com suas esposas nas reuniões. Na vida tribal africana, o marido não come junto com a esposa, e, quando a família vai à igreja ou a reuniões religiosas, os homens se sentam de um lado do corredor e as mulheres do outro; assim, parece que o irmão Hudson ofereceu bons conselhos sobre esse ponto.
Mas, como relata o irmão M. Nguluh, certos grupos disseram para si mesmos: “Não vamos receber nossos ensinamentos dos homens da Cidade do Cabo, mas faremos o que acharmos que é certo.” Assim, a visita do irmão Hudson deve ter provocado uma separação entre os que estavam dispostos a seguir a orientação da Sociedade e os que não estavam. A parte infeliz é que os não dispostos a seguir a orientação da Sociedade ainda insistiam em usar o nome “Torre de Vigia” e, pelo que parece, um dos seus líderes principais era o Sr. Willie Kavala. Uma das caraterísticas especiais desse movimento era que não cria na ressurreição dos mortos. O irmão Nguluh afirma que estes falsos elementos se recusavam a pagar seus impostos, e diziam que eram os regentes do reino de Deus!
Depois que o irmão Hudson enviou o relatório de sua visita, o escritório da Sociedade Torre de Vigia (EUA) na Cidade do Cabo enviou uma carta às autoridades governamentais na Niassalândia. Ela dizia, em parte:
“A favor da Sociedade acima, gostaria de informá-los que nossos representantes na Niassalândia foram chamados de volta . . . Nossa razão de enviar o Sr. e Sra. Hudson à Niassalândia foi devido às atividades de certas Igrejas nativas, auto-intituladas de ‘Torre de Vigia’. Não podemos endossar este movimento. Perverte completamente os ensinos da Sociedade e, em geral, seus seguidores não mostram inclinação alguma de se submeterem a qualquer orientação ou autoridade da nossa parte. Por conseguinte, dissociamo-nos por inteiro dele.”
Por algum tempo, os que estavam genuinamente interessados na verdade tinham agora de batalhar sozinhos, sem a orientação dum representante da Sociedade na Niassalândia! No ínterim, como progredia a verdade na África do Sul, onde os irmãos usufruíam a plena direção da organização?
AJUDANDO OS AFRICANOS NA ÁFRICA DO SUL
Em Joanesburgo, outros africanos obtinham conhecimento da verdade, e as boas novas eram espalhadas aos que viviam em localidades e compounds de mineração (espécie de casernas ou hospedarias para os africanos). Um deles era Yotham Mulenga. Ele se lembra de como um irmão branco, com o Fotodrama da Criação, veio ao compound onde ele estava. Isto exerceu profundo efeito sobre o irmão Mulenga, que obteve o primeiro volume dos Estudos das Escrituras e, logo depois, começou a assistir às reuniões em Joanesburgo, onde conheceu outros irmãos africanos.
Alguns dos irmãos europeus locais estavam ajudando os africanos naquele tempo. Um deles era o irmão V. Futcher, então gerente auxiliar do compound. Ajudou muitos africanos a aceitar a verdade. Entre estes se achava Albino Mhelembe, da parte sul de Moçambique. Ele entrou em contato com a verdade em 1925, mediante a pregação do irmão Futcher. Antes do fim de 1925, Mhelembe retornou a Lourenço Marques (agora Maputo), capital de Moçambique, e então se dirigiu à sua aldeia natal em Vila Luiza. Ali começou a pregar a verdade aos membros da Igreja da Missão Suíça em Marracuene. Mhelembe teve bom êxito, e, antes de muito tempo se passar, a verdade tinha criado fortes raízes em Moçambique. Até quarenta pessoas assistiam às reuniões, algumas delas amiúde viajando 32 quilômetros para fazê-lo. Sim, a obra do Reino tinha começado a fincar raízes em ainda outro campo.
A PERSEGUIÇÃO NÃO OS DETÉM
Na África do Sul, os principais representantes de Babilônia, a Grande, são os líderes da Igreja Reformada Holandesa. Em muitas ocasiões, perseguiram amargamente os que tomavam sua posição a favor da verdade, fustigando-os de uma cidade para outra, como os judeus descrentes, no primeiro século, fizeram com os apóstolos Paulo e Barnabé. (Atos 14:2, 5-7, 19) Interessante exemplo disso ocorreu no Estado Livre de Orange. Em meados dos anos 20, bem conhecido advogado e sua esposa compareceram a um discurso proferido pelo irmão de Jager no povoado de Boshof. Presentes à reunião pública havia também muitos dignitários locais, alguns do quais, depois disso, foram com o orador a uma sala de chá para lhe propor perguntas bíblicas. O advogado, Sr. Theo Denyssen, e sua esposa, ficaram muito impressionados, obtiveram publicações, e, no decorrer do tempo, ficaram convictos de que esta era a verdade. Logo passaram a testemunhar, a amigos e parentes, e isto de imediato suscitou o ressentimento do ministro reformado holandês local. Logo depois disso, o irmão Denyssen e esposa se demitiram da igreja; e, até o fim de 1925, três de seus parentes e onze de seus amigos também se demitiram, e suas cartas de demissão foram lidas do púlpito.
O irmão Denyssen era um homem bem conhecido naquela parte do Estado Livre de Orange e, assim, sua posição em favor da verdade provocou verdadeira sensação e deu amplo testemunho. Em 1927, ele e pequeno grupo em Boshof participaram no serviço postal, enviando pelo correio cerca de 10.000 folhetos e panfletos, inclusive a resolução “Testemunho Perante o Regentes do Mundo”, a uma vastíssima área da província. Em abril de 1927, a inteira congregação de Boshof compareceu a uma assembléia nacional em Joanesburgo, e nada menos de treze deles, inclusive o irmão e a irmã T. C. Denyssen, foram imersos. No mesmo ano, para manter o passo dos irmãos em todo o mundo que apenas iniciavam a obra de testemunho de casa em casa aos domingos pela manhã, o pequeno grupo também iniciou esta fase do serviço. Os ministros locais da religião falsa, obviamente preocupadíssimos, proferiram uma série de sermões na igreja contra o “russelismo”. Mais tarde, realizou-se um debate público entre um par de irmãos e três clérigos locais; e, como resultado, um sargento da polícia ali presente entendeu a verdade, tomou sua posição e permaneceu firme até a morte.
Enraivecido pelo êxito das Testemunhas, o ministro local de Boshof instruiu seus diáconos e anciãos que visitassem todos os membros da igreja e lhes ordenassem que retirassem seu apoio ao irmão Denyssen e assim prejudicassem sua banca de advocacia. No fim de 1927, a família Denyssen teve de mudar-se, e foi para a cidade de Wellington, não muito longe da Cidade do Cabo. Ali, porém, o ministro local também suscitou uma campanha de perseguição, de modo que, no ano seguinte, a família Denyssen se viu obrigada a mudar-se para a Cidade do Cabo.
Agora, como iam as coisas naqueles territórios bem para o norte, onde a situação entre os africanos causava grave preocupação? Em 1926, George Phillips, da filial da Cidade do Cabo, foi enviado junto com Henry Myrdal para excursionar pela Rodésia do Sul. Foram detidos na fronteira e se lhes disse que só seriam admitidos no país se não trabalhassem entre os africanos. Parecia que as autoridades tinham aceito e estavam fazendo vigorar a adrede mencionada Resolução da Conferência de Missionários!
O método usado pelos irmãos Phillips e Myrdal naquela viagem era ir a uma aldeia ou cidade, contratar um salão, carimbar folhetos de publicidade com seu pequeno conjunto de carimbos de tipos móveis de borracha, daí convidar as pessoas a comparecer. Na reunião, eles anotavam os nomes e endereços dos interessados e então faziam sua obra de revisita com conjuntos de Estudos das Escrituras e da Harpa de Deus. As bicicletas eram o único meio de transporte que tinham para fazer todas essas visitas. Mas, para ir duma cidade para outra eles viajavam de trem. Ao chegarem num novo lugar, invariavelmente encontravam um “comitê de recepção” da polícia. O Departamento de Investigações Criminais estava vigiando cuidadosamente esses dois europeus da Sociedade Torre de Vigia (EUA). Assim, foi desse modo que visitaram Bulawayo, Que Que, Gatooma, Gwelo, Salisbury e Umtali. Em Umtali, o Sr. e a Sra. Gunn aceitaram a verdade. Os dois irmãos também visitaram Wankie, o centro de mineração de carvão. Enquanto estavam ali, apreciaram a viagem até a linda Catarata de Vitória, na vizinhança, uma das vistas mais magníficas de qualquer parte do mundo, e também foram levados numa excursão a uma mina de carvão. Mas, ativeram-se às restrições impostas pela polícia e não fizeram tentativas de entrar em contato com africanos da “Torre de Vigia” que trabalhavam na mina. Depois duma visita de vários meses, em que colocaram mais de 4.200 publicações e suscitaram o interesse em vários lugares, retornaram à África do Sul em tempo de assistir à assembléia anual da Cidade do Cabo, em fins de dezembro de 1926.
OUTRA MUDANÇA NA CIDADE DO CABO
Lá na Cidade do Cabo, na pequena filial, as coisas não iam lá tão bem. O irmão Walder, superintendente da filial, tinha antes estado na sucursal inglesa e estava acostumado a cuidar do comparativamente grande campo inglês, e a realizar grandes reuniões no velho “Tabernáculo” de Londres. Desde o instante em que chegou à Cidade do Cabo, tudo lhe parecia completamente diferente e muito menor. No pouco tempo em que foi superintendente da filial na África do Sul, houve algum progresso, mas, para ele, parecia vagaroso, e a própria pequenez das coisas lhe era uma prova. Ele partiu, perto do fim de 1927, depois de ficar no país três anos e meio.
O irmão Rutherford não perdeu tempo em designar seu ajudante, George Phillips, como seu sucessor na filial, e a obra prosseguiu. O irmão Phillips estava bem preparado para suas novas responsabilidades. Em 1927, já tinha gasto treze anos no serviço de tempo integral e era um homem experiente no campo e no escritório. Tinha profundo apreço pela organização de Jeová, com forte senso de lealdade à Sociedade, mente clara e autênticas qualidades de lutador, que iriam mantê-lo num bom rumo nos tempos difíceis que estavam à frente.
A obra na África do Sul logo começou a ganhar ímpeto. O irmão Phillips havia começado no serviço de tempo integral em tenra idade, e durante toda sua vida ele incentivou outros a provar as alegrias de servir a Jeová como pioneiros. Assim, não é surpreendente que as fileiras dos colportores logo começassem a crescer.
Ao ler sobre a obra que faziam, sua perseverança em face da oposição e seus incansáveis esforços de penetrarem em novos territórios, não se pode deixar de lembrar das experiências similares dos apóstolos de Jesus Cristo, conforme registradas no livro bíblico de Atos.
IRROMPE A VIOLÊNCIA
Incluídos entre os servos de tempo integral daqueles dias achavam-se Piet de Jager e Henry Myrdal, que já então eram companheiros e percorriam o país com discursos e a obra de revisitas. Embora, em muitos lugares, os clérigos locais atiçassem a oposição e fizessem ataques do púlpito ou pela imprensa, mui raramente chegavam ao ponto de violência. No entanto, quando os irmãos de Jager e Myrdal chegaram à cidadezinha de Dewetsdorp, no Estado Livre de Orange, a oposição deveras se tornou violenta. Como era usual, alugaram um salão, prepararam os convites com sua pequena caixa de carimbo de tipos móveis de borracha, e anunciaram o discurso. O cinema local fora alugado para essa ocasião, mas, na manhã do dia em que seria proferido o discurso, o proprietário disse aos irmãos que estava cancelando o contrato. O ministro reformado holandês o informara de que, caso permitisse o discurso, a congregação boicotaria o cinema.
Isto deixou os irmãos em maus lençóis. No entanto, dirigiram-se às autoridades municipais e conseguiram permissão de proferir o discurso público na praça do mercado. Imediatamente prepararam novos convites, distribuíram-nos tão rápido quanto puderam, e o discurso foi realizado naquela noite. Cerca de 75 pessoas compareceram.
Antes de o discurso ir muito adiante, a multidão começou a se fechar sobre o orador e a perturbá-lo. A perturbação aumentou bastante. Subitamente, o irmão Myrdal, em pé ao lado do orador, sentiu forte pancada na cabeça, quase o deixando desmaiado. Felizmente, um policial em trajes civis estava presente e viu o que se passava. Atrás da multidão estava o ministro reformado holandês atiçando sua gente e provocando deliberadamente este ato violento. Certas pessoas foram presas, acusadas no tribunal no dia seguinte, e multadas. Sem desanimar, os dois irmãos continuaram sua excursão de discursos.
Em 1928, a retumbante resolução “Declaração Contra Satanás e a Favor de Jeová” fora entusiasticamente adotada pela assembléia em Detroit, Michigan, levando à conclusão uma série de sete mensagens anuais. Nessa mesma assembléia em Detroit, o discurso estimulante do irmão Rutherford, “O Dominador do Povo”, foi transmitido por uma cadeia telefônica da Torre de Vigia de 107 estações de rádio. Na distante Cidade do Cabo, pequeno grupo lembra-se de ouvir esse discurso pelo rádio de ondas curtas. Mas, em adição à transmissão dos Estados Unidos, foi feito um arranjo para se proferirem discursos radiofônicos pela “African Broadcasting Company”, a única companhia de radiodifusão da África do Sul. Permitiu-se a transmissão de sete discursos, em 1928, dos três estúdios da companhia, na Cidade do Cabo, Joanesburgo e Durban. Desta forma, as boas novas atingiram locais remotos e isolados, e muitos ouviram a mensagem do Reino pela primeira vez.
Também, em fins de 1920, os irmãos fizeram uma campanha postal, nacional, a fim de dar testemunho às pessoas que não podiam ser alcançadas pelo trabalho de porta em porta. Frank Smith, um dos irmãos da Cidade do Cabo, custeou a remessa de 50.000 folhetos a todos os agricultores, faroleiros, guardas florestais e outros que viviam fora dos caminhos usuais. Os membros da eclésia da Cidade do Cabo embrulharam e endereçaram todos esses pacotes postais. Como resultado, foram recebidos muitos pedidos de publicações, junto com cartas animadoras, mostrando que as boas novas, enviadas de forma incomum, traziam conforto e alegria às pessoas isoladas. Os religiosos fanáticos ortodoxos, naturalmente, reagiram de forma usual e houve numerosos ataques ardentes nas revistas religiosas por todo o país.
A ÁFRICA DO SUDOESTE OUVE AS BOAS NOVAS
Foi esse serviço postal que levou a mensagem do Reino a alcançar também o território da África do Sudoeste, isto é, a maior parte de seus mais de 824.000 quilômetros quadrados de terras desérticas ou semi-áridas. Por toda a costa ocidental e cerca de uns 145 quilômetros para o interior acha-se o Deserto da Namíbia. A população esparsa e espalhada de 610.000 pessoas, das quais 60.000 são brancos, compõe-se de sul-africanos, alemães e ingleses, do lado europeu, e dos hereros, ovambos, namas ou hotentotes, damaras e bosquímanos, do lado africano. Adicionado a estes há o grupo que orgulhosamente se intitula de “Basters” (literalmente “híbridos”), por sua origem da mistura dos primitivos colonizadores brancos e os hotentotes.
Em 1928, este país ainda estava absolutamente intocado no que tange à obra de testemunho. Mas, durante aquele ano, quando foi organizada a campanha postal, obteve-se um guia de residentes atualizado do país e um exemplar do folheto O Amigo do Povo foi enviado a cada pessoa cujo nome aparecia na lista. Uma destas sementes do Reino caiu em solo bom, de modo incomum.
Um senhor chamado Bernhard Baade trabalhava numa mina naquela época e costumava comprar ovos de um agricultor vizinho. Certo dia, os ovos vieram embrulhados em algumas das primeiras páginas do folheto O Amigo do Povo. Começou a lê-las, e, ao ler, seu interesse cresceu. Mas, teve de esperar outros suprimentos de ovos, embrulhados no resto das páginas do folheto, para continuar sua leitura. Escreveu solicitando publicações e dentro em pouco tomou sua posição em favor da verdade.
No ano seguinte, 1929, a irmã Lenie Theron foi enviada da África do Sul para Windhoek, África do Sudoeste. Dali, ela cobriu todas as principais cidades de todo o país, de trem e carro postal, viajando um total de 8.000 quilômetros. Muitas das pessoas receberam o folheto enviado pelo correio no ano anterior e falaram dele com apreço. As próprias colocações dela foram fenomenais. Em quatro meses, colocou 6.388 livros e folhetos em inglês, africâner e alemão.
Enquanto a irmã Theron estava ativa na África do Sudoeste, sua colega, Elizabeth Adshade, foi enviada à Rodésia do Sul. Embora enfrentasse bastante oposição da polícia e dos magistrados em vários lugares, ela prosseguiu com bravura e cobriu todos os centros populacionais europeus no país.
Em 1929, a mensagem do Reino atingia uma área mui ampla do vasto campo sob a direção da filial da África do Sul. Falando disto, o Anuário de 1930 (em inglês), afirma: “Pedidos de publicações foram recebidos pelo correio até da Colônia de Quênia, bem ao norte, da África Oriental Inglesa; de Tanganica e da Niassalândia, da África Central Inglesa, e do Congo Belga.”
PROBLEMAS NÃO IMPEDEM O PROGRESSO
O irmão Paul Smit, nosso antigo estudante de Nylstroom, achava-se em Pretória em fins da década de 1920. Relembra ele que o grupo de Pretória enfrentava uma crise, e, entre outras coisas, diz: “Não havia progresso no grupo e organizar a companhia para o serviço abalou o grupo, duas pessoas o deixando. Naquele tempo, um dos anciãos (irmão Möller) estava ocupado em escrever um livro, e embora a Sociedade expressasse sua desaprovação, e eu apelasse para que ele abandonasse tal empreendimento, ele persistiu em seu proceder errado. Numa manhã de domingo, depois da publicação do livro, ele trouxe alguns livros até o salão e solicitou que a classe ajudasse na sua distribuição. Eu fiquei abalado com isto e me levantei e disse destemidamente que a Sociedade desaprovara a publicação dele e que me oporia a quem quer que se opusesse à diretriz da Sociedade.” Isso abalou os anciãos e eles se foram, junto com seus seguidores. Os únicos que permaneceram foram uma idosa irmã inválida e o irmão e a irmã Smit.
Logo depois disso, o irmão e a irmã Steynberg se mudaram para a área de Pretória. Isto foi um grande encorajamento para o reduzido grupo de Pretória e também causou muito bem ao casal Steynberg. O grupo de Pretória tinha atravessado difícil período purificador, mas dali em diante o progresso foi contínuo e sólido.
Isto chega quanto ao grupo europeu de Pretória. E o que dizer dos africanos ali? O irmão Hamilton Kaphwitt se mudou de Bulawayo para Pretória em 1927; mas, visto não haver nenhuma reunião africana ali naquele tempo, ele costumava freqüentar as reuniões dos africanos em Joanesburgo. Daí, em 1931, um irmão chamado Mulauzi veio da Niassalândia e juntou-se a Kaphwitt. Estes dois começaram a estudar juntos A Harpa de Deus. Por um bom tempo, as reuniões para os irmãos africanos em Pretória eram realizadas na casa de Hamilton Kaphwitt. Até mesmo hoje, muitas das congregações africanas nos povoados ou “localidades” próximas das cidades européias se reúnem em casas particulares. A construção de Salões do Reino para os africanos tem sido oposta pelas autoridades governamentais e municipais até agora.
Em janeiro de 1930, o irmão Phillips se casou, e sua esposa juntou-se à equipe da filial. Mais reforço para o escritório também chegou em 1930 — Llewelyn Phillips e George Spence. Llewelyn Phillips veio do País de Gales; não era parente de George Phillips, mas também tinha boa experiência no serviço de pioneiro e servira por vários anos no Betel de Londres.
Foi também no início da década de 1930 que a filial da Cidade do Cabo começou a produzir folhetos nas línguas vernaculares, tais como o xosa, zulu e sesoto. A Harpa de Deus foi publicada em xosa e O Reino, a Esperança do Mundo, saiu em zulu.
PENETRANDO NA ÁFRICA ORIENTAL
Em 1931, outro amplo campo em África começou a ser aberto, o da África Oriental Inglesa. Esta se compunha do que são agora três países separados, Quênia, Uganda e Tanzânia (que consiste em Tanganica e a ilha de Zanzibar). No início dos anos 30, estavam todos sob a jurisdição inglesa. Com o aumento do nacionalismo em África, estes estados, um por um, obtiveram sua independência da Grã-Bretanha. Em 1962, a Tanganica tornou-se a república independente da Tanzânia, dentro da Comunidade Britânica. Uganda tornou-se independente nesse mesmo ano e Quênia em 1963. Devido às muitas nacionalidades e tribos que constituem a população dessas partes, há uma confusão poliglota, mas, felizmente, a língua suaili serve de denominador comum da expressão por toda a África Oriental.
Religiosamente a designação de “África Negra” tem sido apropriada. A maioria dos nativos têm sido adeptos de religiões pagãs. As missões da cristandade, tanto católicas como protestantes, têm estado ativas aqui já por muitos anos, mas como em toda outra parte da África, não produziram cristãos que ‘adoram com espírito e verdade’. (João 4:24) Mas, quando foi que os primeiros raios da verdadeira luz começaram a brilhar nesta região espiritualmente obscura?
Na Cidade do Cabo por volta dessa época, um novo irmão chamado Gray Smith participava no serviço de colportor auxiliar. Seu irmão mais velho, Frank, foi o primeiro a obter a verdade, mas, em 1928, Gray também começou a estudar seriamente. Foi batizado em 1929, e quase que de imediato assumiu o serviço de colportor auxiliar. Mais tarde, juntou-se a Frank numa viagem mui interessante pela África Oriental.
Em 1931, os dois foram enviados ao Quênia para explorar as possibilidades de se disseminar as boas novas na África Oriental. Quênia, naquele tempo, era protetorado inglês, com uma população de cerca de 4.000.000, dos quais cerca de 25.000 eram europeus. Eles pegaram um carro, que haviam transformado em camioneta, e partiram no navio “Saxon Castle” para Mombasa, o porto marítimo do Quênia. Dali, viajaram em sua camioneta os 650 quilômetros até Nairóbi, a capital, para a qual haviam enviado quarenta caixas de livros. Devido às estradas ruins, levaram oito dias para fazer essa viagem. Cobriram Nairóbi e colocaram todos os livros em cerca de um mês. Muitos livros foram colocados com indianos de Goa, porém a maioria das publicações foram ajuntadas e queimadas pelos sacerdotes católicos.
Na viagem de volta à África do Sul, ambos os irmãos contraíram malária. Este era verdadeiro risco para a saúde naqueles dias. Obtiveram passagens num navio que partia de Dar es Salaam, mas ficaram tão doentes e delirantes de febre que foram desembarcados em Durban e levados para um hospital. Frank Smith jamais recuperou a consciência e morreu. Gray Smith mal conseguiu sobreviver e teve de passar quatro meses num hospital. Contudo, perto do fim de 1931, retornou à Cidade do Cabo.
Por volta desse tempo, lá na Inglaterra, um jovem chamado Robert Nisbet tinha deixado um bom emprego num laboratório farmacêutico de Londres e estava prestes a empreender o serviço de pioneiro. O irmão Rutherford, que se achava em Londres na ocasião, mandou chamá-lo e lhe disse: “Estamos procurando alguém que possa ir para a Cidade do Cabo; você gostaria de ir?” Robert concordou e imediatamente começou a fazer seus preparativos.
Ao chegar no escritório da Cidade do Cabo, mostrou-se ao irmão Nisbet outra partida de publicações pronta para ser enviada de navio para a África Oriental, desta feita, 200 caixas! Ele ouviu falar da viagem dos irmãos Smith e da tragédia que ocorrera a Frank. Apesar disso, aceitou ansiosamente a designação de ir para a África Oriental. David Norman juntou-se a ele, e viajaram para sua designação. Deveriam cobrir os inteiros territórios de Quênia, Uganda, Tanganica e Zanzibar — realmente um vasto campo!
Protegendo-se da malária por dormir debaixo de redes contra mosquitos, e tomando grandes doses diárias de quinino, disponível em todos os postos do correio na África Oriental ao preço de custo, bem como usando chapéus ou capacetes contra o sol durante o dia, lançaram sua campanha de testemunho em Dar es Salaam, capital de Tanganica, em 31 de agosto de 1931. Esta não era uma designação fácil, conforme indicado pelo comentário do irmão Nisbet: “O reflexo do sol nas ruas de pavimentação clara, o intenso calor úmido e a necessidade de levar cargas muito pesadas de publicações de uma visita para outra eram apenas algumas das dificuldades que tínhamos de enfrentar. Mas, éramos jovens e fortes, e apreciávamos isso.”
Em uma quinzena, estes entusiásticos pioneiros tinham colocado quase mil livros e folhetos, entre os quais havia muitos “Conjuntos do Arco-íris”, assim chamados por causa das cores variadas dos livros. Isto suscitou a ira dos clérigos, e um aviso foi colocado no quadro de anúncios da Igreja Católica, trazendo à atenção de todos os paroquianos a Lei Canônica N.º 1399 que proíbe os católicos até mesmo de possuir tais publicações em suas casas. A maioria desses livros foram colocados com os indianos. Por não terem publicações em suaili e por falta de instrução da parte destes africanos, os irmãos não podiam trabalhar entre eles.
De Dar es Salaam eles foram para Zanzibar, ilha de cerca de 30 quilômetros ao largo da costa, outrora um centro do comércio escravista. Esta cidade, com suas ruas estreitas e serpenteantes, onde um estranho pode facilmente perder-se, estava envolvida num constante aroma de cravos-da-índia, pois Zanzibar praticamente provê cravos-da-índia ao mundo inteiro. Tinha uma população de um quarto de milhão de habitantes, dos quais cerca de 300 eram europeus — naquele tempo eram os governantes. A grande maioria eram de suailis, e cerca de 45.000 eram indianos e árabes. Muitos livros foram colocados com estes indianos e alguns com os árabes, mas, de novo, a maioria da população, sendo de suailis, não foi alcançada com a mensagem do Reino.
Depois de ficarem dez dias em Zanzibar, tomaram um navio para Mombasa, o porto marítimo do Quênia, a caminho dos altiplanos do Quênia, com sua abundância de legumes e frutas frescos, e clima moderado. Viajaram de trem e trabalharam nas cidades ao longo da linha por todo o caminho até o Lago Vitória. Aqui, atravessaram este mar interior, de uns 400 quilômetros de comprimento por 240 de largura, até Kampala, capital de Uganda. Distribuíram aqui grande quantidade de livros e obtiveram assinaturas de A Idade de Ouro. A uns oitenta quilômetros selva adentro, um cavalheiro viu um amigo lendo entusiasticamente o livro Governo. Veio a Kampala encontrar-se com os rapazes que distribuíam essa publicação. Obteve um exemplar de todos os livros e assinou A Idade de Ouro.
Antes de iniciar sua viagem de volta de carro, eles visitaram outra cidade situada a uns 40 quilômetros mais para o interior e ficaram emocionados de servirem de instrumento para levar a mensagem impressa do Reino, pela primeira vez, tão dentro do interior da África. Voltaram dessa cidade por outra rota e sentiram a gostosa experiência de visitar as Quedas Ripon, a fonte do Rio Nilo. Em sua volta a Mombasa, trabalharam mais alguns povoados ao longo da via férrea. Depois de testemunharem em Mombasa, sob indescritível calor, colocando muitas publicações e proferindo dois discursos com boa assistência, foram a mais um lugar ao longo da costa e então, a bordo do “Llandovery Castle” voltaram para a Cidade do Cabo, África do Sul, numa viagem de 4.800 quilômetros.
Nestas duas viagens pela África Oriental, foram colocados mais de 7.000 livros e folhetos, e obtiveram-se muitas assinaturas de A Idade de Ouro. Algumas dessas sementes sem dúvida caíram em solo bom, pois um cavalheiro que obtivera alguns folhetos escreveu à Sociedade na Cidade do Cabo e pediu um conjunto completo dos livros e folhetos do Juiz Rutherford. Era gerente duma mina de ouro na bundu (área isolada) em Tanganica. E, assim, a grande custo em dinheiro, esforços, e até mesmo da própria vida, por parte de devotados e zelosos pioneiros, a mensagem estava alcançando a África Oriental Inglesa e a obra do Reino progredia.
Sim, em 1931, tremendo campo era alcançado pelos poucos fiéis na África do Sul naquele tempo. Nesse ano, um total de 68.280 livros foram colocados no campo sul-africano e foram realizados oito congressos de serviço para fortalecer a fé dos irmãos. Quantos havia para realizar todo esse trabalho em tão amplo campo? Apenas cerca de cem publicadores na inteira África meridional!
AVANTE, COMO TESTEMUNHAS DE JEOVÁ!
Para coroar o ano de 1931, chegaram do congresso de Columbus, Ohio, nos Estados Unidos, notícias emocionantes a respeito da adoção do nome “Testemunhas de Jeová”. Isto trouxe grande alegria ao povo de Jeová ao redor do mundo, inclusive ao pequeno, mas ativo, grupo na África do Sul. Muitos irmãos encheram-se de reverência diante da idéia de usar o ilustre nome de Deus, mas ajudou-os a avaliar ainda mais o privilégio de declarar o nome de Jeová por toda a África meridional. A obra do Reino e seu desenvolvimento na África meridional tinham atingido outro momento decisivo.
Estimulados pelo seu nome bíblico de “Testemunhas de Jeová”, os irmãos na África meridional foram avante com grande zelo e determinação no início dos anos 30. Cada vez mais armas espirituais e instrumentos teocráticos estavam sendo providos, e, em 1932, o mais poderoso era, sem dúvida, o folheto especial O Reino, a Esperança do Mundo. Em todos os países, as Testemunhas de Jeová se mantinham ocupadas em colocar este opúsculo e em participar de campanha de visitar cada clérigo, político e grande comerciante no território. Muitos deles jamais tinham sido antes pessoalmente contatados, mas, agora, foi-lhes dada essa oportunidade.
Naturalmente, as altas autoridades governamentais e membros do parlamento são difíceis de encontrar. Por isso, os irmãos aproveitaram que, em certas épocas do ano, os parlamentares vão da Cidade do Cabo, a capital legislativa, para Pretória, a capital administrativa. Exatamente no tempo certo quando estes senhores esperavam, na estação da Cidade do Cabo, para partir em sua viagem, os irmãos vieram e lhes presentearam um exemplar deste folheto especial. Com a longa viagem de cerca de 1.600 quilômetros à sua frente, tiveram boa oportunidade de ler o conteúdo da publicação e pensar sobre ela.
Outro instrumento que entrou em uso em 1933 consistia em discursos gravados do irmão Rutherford. A “African Broadcasting Corporation” concordou que a poderosa mensagem destas transcrições elétricas fosse ao ar uma vez por mês a partir de suas três estações principais, na Cidade do Cabo, Joanesburgo e Durban. Desta forma, a mensagem alcançou muitas casas — e, sem dúvida, muitos corações também — na África do Sul, Rodésia do Sul indo tão ao norte quanto a Rodésia do Norte, subindo 3.200 quilômetros pelo continente africano. Ao ouvir os discursos, muitos aceitaram mais prontamente as publicações. Depois de um ano, contudo, um Comitê Consultivo sobre transmissões religiosas foi formado. Compunha-se de clérigos de religiões ortodoxas, que se certificaram de que a mensagem do Reino fosse removida do ar.
No entanto, era impossível parar os zelosos publicadores daqueles dias. Nos pequenos povoados, onde a grande Igreja Reformada Holandesa era o prédio principal por quilômetros ao redor, os agricultores costumavam reunir-se na praça da igreja aos domingos, quando se celebrava a Comunhão (em africâner, isto é chamado nagmaal, que literalmente significa “refeição noturna”). Acampavam ali, com suas tendas e carros de bois. Amiúde, os irmãos passavam entre eles, e isto resultava em muitas palestras. Os irmãos que falavam africâner, em especial, apreciavam muito uma luta espiritual, com as armas da verdade. Mais tarde, estes encontros eram relatados com grande prazer nas suas reuniões de testemunho.
Bem cedo em suas experiências de pioneiro no norte do Transvaal, Fred Ludick teve grave crise de malária. Alguns africanos vieram socorrê-lo e fizeram um preparado duma fruta selvagem, e isto o curou. Mas, em outra ocasião, as coisas não resultaram tão boas para o colega do irmão Ludick, Sidney McLuckie. Este irmão contraiu a febre tifóide. Afirma Fred: “Este meu camarada grandalhão de mais de 75 quilos emagreceu para 40 quilos em poucas semanas, e morreu. Enterramo-lo junto às montanhas em Cala, no Transkei (Província do Cabo).” Assim, outro servo fiel de Jeová dera sua vida no desenvolvimento da obra do Reino na África meridional.
Por algum tempo, o irmão Ludick serviu no bushveld do norte do Transvaal e ali trabalhou com um grupo isolado que incluía o irmão Muller e sua família. No início da década de 1930, o irmão Muller fez tremendo trabalho por todo o norte do Transvaal e até mesmo no norte do Cabo, e ajudou muitos a obterem conhecimento da verdade.
Naturalmente, também tinham suas dificuldades, inclusive no tempo em que Fred Ludick visitou uma estação de missão católica. Ali encontrou o sacerdote e começou a explicar a finalidade de sua visita, mas notou que a face do sacerdote estava ficando cada vez mais corada. De súbito, o sacerdote correu para dentro do prédio, voltou com um revólver e apontou-o para o irmão Ludick. No entanto, Fred se manteve calmo e apenas deu meia-volta e foi andando para o carro, embora sentindo a sua espinha gelada.
Por volta desse tempo, o irmão Ludick já havia “progredido” de sua bicicleta para um modelo Fiat 1928, com raios de madeira. Com este, ele e o irmão Muller cobriram ampla área da selvagem bushveld. Amiúde tinham de dormir sob uma árvore à noite, ouvindo o rugido dos leões. Mas, depois de um dia árduo no campo, percorrendo estradas bem ruins, consertando pneus, furo após furo, dormiam como pedras — com leões ou sem leões! Os freios do carro também lhes causavam dificuldades. Certa ocasião, ao atravessarem o perigoso Desfiladeiro Soutpans Berg, tiveram de amarrar um pedaço de corda de couro cru nos raios das rodas da frente, e puxar forte quando desciam nas partes íngremes — uma provação, acompanhada do cheiro de borracha queimada! Depois duma experiência assim, os dois irmãos ficavam felizes de retornar à fazenda de Muller, onde calorosa acolhida os aguardava por parte da irmã Muller e os filhos. Estas crianças já obtinham bom treinamento em casa, e algumas delas mais tarde iniciaram o serviço de tempo integral. Dois deles ainda servem na filial sul-africana; um deles, Frans Muller, é o atual coordenador da filial.
STA. HELENA RECEBE TESTEMUNHO
Ao passo que esta atividade estimulante ocorria no Transvaal, os pioneiros se preparavam para uma viagem à ilha de Sta. Helena, pequeno pontinho no Oceano Atlântico, a cerca de 1.900 quilômetros ao largo da costa ocidental da África. A ilha só tem uns 121 quilômetros quadrados de área e tem menos de 5.000 habitantes, a maioria sendo de mestiços e muito pobres. Esta ilha remota foi considerada um lugar seguro para o exílio de Napoleão, de 1815 a 1821, quando pertencia aos ingleses.
Gray Smith, tendo agora se recuperado de sua terrível doença, depois da viagem à África Oriental, estava pronto para outro real esforço de pioneiro e se preparava para visitar Sta. Helena. Seu colega desta vez era Hal Ancketill, filho do anterior superintendente da filial, Henry Ancketill. Levaram bom suprimento de publicações e trabalharam cabalmente a ilha toda, colocando cerca de 1.000 publicações.
Em resultado desta visita, um policial, Thomas Scipio, aceitou a verdade e começou a anunciar a mensagem do Reino. Quando se aposentou da força policial, Scipio, com 60 anos, tornou-se pioneiro e se sustentou pelo cultivo de legumes. Seu filho, George Scipio, tornou-se o primeiro superintendente presidente da congregação que mais tarde se formou na ilha.
O irmão Scipio, pai, avaliava desde o início sua responsabilidade de partilhar as boas novas do Reino com outros. Deu testemunho intrépido e amplo a seus parentes e a outros ilhéus. Um ano depois, alguns deles se juntaram a ele na obra de testemunho, e, logo que se tornaram disponíveis fonógrafos e discursos bíblicos em discos, obteve este equipamento. Por muitos anos depois disso, este se provou o seu método mais eficaz de dar testemunho aos que se dispunham a ouvir.
Em 1935, pequeno grupo de seis publicadores foi formado em Jamestown, o único povoado da ilha. As atividades fiéis do grupinho de publicadores ali trouxe resultados, e o grupo cresceu. Um dos novos irmãos, que era dono dum restaurante, também obteve um fonógrafo e jamais perdia a oportunidade de tocar os discos para seus fregueses. Em 1939 já havia dois grupos organizados, um em Jamestown e outro a alguns quilômetros de distância, em Longwood, onde Napoleão fora mantido em custódia.
VOLTA À ÁFRICA DO SUDOESTE
Depois desta visita bem sucedida a Sta. Helena, o irmão Smith decidiu ir à África do Sudoeste em 1935. Para esta viagem, o irmão Smith levou sua esposa e um dos seus filhos. Equiparam uma camioneta com um dos novos fonógrafos e alguns discos.
Certamente passaram momentos agradáveis, colocando nada menos de 13.000 livros e folhetos em apenas cinco meses e obtendo 70 assinaturas de A Idade de Ouro. O clero, na maior parte luterano, católico e reformado holandês, não aceitou isto brandamente. Em um lugar, o ministro reformado holandês acusou o irmão Smith de vender livros sem licença, mas o juiz simplesmente riu e obteve ele próprio algumas publicações.
De novo, algumas sementes da verdade caíram no solo certo. Certo senhor do sul, Abraham de Klerk, que obteve algumas publicações, leu-as e quase que de imediato ficou convicto da verdade. Apegou-se à sua fé recém-achada e ensinou sua família da melhor forma que pôde. Jeová abençoou seus esforços, pois sua esposa e alguns de seus filhos aceitaram a verdade. Quanto ao “Oom” (Pai) Abraham, uma das primeiras Testemunhas na África do Sudoeste, continuou a servir fielmente a Jeová até morrer, em fins da década de 1960.
A SUAZILÂNDIA NOS ANOS TRINTA
Agora, atravessemos para o lado oriental da África do Sul e visitemos outro país interessante, a Suazilândia. Acha-se cercada em três lados pelo Transvaal e, a leste, tem fronteira comum com Moçambique. A área tem cerca de 17.000 quilômetros quadrados, com uma população de umas 420.000 pessoas, da qual apenas alguns milhares são de europeus.
Os pioneiros visitaram a Suazilândia no início da década de 1930 e maravilhoso testemunho foi dado no país. Em adição a visitarem os europeus que moravam nas cidades, também visitaram o chefe principal da nação suazi, o Rei Sobhuza II. Este senhor mostrou grande amabilidade para com as Testemunhas e lhes concedeu uma acolhida real à sua aldeia. Reuniu sua guarda pessoal de cem guerreiros para ouvir uma seleção musical e um discurso gravado do presidente da Sociedade Torre de Vigia, J. F. Rutherford. Também, o irmão F. Ludick, que estava ali, afirma que foi uma experiência e tanto testemunhar ao rei, que estava cercado de cerca de cinqüenta de suas esposas!
Em outra ocasião, Robert e George Nisbet também testemunharam a este rei. Depois de ouvir vários discos do irmão Rutherford, o rei ficou tão deleitado que queria comprar o fonógrafo, os discos e o alto-falante. Uma situação embaraçosa para os pioneiros! Por fim, tiveram êxito em satisfazer o rei por deixar com ele grande estoque de publicações.
ALCANÇANDO MAURÍCIO E MADAGÁSCAR
Em 1933, a filial na África do Sul decidiu enviar dois pioneiros experientes para Maurício e Madagáscar (República Malgaxe). Robert Nisbet e Bert McLuckie receberam a fascinante designação de visitar estas duas ilhas ao largo da costa oriental da África. Primeiramente foram para Maurício.
Antes de partirem de Durban para Maurício, passaram algum tempo tentando aprender francês, que entendiam ser a língua principal de lá. Quando chegaram a seu destino, contudo, verificaram que a maioria dos habitantes falava crioulo, uma espécie de dialeto ou patoá francês. Assim, os pioneiros não conseguiam entender o povo, e o povo não conseguia entender os pioneiros. De fato, o problema do irmão Nisbet era ainda mais complicado, no sentido de que ele possuía forte sotaque escocês. Aconteceu, em certa ocasião que um morador lhe disse: “Por favor, fale comigo em inglês visto que não compreendo sua língua!”
Visto que a influência e o poder principais na ilha eram católicos, não é surpreendente que estes dois pioneiros logo ficassem em dificuldades. Queixas, inspiradas pelos sacerdotes chegaram à polícia, que enviou um cabo à África do Sul confirmando a identidade dos irmãos. A polícia defendeu o direito dos irmãos de pregar, mas avisou-os de que realizar reuniões sem permissão era proibido e que, no caso deles, tal permissão não seria dada. Também, o jornal local La Vie Catholique (Vida Católica), lançou um aviso sobre estes dois “falsos profetas”. Embora isto trouxesse uma queda em suas colocações, não diminuiu sua alegria e determinação em procurar as “ovelhas” prospectivas.
Visitando Maurício ao mesmo tempo que estes dois pioneiros havia o Cardeal Hinsley, católico romano, da Grã-Bretanha com o intuito de oficiar a cerimônia de elevação dum sacerdote ao cargo de novo bispo da ilha. O lugar estava cheio de dignitários e sacerdotes católicos visitantes, que tinham vindo para esta ocasião especial. Isto forneceu aos pioneiros uma oportunidade excelente de oferecer o folheto O Reino, a Esperança do Mundo. Foi Robert Nisbet quem ofereceu o folheto ao próprio Cardeal Hinsley, e este o aceitou sem problemas. Bert McLuckie tentou oferecê-lo ao bispo recém-instalado, James Leen, que quietamente pegou o folheto, rasgou-o em tiras, e jogou-o na cesta de papéis!
Naqueles dias, na ilha de Maurício, os custos de viagem eram mui reduzidos, provavelmente mais baixos do que em qualquer outra parte do mundo. Por exemplo, podia-se percorrer a ilha de trem, em toda a sua volta, daí, de novo de ônibus e de trem por tão pouco quanto meia coroa (uns Cr$ 3,50). Dessa forma, os pioneiros cobriram toda parte da ilha. Além das publicações em francês, colocaram folhetos em chinês e em várias línguas indianas, tais como tâmil, urdu e hindi. Certa ocasião, o editor dum jornal indiano apreciou um longo artigo de A Idade de Ouro que destemidamente expunha o erro da Hierarquia Católica Romana. O editor começou a imprimir este artigo em série. Mas, antes de terminar, a polícia veio e deu ao editor sério aviso de possíveis conseqüências, que o fizeram parar de publicar a matéria. Apesar de grande oposição dos sacerdotes, contudo, os dois pioneiros terminaram sua designação.
Sua visita a Maurício deu amplo testemunho nesta ilha e deixaram pequeno grupo que continuou a dar testemunho informal. Quão felizes devem ter-se sentido os irmãos Nisbet e McLuckie com estes frutos de seus labores! Mas, que dizer de sua visita a Madagáscar?
Esta enorme ilha (a quarta maior do mundo) que se situa ao largo da costa sudeste da África, tem cerca de 1.600 quilômetros de comprimento. A costa leste recebe o pleno impacto das monções e tem grande precipitação pluviométrica! Mas, outras partes da ilha são muito mais secas e, assim, a flora do país varia do tipo desértico para a rica vegetação tropical.
Madagáscar tem uma população de cerca de seis milhões de pessoas de origem bem mista. Parece que os árabes e os hindus estabeleceram postos de intercâmbio comercial em Madagáscar em tempos bem primitivos. Desde então, os portugueses, os franceses e os ingleses tiveram todos algo que ver com tentar colonizar a ilha. Por fim, foram os franceses que tomaram posse dela, e em 1896 ela se tornou colônia francesa. Desde então, a cultura francesa e a língua francesa tiveram grande influência sobre a ilha e seus habitantes. Isto significa que, na década de 1930, quando as Testemunhas de Jeová primeiramente a visitaram com a mensagem do Reino, a religião católica era a predominante.
Robert Nisbet e Bert McLuckie chegaram de navio a Madagáscar em 1933. Começaram seu trabalho de forma cautelosa, iniciando-o em Tamatave, a principal cidade portuária, onde desembarcaram. Rapidamente cobriram o território, colocando muitas publicações, e então foram para a capital, Tananarive, situada no interior.
Ao chegarem a Tananarive, entraram em contato com um lojista grego que possuía algumas publicações da Sociedade em seu próprio idioma. Ele as recebera de seus parentes em Brooklyn, Nova Iorque. Os irmãos ficaram muito animados com isso, e ficaram deleitados quando este hospitaleiro grego lhes forneceu acomodações gratuitas num quarto em cima de sua loja.
Os irmãos Nisbet e McLuckie não conseguiram estabelecer qualquer grupo ou congregação nesta visita. Naturalmente, enfrentaram grandíssimo problema com a língua, visto que pouquíssimas pessoas entendiam inglês. Mas, permaneceram em Tananarive até que haviam colocado todas as suas publicações, antes de voltarem à África do Sul. Assim, muitas sementes da verdade foram semeadas nesta ilha.
ESFORÇOS INICIAIS EM MOÇAMBIQUE
Outro amplo campo em que se fizera muito pouco era a possessão portuguesa chamada Moçambique. A área tem cerca de 786.000 quilômetros quadrados e é mormente plana e de baixa altitude. Sua população agora é de 6.650.000 habitantes dos quais apenas pequena porcentagem é de brancos. A capital é Maputo (ex-Lourenço Marques), importante porto situado no extremo sul perto da fronteira com a África do Sul. O outro porto e cidade importante é Beira, a algumas centenas de quilômetros mais para o norte.
A Igreja Católica dominou o campo religioso durante séculos embora supostamente houvesse liberdade religiosa, e havia bom número de pequenas seitas protestantes que operavam nas cidades. Trabalhos forçados eram empregados nas fazendas, e, para estes, os trabalhadores africanos recebiam muito pouca paga. Também, os castigos dados aos africanos eram severos. Do lado mais brilhante, havia o fato de que na África Oriental Portuguesa não havia barreiras oficiais de cor. Não havia letreiros “Somente Brancos” e nenhuma segregação nos transportes, bancos, lojas, ou em parte alguma. O que possuíam era uma distinção entre os próprios africanos, entre os africanos “incivilizados” e os que chamavam de africanos assimilados ou “civilizados”. Qualquer africano podia subir de categoria, passando de “incivilizado” para “civilizado” por um processo legal. Fazia certos exames e se tornava homem “branco”, ao invés de “preto”, não importava qual fosse sua cor. Um africano que desejasse fazer isso dirigia uma petição ao tribunal local e tinha de provar que era alfabetizado em português, pertencia à fé cristã (católica), tinha certa situação financeira, e estava disposto a viver do modo europeu. A coisa principal era ser capaz de adotar o modo de vida do homem branco. Tinha então direito de ter passaporte, seus filhos gozavam de instrução gratuita e ele tinha direito de votar, mas se tornava sujeito ao serviço militar, e tinha de pagar alto imposto de renda. Apenas pequeníssima proporção dos africanos conseguiam habilitar-se.
Em 1925, a semente do Reino tinha encontrado bom solo entre os africanos nesta parte da terra, e, durante vários anos, cresceu continuamente sem empecilhos. Mas, em fins de 1930, as autoridades começaram a verificar os que assinavam A Sentinela e um bom número deles foram presos. Os presos no sul de Moçambique encontraram outros irmãos na prisão, que tinham vindo da Niassalândia, de modo que havia um grupo bem grande que ficou junto. Foi somente depois de dois a três anos que por fim foram julgados, o que resultou em alguns serem deportados para a colônia penal de São Tomé por doze anos, ao passo que outros foram enviados a campos de trabalhos forçados na parte norte de Moçambique durante dez anos. Na sentença, declarou-se que não deviam ficar juntos em um só lugar, pois então a área ficaria ‘envenenada pelo seu ensino, porque se trata de algo muito forte’.
No grupo sentenciado se achava um irmão chamado Mahlanguana. Ele se lembra de que um dos lugares em que trabalhou, no norte, era grande plantação de coco, perto do pequeno porto de António Enes. Certo dia, o chefe de polícia veio examiná-lo e o achou preparando um sermão bíblico. O chefe relatou isto ao diretor da colônia penal, mas disse que isto não faria mal algum. O chefe de polícia, contudo, deu uma surra no irmão Mahlanguana, e o lançou por quatro meses na prisão. Anos mais tarde, tendo cumprido sua sentença, o irmão Mahlanguana voltou para Vila Luíza. A obra de pregação do Reino tinha ficado parada ali. Mas, sua volta ajudou os interessados locais a começar tudo de novo e a obra cresceu bem.
Desse modo se dera excelente início no campo africano do sul de Moçambique. Mas, que dizer dos europeus?
Foi em 1929 que o primeiro europeu chegou a Lourenço Marques e começou a dar testemunho aos brancos portugueses. Este era Henry Myrdal, que deixara o serviço de pioneiro a fim de se casar com Edith Thompson. Os dois trabalhavam por si mesmos, achando às vezes difícil prosseguirem o trabalho. Mas, em 1933, Piet de Jager, que já por essa época se casara com a zelosa colportora Lenie Theron, foi enviado pela Sociedade para ajudar no campo europeu em Moçambique. O irmão e a irmã de Jager cobriram todo o território europeu ali e colocaram grandes quantidades de publicações, tanto em inglês como em português.
Dois outros pioneiros visitaram Lourenço Marques em 1935, mas sua permanência foi deveras muito curta. Os pioneiros eram os irmãos Fred Ludick e David Norman. Ficaram hospedados com a família Myrdal. Eis aqui sua história: “No quinto dia de nosso trabalho, quando estávamos sentados exatamente como dois visitantes bem comportados tomando chá numa praça pública, o irmão David me disse: Fred, não olhe agora nessa direção, mas à sua esquerda, lá longe, há dois homens que nos vigiam já por meia hora’ . . . Quando chegamos em casa, nesse mesmo dia, a irmã Edith Myrdal disse: ‘A polícia secreta esteve aqui, procurando várias vezes por vocês dois.’ Suas palavras mal tinham terminado quando soou alto a sirena duma camioneta que contornava na esquina, e fomos imediatamente colocados na Maria Negra (a camioneta usada para pegar ou transportar criminosos).”
Os dois irmãos foram conduzidos a alta autoridade, o Sr. Teixeira, a quem David Norman disse intrepidamente que sabia que o bispo estava por trás de toda a conspiração. Isto tocou num lugar mui sensível e Teixeira pulou e disse gritando: “Se fossem cidadãos daqui, eu faria com que fossem banidos agora mesmo para a Ilha da Madeira, mas por serem cidadãos sul-africanos, farei com que sejam deportados imediatamente.” Nesse mesmo dia, os irmãos deixaram Lourenço Marques para a fronteira da África do Sul, com um carro cheio de policiais na frente e outro atrás, todos armados até os dentes de revólveres e espadas. Ao chegarem à fronteira, os irmãos que ainda tinham algumas publicações, testemunharam aos policiais, colocaram publicações com eles e então trocaram apertos de mão com todos ao redor e lhes disseram adeus!
Outras ações do bispo de Moçambique se deram em 1937, quando o irmão Myrdal foi chamado para uma entrevista com o chefe de polícia, que disse que havia recebido uma queixa do bispo. Sua queixa tinha sido de que as publicações da Sociedade, distribuídas pelo país, resultariam em o povo tomar armas e provocar uma revolução. O irmão Myrdal tentou explicar, mas a autoridade não quis escutar e o informou de que, se continuasse a distribuir publicações, seria deportado imediatamente.
No entanto, o irmão Myrdal batalhou. Conseguiu uma entrevista com o governador-geral, a fim de recorrer da decisão da polícia. O governador, embora bondoso, pôs o assunto nas mãos de seu auxiliar, o Sr. Mano. Acontece que Mano era uma pessoa muito razoável, nominalmente católico, mas em desacordo com muitas das doutrinas da Igreja. Ele leu as publicações da Sociedade com cuidado e chegou à conclusão de que era falsa a acusação de que elas fomentariam a revolução. O Sr. Mano ficou muito impressionado com os livros, e disse que não tomaria nenhuma ação. Assim, o plano do bispo de livrar-se das Testemunhas de Jeová estava sendo frustrado.
No ínterim, os patrões do irmão Myrdal ficaram muito aborrecidos diante da possibilidade de ele ser deportado. Devido à atitude deles, o irmão Myrdal pediu demissão, mas, ao invés de a aceitarem, a firma por fim decidiu transferi-lo para sua loja de Joanesburgo, o que entraria em vigor mais tarde, em 1939.
Todavia, outra tentativa de enviar pioneiros europeus para Lourenço Marques foi feita em 1938. David Norman veio de novo, desta feita com novo colega, o irmão Frank Taylor, que chegara recentemente da Inglaterra. Mas, em questão de alguns dias depois de sua chegada, a polícia entrou de novo em ação. Suas instruções eram de que os dois pioneiros tinham de parar de trabalhar ou seriam deportados de imediato. A filial da Cidade do Cabo aconselhou os pioneiros a voltar à África do Sul, mas deixar seu grande estoque de publicações em português com o casal Myrdal.
No ínterim, o governador-geral, que fora amigável e simpático, e que era benquisto pelo povo, foi removido pelo governo português e transferido para a pequena colônia portuguesa de Goa, na Índia. Fanática autoridade católico-romana tomou seu lugar.
Compreendendo que a permanência do casal Myrdal em Moçambique duraria pouco, a Sociedade sugeriu que os exemplares das publicações fossem enviados pelo correio a cada autoridade do governo através do país. O casal Myrdal preparou envelopes com publicações em português e, no próprio dia anterior à sua partida do país, colocou estas centenas de pacotes em várias caixas do correio.
Embora nenhum interesse definitivo tivesse sido estabelecido no campo europeu de Moçambique, havia rápido progresso no campo africano, apesar da perseguição. Em 1940, o número de publicadores africanos em Moçambique já atingira um auge de trinta e oito. Realizavam reuniões em quatro centros diferentes.
ORGANIZANDO-SE NA NIASSALÂNDIA
Depois da visita do irmão Hudson à Niassalândia, em 1925, os poucos que continuaram a buscar orientação da Sociedade se mantiveram em contato com o escritório da Cidade do Cabo. Daí, em 1933, tornou-se evidente que havia um núcleo de pessoas sinceramente interessadas que precisavam de ajuda. Assim, fez-se uma petição para se ter um representante europeu na Niassalândia. O pedido foi recebido favoravelmente pelo governador. Assim, em maio de 1934, abriu-se um depósito naquele país, em Zomba, sob a supervisão da filial da África do Sul. Tanto quanto o escritório da Cidade do Cabo podia julgar, havia então cerca de cem pessoas sinceramente interessadas na Niassalândia. Bert McLuckie foi enviado da África do Sul para organizar a obra naquele campo.
Seu destino era a casa de Richard Kalinde, onde permaneceu por um mês, mais ou menos. Este irmão africano se tornaria companheiro íntimo dele, durante sua estada na Niassalândia. O irmão McLuckie mal tinha começado, quando sofreu grave ataque de malária, que o lançou num hospital por duas semanas. Depois de sua recuperação, conseguiu obter duas salas para serem usadas como o depósito da Sociedade na Niassalândia. Usou uma como escritório e a outra como dormitório.
Sua tarefa principal, de início, era pôr ordem nas condições caóticas causadas pelos chamados “movimentos da Torre de Vigia”. Isto não resultou ser tão difícil como tinha esperado. Por um lado, o chefe de polícia na Niassalândia reconhecia que os falsos movimentos africanos nada tinham que ver com a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (EUA). Também, a filial da Cidade do Cabo dera clara orientação ou direção para que cuidasse da situação. Ele visitou grupo após grupo, em todas as partes da Niassalândia. Após proferir um discurso em cada lugar, o irmão Kalinde atuando como intérprete, simplesmente lia a resolução publicada no folheto O Reino, a Esperança do Mundo. Esta resolução se relacionava ao nome bíblico “Testemunhas de Jeová”. Solicitava-se a todos os que estavam a favor desta resolução que mostrassem isso por erguer as mãos. A maioria deveras erguia as mãos, porém muitos eram insinceros, como provaram eventos posteriores.
O irmão McLuckie fez outras visitas às congregações, de tempos a tempos, e ajudou muitos deste modo a retirar seu apoio dos falsos “movimentos da Torre de Vigia” e seus líderes. Ao fazer este trabalho, o irmão McLuckie teve muitas experiências interessantes, visto que algumas congregações estavam muito longe das estradas comuns. Às vezes, os irmãos locais realmente construíam estradas que se estendiam por quilômetros mata adentro, para que seu carro pudesse atingir seus locais de reunião. Um grupo bem isolado só pôde ser alcançado de canoa. Tratava-se duma viagem bem perigosa, de dezenas de quilômetros no meio de águas infestadas de crocodilos. O irmão McLuckie sentou-se numa cadeira, no meio da canoa, tendo cuidado para não balançá-la, e os irmãos africanos se revezavam em remar. Ele certamente apreciou o modo como os irmãos forneceram acomodações e alimentos, e mostravam seu apreço pelas coisas espirituais.
O irmão McLuckie também trabalhou entre os europeus na Niassalândia, e, em certo ponto, visitou um lugar chamado Karonga. A fim de chegar lá, teve de descer de carro pelo Monte Livingstonia, por uma estrada de curvas tão fechadas que teve de parar o carro e fazê-las por lentamente dar marcha à ré e então ir avante. Um de seus contatos foi com dois comerciantes gregos que obtiveram publicações em sua própria língua. Mais tarde, um deles foi batizado.
Em novembro de 1934, dois pioneiros da África do Sul fizeram uma viagem pela África Oriental Portuguesa e entraram na Niassalândia. Puderam testemunhar às pequenas populações européias de Zomba, Blantyre, Limbe e outros lugares. Os registros mostram que colocaram setecentos livros e folhetos nessa viagem. Pelo que parece, esta era a primeira vez que qualquer trabalho sistemático de casa em casa tinha sido feito entre os europeus ali.
Assim, por fim, sólida organização teocrática estava sendo estabelecida na Niassalândia. Os relatórios do serviço de campo também estavam sendo ajuntados e, para 1934, a média de publicadores era de vinte e oito. Logo depois disso, o irmão McLuckie foi chamado de volta para trabalhar na filial da Cidade do Cabo. Seu irmão, Bill McLuckie, assumiu a direção do depósito na Niassalândia em 17 de março de 1935, e serviu ali fielmente por muitos anos.
À medida que a organização teocrática se estabeleceu entre os muitos interessados na Niassalândia, o número dos participantes no serviço de campo e que relatavam aumentou muito rápido. O ano de 1935 presenciou o número de publicadores aumentar de 28, em 1934, para 340! No ínterim, a oposição local também crescia e alguns dos missionários da cristandade incitavam as autoridades do governo para interferirem nas atividades dos irmãos. Tiveram deveras êxito em proscrever um dos folhetos e a revista A Idade de Ouro naquele país, a partir de novembro de 1934. Mas, o crescimento continuou e, em 1937, o número de congregações tinha subido para 48, e o auge de publicadores ascendera para 1.319.
Logo depois disso, alguns discursos foram gravados em cinianja e estes foram muitíssimo apreciados pelos irmãos africanos. Muitas das congregações se juntavam para comprar equipamento sonoro, algumas faziam arranjos para pescarias em grupo no Lago Niassa, então levando seus peixes para o mercado e incluindo a renda no seu “fundo para fonógrafos”. Em alguns locais do norte, compravam enorme árvore, e então a derrubavam e a levavam flutuando para seu povoado. Ali, escavavam o tronco e o transformavam numa canoa. Esta era então vendida, e com o dinheiro eles conseguiam comprar um fonógrafo. Isto significava meses de trabalho árduo para os publicadores, mas os habilitava a conseguir um fonógrafo e tornar mais eficaz sua atividade do Reino. O livro Riquezas foi publicado em cinianja naquele ano, fornecendo à congregação maravilhoso alimento espiritual. Por conseguinte, o servo do depósito pôde relatar que havia uma união entre os irmãos tal como nunca antes houvera.
ESFORÇOS RENOVADOS NA ÁFRICA ORIENTAL INGLESA
Conforme mencionado antes, a África Oriental Inglesa foi visitada em 1931 pelos irmãos Gray e Frank Smith, e, mais tarde, por Robert Nisbet e David Norman. Muitas publicações tinham sido colocadas durante essas visitas e amplo testemunho fora dado. Mas, era tempo para outra visita.
A terceira campanha na África Oriental aconteceu em 1935 por parte de quatro pioneiros da África do Sul. Eram Gray Smith, sua esposa, e os dois irmãos Nisbet, Robert e George. Desta feita, estavam bem equipados com duas camionetas de 750 quilos, adaptadas como dormitórios, e contendo camas, cozinha, suprimento de água e um tanque extra de gasolina, também telas removíveis de filó para proteção contra os mosquitos. Esta mobilidade os habilitou a alcançar lugares não testemunhados antes, embora as estradas às vezes fossem tomadas pelo mato até de três metros de altura. Amiúde dormiam nas florestas e podiam ver, ouvir e sentir o pulsar do coração da África, com sua abundância de vida selvagem — leões rugindo à noite, zebras e girafas pastando pacificamente, e a ominosa presença de rinocerontes e elefantes.
Ao chegarem a Tanganica, separaram-se. O irmão Smith e esposa permaneceram em Tanganica por algum tempo, ao passo que os irmãos Nisbet foram para Nairóbi, onde o casal Smith deveria reencontrá-los mais tarde. Quando em Tanganica, o casal Smith foi preso e se lhe mandou que retornasse à África do Sul. Mas, o irmão Smith decidiu prosseguir para Nairóbi, visto possuir um passaporte sul-africano endossado como “súdito britânico por nascimento”. Ao chegar a Nairóbi Quênia, ele e sua esposa de imediato se dirigiram às autoridades policiais e obtiveram permissão de ficar ali, ao depositarem 100 libras (uns Cr$ 2.800,00) que receberam de volta ao retornarem para o sul.
Daí foram para Uganda. Ao chegarem a Kampala, notaram ser um lugar hostil, onde a polícia os mantinha sob contínua vigilância. Outrossim, tiveram êxito em colocar muitas publicações antes de serem obrigados a deixar Uganda, devido à ordem de deportação do governador. Assim, retornaram a Nairóbi, onde mais uma vez se juntaram aos irmãos Nisbet.
Aqui, também, provaram a oposição das autoridades, mas foi dado excelente testemunho, sendo distribuídos mais de 3.000 volumes, e, aproximadamente, 7.000 folhetos, obtendo várias assinaturas de A Idade de Ouro. Vigoroso protesto foi feito contra as ordens de deportação, mas sem nenhuma explicação satisfatória das autoridades.
Durante esta campanha, Robert Nisbet contraiu febre tifóide e foi deixado no hospital de Nairóbi, enquanto o restante do grupo retornou. O irmão Smith e George Nisbet tentaram entrar em Zanzibar, mas lhes foi negada a permissão; assim, voltaram para a África do Sul. Robert Nisbet se recuperou bem, e, mais tarde, em 1955, tornou-se o primeiro superintendente da filial em Maurício. Seu irmão George, depois dum período de serviço missionário em Maurício, foi enviado de volta à África do Sul e começou a servir na filial sul-africana em 1958.
Estes pioneiros que abriram caminho para a “África Negra” deveras possuíam grande fé, de modo a enfrentar todas as dificuldades e perigos que esta empresa envolvia. Dentre os seis pioneiros, quatro passaram bastante tempo nos hospitais — como resultado da hematúria malárica, da malária e da febre tifóide. Através de seus esforços, tremenda quantidade de publicações foram distribuídas, lançando uma base para a obra de edificação espiritual que os graduados da Escola de Gileade iriam começar nos anos 50.
MAIS PROGRESSO NA RODÉSIA DO SUL
A última visita à Rodésia do Sul (agora Rodésia) fora feita em 1929 por uma pioneira isolada, a irmã Adshade, que encontrara muitos obstáculos por parte das autoridades. A visita seguinte de pioneiros da África do Sul foi feita em maio de 1932. Tratava-se dum grupo de quatro pioneiros em dois carros, o irmão e a irmã Piet de Jager, e os irmãos Robert Nisbet e Ronald Snashall. O grupo chegou à fronteira numa tarde de sábado, quando as autoridades estavam participando num jogo de tênis. Os irmãos declararam que representavam a Associação Internacional dos Estudantes da Bíblia, e as autoridades, talvez ansiosas de voltar a seu jogo, não fizeram outras perguntas; daí, não compreendiam que estavam permitindo a entrada no país de representantes da real Sociedade Torre de Vigia (EUA). Mas, logo depois as coisas pegaram fogo. Depois de apenas alguns dias de trabalho em Bulawayo, os pioneiros foram convocados à sede do D. I. C. (Departamento de Investigações Criminais) e à delegacia de polícia, e tiveram de fazer declarações extensivas por escrito.
Vários dias depois, por ordem do governador, os irmãos receberam instruções de deixar o país em 48 horas, e não se permitiu nenhum recurso. Consultaram um senhor amigável que tinha experiência legal e, seguindo seus conselhos, insistiram em apresentar um recurso, recusando-se a ir até que se fizesse uma decisão. Apresentaram seu recurso ao chefe do D. I. C., para transmiti-lo ao governador. No dia seguinte mesmo, os jornais na Inglaterra e África do Sul publicavam relatórios do incidente. O Cape Times, de 30 de maio de 1932, dizia: “BULAWAYO, sábado. Quatro visitantes europeus da União, que chegaram aqui há três semanas, com intenções de fazerem serviço missionário, receberam ordens de deixar a Colônia até a próxima segunda-feira, sendo considerados pelas autoridades como ‘habitantes ou visitantes indesejáveis’.
“As autoridades, diz-se, desaprovam as doutrinas que crêem os missionários tencionam propagar.”
No ínterim, os irmãos tinham entrado em contato com a filial de Londres, e dali a Sociedade enviou um cabograma ao Alto Comissário da Rodésia do Sul. Como resultado, a decisão foi mudada e o grupo teve permissão de ficar por seis meses, uma vez que não trabalhasse entre os africanos. Esta era agora a terceira vez que excelente testemunho era dado à população européia na Rodésia do Sul. Embora não haja registro de qualquer interesse notável suscitado nessa ocasião um testemunho pessoal e cópias do livro Vindicação e do folheto O Reino, a Esperança do Mundo, foram dadas a quase todos os regentes deste país.
Durante sua estada, o irmão P. de Jager fez uma visita especial ao Sr. Moffat, primeiro-ministro da Rodésia, em sua fazenda. Pelo que parece, tiveram uma palestra mui amigável. Em resultado, o irmão de Jager escreveu cartas às autoridades solicitando permissão para que se enviassem representantes, europeus, de modo que a obra da Sociedade Torre de Vigia (EUA) entre os africanos ficasse sob adequada supervisão. Fez isso em outubro de 1932. A filial na Cidade do Cabo já enviara uma carta, para esse fim, ao secretário colonial do governo na Rodésia do Sul, datada de 14 de setembro de 1932. No entanto, este esforço conjugado da filial da Cidade do Cabo e do irmão de Jager fracassou. Parece que as autoridade rodesianas, instigadas pelo clero local, tinham fechado a porta para as Testemunhas de Jeová na Rodésia.
A filial da Cidade do Cabo não aceitou esta negativa, e escreveu outra carta comprida ao secretário colonial da Rodésia em outubro de 1932, expressando seu ponto com muita firmeza. A resposta veio breve e sucinta: “O Governo não pode reconsiderar sua decisão previamente comunicada a V. S., na qual certos representantes de sua sociedade foram declarados imigrantes proibidos para esta Colônia.” Ainda outra tentativa uma carta dirigida ao Ministro dos Assuntos Internos da Rodésia, um ano depois, em novembro de 1933, trouxe a mesma resposta.
A filial da Cidade do Cabo continuou tentando, e cada ano, por diversos anos em seguida, escreveu longa carta às autoridades de Salisbury, solicitando permissão para enviar representantes especiais da Sociedade a fim de organizar e dirigir a obra do Reino. O governo, por sua vez, escreveu regularmente, em resposta, recusando permissão. O fato de que, em 1934, as autoridades da Niassalândia deram permissão que se abrisse um depósito e que um irmão europeu organizasse a obra ali, e que similar arranjo fora feito na Rodésia do Norte, em 1936, forneceu à filial da Cidade do Cabo nova munição para usar nesta luta. Em 1938, pelo que parece, dois pedidos foram feitos, e em resposta ao segundo, uma carta do Secretário de Assuntos Nativos, datada de 16 de novembro de 1938, dizia: “Estou autorizado a informar a V. S. que o Governo não está preparado para reconhecer a Sociedade até que disponha de mais tempo para observar o efeito do reconhecimento na Rodésia do Norte e na Niassalândia. E, ainda mais, que é improvável que o Governo concorde em conceder o reconhecimento à Sociedade até que suas publicações sejam menos inadequadas para os nativos desta Colônia.”
No entanto, os esforços de promover a obra do Reino na Rodésia do Sul assumiram outras formas além da troca regular de cartas entre a filial da Cidade do Cabo e o governo da Rodésia do Sul. Em 25 de outubro de 1935, o Southern Rhodesia Government Gazette (espécie de Diário Oficial da Rodésia do Sul) publicou o texto de dois projetos de lei formulados para controlar a obra de pregação. Um foi mencionado como “Lei dos Pregadores Nativos, 1936”, visando controlar os movimentos religiosos entre os nativos pela expedição de certificados aos pregadores e instrutores nativos. Depois de muitas discussões e debates, este projeto de lei não foi transformado em lei. Outro projeto de lei, mencionado como “Lei Contra a Sedição, 1936”, tinha por fim suprimir declarações, jornais, gravuras e discos de gramofone sediciosos. Discussões e debates subseqüentes tornaram bem claro que este projeto de lei era especialmente dirigido contra a obra da Sociedade. Esta Lei Contra a Sedição, antes de promulgada, sendo tão obviamente uma nova arma forjada contra a obra do Reino, atraiu sobre si o fogo do escritório da Sociedade em Brooklyn. O próprio presidente Rutherford escreveu uma carta ao primeiro-ministro da Rodésia do Sul, e a todos os membros da assembléia legislativa, avisando-os do perigoso curso que seguiam. A filial da Cidade do Cabo imprimiu 25.000 cópias desta carta e estas foram enviadas a todo europeu cujo nome aparecia no guia da Rodésia do Sul.
Mas, apesar disso, a Lei Contra a Sedição foi promulgada e, pouco depois, quatorze publicações da Sociedade foram declaradas sediciosas (sete volumes encadernados e sete folhetos). Como caso-teste, exemplares deles foram de imediato enviados pelo correio para um irmão africano, o irmão Kabungo, que visitava as congregações da Rodésia do Sul naquele tempo. As autoridades alfandegárias se apoderaram delas ao chegarem a Bulawayo, e a Sociedade reagiu por solicitar sua devolução. O processo chegou ao Tribunal Superior da Rodésia do Sul em maio de 1937. O advogado da Sociedade, Sr. Beadle (mais tarde, ministro-presidente do Supremo Tribunal da Rodésia), fizera cuidadoso estudo das publicações. Ao palestrar com o irmão George Phillips, superintendente da filial da África do Sul, durante dois dias, antes de o processo se iniciar, ele mostrou que estava a par de seu conteúdo. Os méritos dos livros foram plenamente considerados no tribunal, por vários dias. O irmão Phillips, vindo da Cidade do Cabo, teve a experiência incomum e interessante de sentar-se ao lado do advogado de defesa no tribunal e ajudá-lo a encontrar textos relevantes e a dar a explicação apropriada de trechos das publicações sob exame. Depois da audiência, o Meritíssimo Sr. Juiz, J. Hudson, deu a entender que leria os livros antes de fazer sua decisão. Sua decisão foi anunciada em 23 de setembro de 1937. O juiz considerou os prós e os contras dos argumentos da defesa, daí, resumiu sua decisão, dizendo: “Todas elas podem ser caraterizadas como publicações escritas em boa fé, com a intenção de chamar a atenção para se remediar os defeitos fundamentais na organização e administração de todos os governos terrestres. . . . Minha decisão é de que nenhuma dessas publicações é sediciosa.”
Esta foi importante vitória para a Sociedade. No entanto, a resposta do governo foi interpor recurso. Este foi argüido perante a Divisão de Recursos do Supremo Tribunal da União Sul-Africana em 15 de março de 1938. A decisão foi anunciada em 22 de março de 1938, pelo Ministro N. J. de Wet, e esta mantinha a decisão da Corte da Rodésia do Sul. O caso obteve muita publicidade nos jornais da Rodésia e da África do Sul. Com efeito, o Chronicle de Bulawayo citou por extenso a decisão do tribunal. Desta forma, deu-se excelente testemunho e as publicações da Sociedade foram liberadas.
A obra entre os irmãos crescia bem. Em 1938, o número de proclamadores do Reino subira para 321, e 20 fonógrafos eram usados no campo. O número de companhias, ou congregações, era então de 34.
No princípio de 1938, a Sociedade solicitou mais uma vez permissão de enviar dois representantes europeus para trabalhar e incentivar o campo europeu e esta foi concedida, “uma vez que cada um deles, quer antes quer ao chegar, forneça uma declaração escrita de não distribuir quaisquer publicações nem dirigir reuniões públicas ou fazer qualquer propaganda entre a população nativa da Rodésia do Sul”. Assim, embora a maré da batalha se estivesse voltando em favor da Sociedade, de forma alguma tinha passado.
Os dois pioneiros enviados para lá pela Sociedade em 1938 eram Robert Nisbet e Jim Kennedy, sul-africano que era um tanto novo no serviço de pioneiro. No posto da fronteira, em Beitbridge, as autoridades os fizeram parar, interrogando-os e por fim permitindo sua entrada no país por seis meses. Passaram agradáveis momentos ao trabalhar entre os europeus e deixaram muitas publicações onde quer que foram. Em certo lugar, zona de mineração de ouro, colocaram cerca de 200 livros encadernados em um só dia. A polícia, naturalmente continuava vigiando-os e tinham de apresentar-se constantemente à delegacia local. Quase em toda a parte as pessoas pareciam ter ouvido falar neles, e esperavam sua visita. Os agricultores eram, na maior parte, amigáveis e hospitaleiros, mas, em algumas ocasiões, quando ouviam o nome “Torre de Vigia”, era como atrair um touro.
Em Bulawayo, encontraram o irmão McGregor, que estivera na verdade na Escócia, mas ficara espiritualmente frio. Foi muito incentivado pelos pioneiros e, depois de algum tempo, fez novo início na obra. Os pioneiros também encontraram a família Gunn, que tinha entrado em contato com George Phillips e Henry Myrdal, cerca de doze anos antes. Também estavam inativos, mas foram reavivados espiritualmente, pelos dois pioneiros. Assim, em 1938, conseguiram organizar um grupo em Bulawayo. Era o primeiro grupo de estudo europeu na Rodésia do Sul, com cerca de dezessete pessoas mostrando interesse. Com o tempo, o irmão McGregor atuou como representante da Sociedade na Rodésia e fez um trabalho muito útil em ajuntar relatórios e cuidar dos interesses do Reino naquele país.
ENFRENTANDO DIFICULDADES NA RODÉSIA DO NORTE
As Testemunhas ganhavam a batalha na Rodésia do Sul. Mas, como iam no país vizinho da Rodésia do Norte (Zâmbia), onde, lá em 1925, Mwana Lesa causara tantas dificuldades?
Os anos que se seguiram ao episódio de Mwana Lesa foram difíceis. Na maioria dos centros principais, ao longo da linha férrea, encontravam-se grupos de interessados. A linha tinha sido estendida de Livingstone, na fronteira sul, até à área do Cinturão do Cobre e a fronteira do Congo, adjacente ao Cinturão do Cobre. Tais grupos se formavam de pessoas que tinham tido contato pelo correio com o escritório da Sociedade em Brooklyn, Nova Iorque, ou com o escritório da Cidade do Cabo. O âmbito das comunicações se limitava a pedidos de publicação e donativos. Quem mantinha a correspondência tornou-se reconhecido como líder do grupo e os que se associavam com o grupo o reconheciam como tal.
Devido ao contínuo fustigamento das autoridades seculares e a falta de direção organizacional, a maioria das reuniões limitava-se a pequenos grupos nas casas. Todavia, cristãos sinceramente devotados faziam sério estudo da Palavra de Deus com a matéria limitada disponível.
Um rapaz que procurava orientação era Thomson Kangale. Em 1931, Thomson, com seus vinte e poucos anos, encontrava-se a procura de emprego, depois de ser fechada a Mina Bwana em Mkumwa, devido à depressão mundial. Procurava assim um novo emprego, e o encontrou, na Mina Nkana em Kitwe. Logo foi designado a supervisionar dois times de futebol de empregados da mina. Partilhando o alojamento com ele havia um rapaz, um goleiro. Certo domingo, este rapaz deu de encontro com a reunião local das Testemunhas de Jeová, e voltou com uma edição de bolso dum volume de Estudos das Escrituras. Thomson, estimulado pela determinação desse rapaz de entender o conteúdo do livro, decidiu ir a tais reuniões e ver as coisas por si mesmo. Na reunião a que compareceu, deu-se ênfase especial ao uso de A Harpa de Deus, e Thomson obteve um exemplar. Lembra-se de ter devorado o conteúdo de seu novo livro, e logo “devotei todas as minhas emoções, de todo o coração, a fazer a obra de Deus”, habilitando-se como candidato ao batismo em água naquele mesmo ano. O irmão Thomson Kangale entrou no serviço de pioneiro em 13 de outubro de 1937, e tem servido como servo aos irmãos, e servo de distrito (superintendente de circuito e de distrito), levando as boas novas a áreas de Tanganica e Uganda, em designações da filial da Rodésia do Norte.
No entanto, rememorando alguns anos antes do contato com a verdade do irmão Kangale, vemos que a obra de pregação sofreu grande oposição na Rodésia do Norte. Todos os esforços da Sociedade, de 1927 a 1934, de enviar representantes europeus em base permanente para supervisionar a obra na Rodésia do Norte foram quer recusados, quer ignorados. As duas últimas solicitações feitas naquele período eram, uma de 12 de outubro de 1932, e a outra de 20 de setembro de 1934, o recebimento dessa última sendo acusado, mas não sendo enviada nenhuma resposta considerada. Os eventos subseqüentes provaram que estava em vigor um plano para suprimir a obra por completo.
Por volta desse tempo, algumas das publicações da Sociedade, tais como A Harpa de Deus, e vários folhetos, tinham sido traduzidas e publicadas em cinianja. A Harpa de Deus era o compêndio usado pelos africanos interessados em seus estudos. Um relatório incompleto do Anuário das Testemunhas de Jeová, de 1935, em inglês, mostrava que 11.759 publicações foram distribuídas em 1934 por um punhado de pioneiros nas duas Rodésias. Esta atividade suscitou a ira dos falsos religiosos e dos elementos políticos, que atribuíram as crenças e ações erradas de membros de desencaminhados movimentos indígenas aos representantes da Sociedade, e forjaram o mal tendo por pretexto uma lei. — Sal. 94:20.
‘DESGRAÇA FORJADA POR DECRETO’
Este mal foi forjado por certa emenda ao Código Penal da Rodésia do Norte, encaminhada através do Conselho Legislativo pelo Procurador-Geral Fitzgerald, ardente católico romano, em 3 de maio de 1935. Este projeto de lei tornou-se conhecido como Decreto-Lei N.º 10, de 1935. Era óbvio que visava as publicações da Sociedade Torre de Vigia (EUA). Disse o Sr. Fitzgerald: “Torna a venda ou distribuição de periódicos sediciosos uma ofensa legal; também concede poder a certas autoridades para dar buscas em pacotes postais, visando verificar se contêm matéria sediciosa; e, por fim, uma seção mui importante dela concede ao governador o poder de declarar a proibição da importação, para o território, de qualquer jornal, livro ou documento.” Admitiu, também, que agiram segundo o conselho de outros, sem dúvida o da conferência missionária realizada em Victoria Falls! Alguns dos membros do Conselho que amavam a liberdade se opuseram a este projeto de lei. O projeto de lei, contudo, foi aprovado e resultou ser um instrumento hábil nas mãos dos inimigos, de modo que o súbito irrompimento dos motins de 1935, no Cinturão de Cobre, lhes forneceu exatamente o que esperavam para atingir as Testemunhas de Jeová.
Desde o início, era evidente que os inimigos das Testemunhas de Jeová estavam determinados a torná-las os “bodes expiatórios”. Na ocasião dos motins, só havia 350 Testemunhas de Jeová em ambas as Rodésias. No esforço de ajustar a obra na Rodésia do Norte ao modo em que era feita nos outros países, as Testemunhas africanas realizaram uma assembléia não oficial em Lusaca, de 10 a 12 de maio, a fim de considerar a obra de pregação e a necessidade de um modo limpo de vida cristã. Sem dúvida imaginando que a reunião de Lusaca tinha algo que ver com os distúrbios do Cinturão de Cobre perto do fim de maio, o D. I. C. (Departamento de Investigações Criminais) deu batidas contra as Testemunhas de Jeová por toda a Rodésia do Norte e do Sul. Em Luanshya, seis Testemunhas de Jeová foram presas, em 5 de junho, e mantidas presas por três dias, depois do que foram soltas, sem se fazer nenhuma acusação formal contra elas. Em Ndola, um servente do hospital governamental perdeu seu emprego por ser Testemunha de Jeová. Por todo o país, as Testemunhas de Jeová recebiam o mesmo tratamento, instigado pelas autoridades governamentais. Numa carta datada de 1.º de julho de 1935, ao Primeiro Secretário do Governo da Rodésia do Norte, o superintendente da filial na Cidade do Cabo defendia as Testemunhas de Jeová contra todas essas acusações falsas e lhe pedia que desse os passos necessários para parar a perseguição contra as Testemunhas de Jeová.
A evidência obtida pela Comissão de Inquérito sobre os distúrbios, e que foi publicada em dois volumes, provou que nem uma única Testemunha de Jeová estava envolvida na insurreição. Pelo contrário o Sr. J. L. Keith, comissário distrital de Ndola, deixou registrada a seguinte afirmação: “As Testemunhas de Jeová e a própria Torre de Vigia, como organização, não tomaram parte na greve.”
A evidência fornecida provava meridianamente que os awemba, que eram predominantemente católicos e muito opostos às Testemunhas de Jeová, estavam por trás dos distúrbios e que as causas principais deles foram o aumento no imposto per capita e a forma em que fora introduzido. Disse o diretor da Mina de Cobre Antílope Roano (Luanshya): “Parecia que, toda vez que perguntávamos a alguém qual era a causa dos distúrbios, a resposta constantemente retornava ao aumento do imposto.”
Pouco antes das audiências da Comissão, iniciadas em 8 de julho de 1935, a filial da Cidade do Cabo da Sociedade Torre de Vigia (EUA) obteve resposta às suas solicitações persistentes de permissão para enviar um representante europeu à Rodésia do Norte. Uma carta do governo da Rodésia do Norte, datada de 24 de junho de 1935, declarava: “O Governo . . . não suscitará nenhuma objeção agora a qualquer passo assim, que possa levar à melhor supervisão e controle de seus seguidores neste país.” Decidiu-se enviar Piet de Jager, mas o governo da Rodésia do Norte objetou a isto, declarando que desejava “algum membro mais veterano da equipe da Sociedade”. Quando lhes foi assegurado que ele só estava sendo enviado para investigar a situação e submeter um relatório e que um homem de origem britânica, com o tempo, tornar-se-ia o encarregado, eles concordaram. Mas, visto que a Sociedade Torre de Vigia (EUA) e as Testemunhas de Jeová tinham sido levadas perante a Comissão de Inquérito por meio de acusações falsas e o Governo enviara certo número de “trechos” especialmente escolhidos de certas publicações nossas a fim de determinar seu “caráter subversivo”, decidiu-se enviar o irmão de Jager em tempo para fornecer evidência em favor da Sociedade. Ele deu excelente testemunho, explicando todos os chamados trechos “subversivos”, que até mesmo o Sr. J. L. Keith, autoridade governamental, admitiu não serem mais subversivos do que quaisquer trechos tirados da Bíblia.
As conclusões da Comissão foram publicadas em 2 de outubro de 1935. Em suma, dizia: “A Comissão verificou que a causa motivadora imediata do distúrbio de Mufulira foi a súbita proclamação feita pela polícia da mina, à noite, de que o imposto tinha aumentado para o total de 15 xelins; e que foi o falso anúncio do êxito da greve em Mufulira, junto com o desafio aos nativos para que mostrassem que não eram mulheres velhas, que constituiu a causa motivadora imediata dos distúrbios em Nkana e Luanshaya.” Os inimigos das Testemunhas de Jeová, porém, exultaram com a seguinte declaração sobre a Sociedade Torre de Vigia (EUA): “A comissão verificou que os ensinos e as publicações da Torre de Vigia provocam o desprezo pela autoridade civil e espiritual, em especial pela autoridade nativa; que se trata dum movimento perigosamente subversivo; e que é importante causa de predisposição dos recentes distúrbios.”
Era exatamente o que queriam, de modo que, em 4 de outubro de 1935, o governador, Hubert Young, utilizou os poderes que lhe foram concedidos pelo Decreto-Lei N.º 10, de 1935, e proscreveu a lista inteira de nossos livros, inclusive A Harpa de Deus, o único livro em cinianja amplamente usado pelos nativos, e outro que já estava esgotado por dez anos! Por fim todos, exceto dois folhetos, escritos por J. F. Rutherford, foram proscritos.
Fez-se muita publicidade na imprensa pública do relatório da Comissão e a subseqüente proscrição de nossas publicações. A maior parte dela era eivada de preconceitos e adversa, mas a filial da Cidade do Cabo defendeu a verdade em cada caso. Excelente testemunho foi dado mediante um número especial do Northern Rhodesia Advertiser de 16 de outubro de 1935, de Ndola, que publicou a evidência da Sociedade perante a Comissão, a representação escrita e a correspondência completa. Nesta edição, o editor estendia o convite ao povo para que viesse e visse os livros proscritos em seu escritório. “Temos a coleção completa para referência em nosso escritório. Qualquer pessoa que desejar consultá-los poderá vê-los aqui. . . . Não tenha receio; venha e veja de que se trata todo esse falatório e forme sua própria opinião.” Logo que o relatório da Comissão foi publicado, exemplares dos folhetos Governo e Intolerância, junto com uma carta explicativa, chegaram às mãos de todo europeu na Rodésia do Norte.
OBTIDO ALGUM ÊXITO
O Northern Rhodesia Advertiser, ao chamar a atenção para certa incoerência na administração da Rodésia do Norte, disse: “Quer concordemos quer não com as Testemunhas de Jeová, é claro que há algo de radicalmente errado na administração deste país se o Governador da Niassalândia acolheu tais pessoas em 1933, ao passo que, como Governador da Rodésia do Norte, ele (o mesmo homem) só as permite depois de muita relutância. Daí, depois de dois meses, solicita que deixem o país sem qualquer motivo válido, e isso enquanto práticas erradas por parte dos nativos da chamada ‘Torre de Vigia indígena’ eram atribuídas ao fato de que o Governo não os tinha permitido antes no território.”
O editor do jornal se referia a que a Sociedade recebera a solicitação do governo da Rodésia do Norte, de chamar de volta o irmão de Jager, depois de dois meses, “visto que os residentes europeus de Ndola tinham feito um protesto formal contra sua presença ali, e suas atividades pareciam ter efeito perturbador”. Ao responder a isto, a filial da Cidade do Cabo indicou que o governo da Rodésia do Norte concedera permissão para se enviar um representante europeu “depois da consideração madura de toda a situação”, e que a missão do irmão de Jager na Rodésia do Norte era apenas um passo preliminar para se estabelecer o controle permanente sobre a obra ali. Foi então proposto que a Sociedade enviasse o representante europeu, Llewelyn Phillips, quem desejavam que assumisse controle permanente da obra e abrisse de imediato um depósito em Lusaca, já então a nova capital da Rodésia do Norte. Receberam uma carta que declarava “que o assunto está sendo considerado e que, no devido tempo, a decisão lhe será comunicada”. Este assunto foi mencionado de novo pelo superintendente da filial numa carta, datada de 25 de novembro de 1935, ao Secretário de Estado da Rodésia do Norte “para indagar se posso concluir meus arranjos para enviar o Sr. L. V. Phillips para agir como nosso representante nesse país”. A resposta: “É improvável que receba uma resposta definitiva ainda por algum tempo.”
No ínterim, o irmão de Jager, destemido lutador pela verdade, permanecia em Ndola e, desejando testar a validez da lei que proscrevia nossas publicações, ofereceu exemplares de dois destes folhetos ao editor do jornal local, em 21 de outubro de 1935, o que levou a ser acusado de violar a lei, sendo condenado e multado em 2 libras pelo juiz de Ndola. Interpôs-se recurso ao Tribunal Superior da Rodésia do Norte.
Enquanto este processo ainda estava pendente, a questão das Testemunhas de Jeová e a Sociedade Torre de Vigia (EUA) foi suscitada na Câmara dos Comuns, na Inglaterra, quando o Sr. Thurtle solicitou “uma garantia de que as Testemunhas de Jeová e os adeptos do movimento da Torre de Vigia obteriam tratamento justo na Rodésia do Norte”. O Sr. J. H. Thomas, Secretário de Estado das Colônias, “declarou que ele consultava o Governador da Rodésia do Norte quanto à diretriz a ser seguida”.
A filial na Cidade do Cabo agiu logo por enviar o seguinte cabograma ao Secretário de Estado das Colônias: “Respeitosamente solicitamos oportunidade apresentar exposições nossa obra Rodésia Norte antes que V. Ex.a decida diretriz futura. Segue carta via aérea.” Nesse mesmo dia, seguiu longa carta para ele, com explicações pormenorizadas da trama para esmagar nossa obra na Rodésia do Norte, começando com as conferências missionárias, abrangendo o episódio de Mwana Lesa, os distúrbios do Cinturão do Cobre, e falando da luta para se conseguir estabelecer um representante europeu a fim de orientar a obra e ajudar os africanos sinceros. Também contava a perseguição que as Testemunhas africanas tinham de suportar. Daí, vinha o apelo: “Excelência, solicitamo-lhe que tome medidas para pôr fim à injusta discriminação que é feita contra as Testemunhas de Jeová na Rodésia do Norte, que se remova a proibição contra as suas publicações, e que se certifique que se permita a nossos genuínos adeptos exerçam seus direitos, dados por Deus, de adorar a Jeová Deus segundo os ditames de sua própria consciência, sem interferências.”
Isto produziu os resultados desejados, porque o superintendente da filial da Cidade do Cabo recebeu uma carta do Secretariado da Rodésia do Norte, em março de 1936. O Primeiro Secretário escreveu: “Estou autorizado a . . . convidá-lo a enviar o Sr. L. V. Phillips como seu representante, em lugar do Sr. P. J. de Jager, para estabelecer um depósito em Lusaca. . . . Também, com referência à sua carta, datada de 11 de dezembro, dirigida ao Secretário de Estado das Colônias, e dizer que o Secretário de Estado certamente considerou os assuntos nela suscitados. Sua Excelência, o Governador, já recomendou que seja admitido na Rodésia do Norte um representante europeu e o Secretário de Estado aprovou agora tal proposta.” Que vitória, depois de longa batalha!
CONTINUA OUTRA BATALHA
Mas, a luta pela liberdade de adoração estava longe de terminar, pois nossas publicações ainda estavam proibidas e pendia o recurso. O processo foi julgado pelo Tribunal Superior em 20 de maio de 1936, e a decisão foi anunciada em 18 de junho. Negava o recurso. O irmão de Jager imediatamente solicitou licença de recorrer ao Conselho Privado. Em 15 de setembro de 1936, o Tribunal Superior da Rodésia recusou licença para o recurso. No entanto, a Sociedade não deixou de lado nenhum recurso nesta luta pela liberdade de adoração. Obteve-se a ajuda dum consultor jurídico de Londres, a fim de trabalhar junto com o consultor jurídico da Sociedade na Rodésia do Norte, para se tentar levar o caso perante o Conselho Privado. O resultado final, contudo, foi que a comissão judicativa do Conselho Privado em Londres se recusou a ouvir o caso.
Em janeiro de 1936, exemplares duma carta especial do presidente da Sociedade, J. F. Rutherford dirigida aos membros da Assembléia Legislativa da Rodésia do Norte, foram também enviadas aos membros do Conselho Legislativo da Rodésia do Norte, ao Governador e à Imprensa.
Durante 1936, as Testemunhas de Jeová na União Sul-Africana também estavam mui ativas em distribuir 50.000 exemplares de A Idade de Ouro N.º 425, e 20.000 exemplares duma publicação especial que continha a mesma informação foram distribuídos nas Rodésias. Nelas, declaravam-se os fatos que estabeleciam a inocência das Testemunhas de Jeová na Rodésia do Norte, inclusive uma carta bem forte do presidente da Sociedade, irmão Rutherford, enviada a Alison Russell, o Presidente da Comissão de Inquérito, depois de seu relatório ter sido publicado. Assim, o público foi plenamente informado quanto aos ardis dos inimigos da verdade para tentar suprimi-la.
EMPREENDE-SE OUTRA TAREFA
Por fim, os esforços da Sociedade de ter um depósito na Rodésia do Norte foram coroados de êxito! O depósito foi aberto em 16 de julho de 1936, em Lusaca, bem em frente à delegacia de polícia, o irmão Llewelyn Phillips sendo designado servo do depósito. Mas, restava ainda tremenda tarefa. Era limpar a organização de todos os elementos indesejáveis devido à influência dos “movimentos da Torre de Vigia” indígenas, e a falta de supervisão, a fim de instruir os sinceros quanto à sólida doutrina bíblica e organizar a obra numa base correta.
A primeira coisa que o irmão Llewelyn Phillips fez foi visitar muitos dos centros principais. Ali, mediante arranjos com as autoridades governamentais, encontrou muitos que afirmavam associar-se com a Sociedade Torre de Vigia (EUA). O que descobriu? Ele nos conta: “Tornou-se abundantemente claro que a ampla maioria era como o povo de Nínive nos dias de Jonas que ‘não sabia diferençar a mão direita da esquerda’. Muitos eram sinceros; alguns dos orgulhosos achavam que a Sociedade concedia certa medida de autonomia inigualada por qualquer outra organização religiosa. Alguns, como se expressa Judas, eram ‘homens ímpios, que transformam a benignidade imerecida de nosso Senhor em desculpa para conduta desenfreada’ (como tendo esposas comunitárias que eles chamavam de ‘o batismo de fogo’!).”
Além da confusão causada pelos “movimentos da Torre de Vigia” indígenas, havia o problema da falta de publicações, devido à proscrição e o analfabetismo da maioria dos irmãos. Havia muitos costumes tribais antibíblicos. As mulheres, por exemplo sentavam-se separadas dos homens nas reuniões. Também, um africano considera sua esposa como a mãe de seus filhos, a cozinheira, a jardineira, a carregadora de cargas e a construtora parcial de sua casa. Ela raras vezes, se é que alguma vez, é considerada como real companheira ou “complemento dele”. — Gên. 2:18.
Em adição, a maioria dos irmãos tinham dificuldades em relacionar à vida cotidiana as verdades que aprendiam. Os irmãos tinham lido nossas publicações e sabiam que o Reino fora estabelecido nos céus em 1914, mas, se lhes perguntasse há quantos anos isso se dera, não tinham idéia alguma. Muitos sabiam que os governos mundanos estavam sob o controle de Satanás, mas não entendiam sua relação correta para com tais governos. Devido ao seu isolamento nas pequenas aldeias na selva e ao pouco ou nenhum contato com o mundo exterior, muitas das coisas contidas nas publicações da Sociedade estavam além de sua compreensão. Por exemplo, o único contato que muitos aldeões tinham com o governo era mediante o comissário distrital da localidade e seu próprio tribunal nativo. O único contato do africano com a religião poderia ser através da escola da missão local, e tudo que ele sabia do comércio além de suas próprias trocas, era o posto comercial local. Assim, quando a religião, a política e o comércio eram considerados nas publicações da Sociedade como sendo forças do mundo, o que vinha à mente destes irmãos eram a escola da missão local, o comissário distrital e o posto comercial.
Era preciso fazer-se uma reavaliação do número de verdadeiros publicadores do Reino, porque muitos, embora mui dispostos, não se habilitavam biblicamente a participar na obra, devido à sua falta de entendimento e seu modo de vida. O primeiro relatório completo dum ano de serviço sob o arranjo do depósito mostrava haver a média mensal de 756 publicadores, com um auge de 1.081, durante 1937. Estes irmãos foram visitados por pioneiros que agiam como superintendentes regionais, e que primeiramente receberam treino no depósito, com instruções pormenorizadas sobre assuntos doutrinais, morais e organizacionais.
Estes irmãos visitantes tinham de ter verdadeiro amor a Jeová para permanecerem em sua designação, pois tinham de enfrentar muitas dificuldades. Alguns dos povoados estavam situados até a 1.600 quilômetros de distância da ferrovia, visto haver apenas uma ferrovia que atravessava o país, sem quaisquer ramais, além daquele do Cinturão do Cobre. Tais irmãos tinham de viajar, na maior parte do tempo, de bicicleta, ou andar centenas de quilômetros pelo interior seco, quente e perigoso até os grupos espalhados de interessados. Ademais, precisavam de muita paciência e amor para ajudar as congregações novas a perseverar. Às vezes tinham de ficar junto duma congregação nova pelo menos dois meses, antes de conseguirem algo parecido com organização. Tinham de combater a tendência entre alguns de serem “chefes” na organização do Senhor, o que fazia com que hesitassem em aceitar o arranjo da Sociedade. Mas, seus esforços árduos foram abençoados, pois em 1939, o número médio de publicadores aumentara para 1.191, com 7 pioneiros, e um novo auge de 2.378, em 1940, com 88 congregações em operação.
ORGANIZAÇÃO MAIS FORTE NA ÁFRICA DO SUL
Ao passo que esta batalha estava sendo travada nos territórios setentrionais, os irmãos africanos, lá em Joanesburgo estavam vencendo, em escala muito menor, a batalha contra elementos ruins dos “movimentos da Torre de Vigia” ali.
Também, ocorriam mudanças na filial da Cidade do Cabo. Em março de 1933, a Sociedade fez arranjos para que a filial da África do Sul se mudasse para local maior na Cidade do Cabo. Consistia em duas salas de escritório no sexto pavimento dum grande prédio de escritórios, Boston House, N.º 623, e um depósito num porão dum prédio vizinho, Câmara do Progresso, na Rua do Progresso, que era usado para a pequena prensa, depósito de publicações e expedição. A pequena quantidade de impressão feita naquele tempo era realizada pelo irmão Phillips, e também por um irmão local na Cidade do Cabo. Estas novas instalações eram mais centrais e mais cômodas e iriam servir como centro da organização teocrática na África meridional por cerca de vinte anos.
Dois anos depois, em 1935, um irmão que tinha conhecimentos de impressão foi enviado pelo irmão Rutherford para ajudar na impressão na filial da Cidade do Cabo. Tratava-se de Andrew Jack, que, além de ser impressor habilitado, já estava no serviço de tempo integral nos Estados Bálticos da Lituânia, Letônia e Estônia. A proscrição da obra ali foi seguida de sua deportação e volta a seu país natal da Escócia. Ao chegar à África do Sul, Andrew Jack logo fez arranjos para conseguir mais tipos e outros equipamentos de impressão, e não demorou muito até que sua gráfica de um só homem, uma só prensa, estava indo a pleno vapor. No ano de 1937, foi instalada a primeira prensa automática. Imprimiu milhões de convites e formulários nos últimos 38 anos, e ainda funciona bem hoje em dia na filial de Elandsfontein, África do Sul.
SERVIÇO SONORO PRODUTIVO
Lá no campo, as vitrolas com os poderosos discursos do irmão Rutherford, quer nas mãos das congregações, quer em carros sonantes fornecidos pela Sociedade, realizavam tremendo trabalho. Por exemplo, em Pretória, a congregação obtivera permissão para transmitir os discursos a cada domingo à noite na Praça da Igreja, o ponto mais central da cidade. Depois de algum tempo, foram apresentadas queixas ao conselho municipal, e os irmãos tiveram de remover a vitrola da Praça. Mas, tal problema logo foi contornado. O irmão Smit tinha um amigo que morava num apartamento que dava para a Praça e, por meio duma janela aberta do apartamento, o programa de domingo à noite continuou sem empecilhos.
Em meados da década de 1930, um dos carros-sonantes da Sociedade era dirigido por Robert Nisbet e ele o usava amplamente entre os africanos no território vizinho da Zululândia. Trata-se de ampla área do norte de Natal e, por muitos anos, tem sido o lar da nação zulu. Especialmente nas usinas de açúcar e nas minas de carvão do norte de Natal, grandes números de africanos se reuniam para ouvir a música e os discursos apresentados pelo carro-sonante. Isto levou à colocação de grandes quantidades de publicações. Com efeito, mais tarde, quando se apresentava o livro Riquezas, a casa-móvel do irmão Nisbet veio a ser conhecida como “Imoto Yobucebi” (“O Carro das Riquezas”).
Em 1935, os irmãos em todos os países ficaram emocionados com a nova luz sobre o assunto da “grande multidão” de Revelação 7, e aqueles que não eram dos ungidos ficaram tomados de alegria diante da perspectiva de viverem para sempre em felicidade na terra. Com o maior entendimento da classe das “outras ovelhas” e a maior atenção que era dirigida à “grande multidão”, desde então, estes números logo estavam aumentando. — João 10:16; Rev. 7:9.
Enquanto trabalhava na área de mineração conhecida como Filão, a pioneira Iris Tutty teve o privilégio de servir junto com um dos carros-sonantes, e ela o descreve da seguinte forma: “Era algo muito asseado, preto e altamente polido e na capota tinha um alto-falante. Em cada um dos lados havia as palavras ‘Mensagem do Reino, Sirva a Deus e a Cristo, o Rei’, e, na porta traseira, uma faixa de tecido anunciava o discurso mais recente de J. F. Rutherford. Esta camioneta veio a ser conhecida em toda Joanesburgo e no Filão como a ‘Camioneta da Bíblia’. Várias congregações no Filão tinham organizado uma tabela para usar esta camioneta. Nos fins-de-semana, a tabela era bem apertada, visto que a camioneta era usada para cobrir ampla área, proferindo-se discursos gravados em muitos locais diferentes, inclusive orfanatos, hospitais, praças de mercados, e nas escadarias da Prefeitura de Joanesburgo.
Em certa ocasião, no lugar mencionado por último durante período pouco antes da Segunda Guerra Mundial, e quando a tensão política estava crescendo, o discurso que era tocado era “Fascismo ou Liberdade”. Nessa noite havia uma assistência especialmente grande. À medida que o discurso se desenvolvia irromperam gritos e berros. Começaram a jogar garrafas e tomates em cima dos publicadores. A turba estava quase prestes a atacar o equipamento quando a polícia subitamente surgiu. Com cassetetes, evacuaram a inteira área, passaram um cordão ao redor dos irmãos e então os ajudaram a arrumar as coisas e sair da zona de perigo. Os irmãos ficaram muito gratos a Jeová por sua proteção.
Sem dúvida, os carros-sonantes fizeram maravilhoso trabalho naqueles dias, cobrindo todas as partes do país e alcançando muitas pessoas com seus poderosos alto-falantes. Em 1937, havia cinco carros-sonantes em uso constante, dois pioneiros viajando em cada camioneta. Ademais, havia doze fonógrafos grandes que atuavam em várias partes do país. Foi nesse mesmo ano que a obra com fonógrafos portáteis começou a ser feita com real ardor, depois dum apelo especial do irmão Rutherford. A filial na Cidade do Cabo estava atarefada em fazer gravações em africâner, cinianja, sesoto, xosa e zulu.
Em 1938, a Sociedade estava cuidando de publicações em trinta idiomas diferentes, tendo estabelecido congregações em oitenta centros. As principais publicações, naquele tempo, tais como o livro Riquezas, o folheto Descobertas e outros, eram abertamente contrários à Hierarquia Católica, e estes líderes religiosos estavam ficando preocupados. Seus periódicos avisavam as pessoas contra os opúsculos e folhetos do Juiz Rutherford, que inundavam o país. A imprensa católica fazia a sugestão de se negarem salões às Testemunhas de Jeová, para impedir que realizassem reuniões públicas.
PIONEIROS PERSEVERAM
Os pioneiros na África do Sul tinham, já em 1938, alcançado um total de 30, entre os quais, como já foi mencionado, achava-se Iris Tutty em Joanesburgo. Em certa ocasião, a irmã Tutty teve de subir longos lanços de escada para alcançar uma porta. Ao chegar lá em cima, a porta foi escancarada por uma senhora. Com seu rosto vermelho de raiva e berrando impropérios, ela empurrou a irmã Tutty escada abaixo e então bateu a porta. À medida que a irmã Tutty se levantava e juntava suas coisas, ela sentiu vontade de chorar, mas decidiu que a oração era a melhor solução. Aconteceu que, logo na próxima casa, um senhor e sua esposa eram a bondade em pessoa. Ofereceram à irmã Tutty uma chávena de chá, e disseram que estavam profundamente abalados com o que acontecera na casa de sua vizinha, em especial visto que a senhora era a esposa de seu ministro. Esta se transformou numa visita muito frutífera e, no decorrer do tempo, levou este casal a se tornarem testemunhas batizadas de Jeová.
Junto com outros publicadores, os pioneiros verificaram que as minas ao longo do Filão eram um campo mui frutífero para a colocação de publicações. Costumavam ficar em pé na abertura do poço e oferecer publicações quando os mineiros, brancos e pretos, saíam, depois de cumprirem seu turno. Os homens ainda tinham suas lamparinas acesas na frente de seus capacetes, e estavam molhados da lama das passagens subterrâneas. Os mineiros africanos eram muito ávidos de obter publicações em seus próprios idiomas e, às vezes, os pioneiros tinham diante de si uma fila de homens que esperavam sua vez. Estavam ansiosos de obter Bíblias ou livros para enviar às suas famílias e filhos em casa. Anos mais tarde, a irmã Tutty teve o prazer de encontrar um grupinho de africanos em Joanesburgo que a reconheceram. Um deles, com amplo sorriso, disse: “Lembra-se de mim? Comprar para mim Bíblia, e agora ir reunião da Bíblia.”
CONFRONTANDO O CLERO
Em fins de 1930, a mensagem do Reino começou a criar raízes numa comunidade muito conservadora na parte oriental da Província do Cabo. Isto se deu na vizinhança da Cidade de King William, a cerca de 63 quilômetros ao norte de East London. Muitos dos agricultores e habitantes locais descendem dos alemães que colonizaram a região em meados do século dezenove. Em resultado disso, a religião dominante dessa área é luterana, e foi ao realizar certo trabalho de construção na casa que pertencia a um clérigo luterano que certo Sr. Kieck obteve publicações de um publicador do Reino. O Sr. Kieck gostou do que leu e pediu mais, e logo começou a disseminar a mensagem entre seus parentes e amigos, a maioria dos quais pensavam que ele tinha ficado louco. Com o tempo, contudo, vários parentes dele começaram a interessar-se. Em 1938, fizeram arranjos para um debate público entre três de seus clérigos luteranos e o Sr. Kieck, estando presentes cerca de cem membros das igrejas. Durante o debate, o Sr. Kieck apresentou uma Bíblia alemã usada sob o regime de Hitler, em que alguns dos Salmos, bem como outros versículos da Bíblia, estavam faltando. Isto deixou o clérigo um tanto embaraçado; mas isso não era nada em comparação com seus sentimentos quando foram lidos, da Bíblia, poderosos textos. Em certo ponto, um dos ministros chegou até a jogar as publicações da Sociedade sobre a mesa, dizendo: “Estes livros malditos!” Em resultado deste episódio, seis dos membros da igreja que já estavam interessados ficaram convictos da verdade e tomaram sua posição ao lado de Jeová.
Há uma seqüência muito interessante disto. Em 1938, o Ministro do Interior da África do Sul proscreveu a importação do livro Riquezas e de vários folhetos à base de serem “objetáveis”. Isto foi feito apesar de que, em março de 1938, o supremo tribunal da África do Sul, em Bloemfontein, tinha decidido que as publicações da Sociedade não eram sediciosas e não tinham intenções subversivas. É bom ter presente que o livro Riquezas, e outras publicações, mostram claramente a conivência entre o fascismo, o nazismo e a Igreja Católica. Veio à luz que certos clérigos luteranos eram responsáveis por manobrarem as ações do governo em proscrever esta publicações. Mas, logo depois disso, esses mesmos clérigos foram encarcerados, visto que parece que promoviam o nazismo no país durante a Segunda Guerra Mundial.
A Sociedade interpôs recurso ao Ministro do Interior, protestando contra a decisão de proscrever as publicações; mas ele não quis mudar de idéia, nem fornecer qualquer explicação, nem permitir qualquer recurso ao tribunal. Por conseguinte, a filial da Cidade do Cabo publicou um panfleto grande, de quatro páginas, intitulado “Um Protesto”. Ele incluía subtítulos em grifo: “Intolerância Religiosa na África do Sul, Proscrição do Livro de Estudo Bíblico ‘Riquezas’.” O panfleto continha prova convincente de que os clérigos luteranos alemães da província oriental do Cabo tinham provocado esta proscrição e que o livro Riquezas tinha sido incluído na lista proibida, de junho de 1938, de revistas de sexo e crime. O panfleto, publicado em inglês e africâner, foi amplamente distribuído pelo país, e muitos pedidos do livro Riquezas foram recebidos.
COMEÇA O SERVIÇO ZONAL
Nesse mesmo ano, 1938, o serviço de zona foi organizado. Por meio dele, representantes viajantes da Sociedade visitavam as congregações e publicadores isolados, dando-lhes instruções e encorajamento.
Um dos primeiros servos de zona na África do Sul era Frank Taylor, cuja esposa Christine chegara recentemente da Inglaterra. Christine achava o trabalho entre os africanos uma experiência estranha, porém interessante, e o marido dela afirma que jamais se esquecerá do seu semblante quando ela colocou o primeiro folheto com uma mulher zulu que só estava vestida de contas e saia. A mulher tirou a contribuição para o folheto, uma moeda chamada “tickey” (3d), de seu cabelo carapinha!
Logo depois de iniciar o serviço de zona, Frank e Christine foram para East London, onde tiveram o trabalho alegre de ajuntar aquele grupinho de famílias interessadas, a família Kieck, a Horrmann e a Schanknecht. Tinham-se afastado da Igreja Luterana Alemã na cidade de King William. No decorrer do tempo, a congregação européia de East London foi formada com estes novatos, a maioria dos quais ainda estão vivos e ativos hoje.
GANHA ÍMPETO A OBRA DO REINO
O mês de janeiro de 1939 viu outro passo à frente dado pela filial da África do Sul, no sentido de que a revista Consolação foi publicada pela primeira vez em africâner. Piet de Jager, que até então traduzia os livros da Sociedade para o africâner, enquanto era pioneiro, foi então chamado para Betel, a fim de servir como tradutor para o africâner, por tempo integral.
Isto significava mais trabalho para Andrew Jack na pequena gráfica da filial, visto que o texto tinha de ser composto por tipo manual. Esta era a primeira revista da Sociedade a ser impressa na África do Sul. Até então, nenhuma revista estava sendo produzida nas línguas africanas locais.
Sim, a obra do Reino na África meridional deveras se desenvolvia rapidamente agora. Em 1939, houve um novo auge de 555 publicadores na África do Sul. Vale a pena notar que, destes, apenas 180 eram mestiços e africanos. A média mensal de publicadores na África do Sul era de 439; de 473 na Rodésia do Sul; de 1.198 na Rodésia do Norte; de 1.041 na Niassalândia; de 17 na África Oriental Portuguesa; de 11 em S. Helena. Isto perfazia um total geral de 3.179 publicadores no campo para todos os territórios sob a filial da Cidade do Cabo, e naquele ano, devotaram 1.042.078 horas à obra de pregação. Isto mostra claramente que desde que recebemos o esclarecimento sobre a “grande multidão”, em 1935, o aumento era muito mais rápido e muitos novatos tomavam sua posição.
GUERRA ESTIMULA OS PUBLICADORES DO REINO
Quando Hitler iniciou seu ataque relâmpago contra a Polônia, em setembro de 1939, o mundo mergulhou num período da violência e de sofrimento tal como jamais antes conhecera. A medida que a máquina de guerra nazi-fascista tomava um país após outro, a obra do Reino na Europa sofria terrivelmente. A África do Sul, sob seu novo primeiro-ministro Jan Smuts, entrou no conflito contra a Alemanha, e muitos sul-africanos estiveram em ação no norte da África e na Itália.
A África do Sul, longe do teatro principal do conflito não sofreu muito com as condições de guerra que predominavam em muitos outros países. No decorrer do tempo, havia escassez de certos comestíveis e outras restrições. A obra do Reino na África meridional, porém, em 1940 entrou num período de crescimento e expansão tal como jamais presenciara antes. Os eventos estupendos da guerra abalaram a complacência de muita gente e orientaram sua mente para o cumprimento da profecia bíblica.
Por volta deste tempo, a revista Consolação em africâner gozava de grande êxito. Assim, a filial da Torre de Vigia na Cidade do Cabo decidiu que já era tempo de publicar a revista A Sentinela em africâner. Em janeiro de 1940, o Informante (mais tarde Nosso Serviço do Reino) delineava o novo trabalho de revistas — o serviço de rua, a obra de casa em casa e os itinerários de revistas. Era patente que seriam necessárias maiores quantidades de revistas. Instalou-se uma linotipo, bem como uma dobradeira. Também, um irmão de Durban, experiente gráfico, foi chamado para ajudar o irmão Jack na pequena gráfica. Assim, a partir de 1.º de junho de 1940, Die Wagtoring (A Sentinela em africâner) foi produzida pela primeira vez pela filial da Cidade do Cabo.
A ocasião do lançamento deste primeiro número foi excelente, e, obviamente, foi feita segundo a orientação de Jeová. Embora os primeiros meses de 1940 fossem muito tranqüilos no que dizia respeito à guerra na Europa, de súbito as divisões “panzer” de Hitler começaram seu ataque sobre a Europa ocidental. Até esse tempo, irmãos de língua africâner na África do Sul tinham dependido da edição holandesa de A Sentinela, que vinha da Holanda. Em maio, porém, a filial da Sociedade na Holanda teve subitamente de fechar, e os suprimentos foram cortados. Os irmãos na Cidade do Cabo não sabiam que isto iria acontecer. Mas, exatamente nesse ponto em que os exemplares em holandês de A Sentinela pararam de vir, a nova tradução de A Sentinela em africâner preencheu a lacuna!
Os irmãos faziam o serviço de revistas com alegria e entusiasmo, de modo que, como resultado, a distribuição mensal das revistas subiu para 17.000. Como em outros países em que a obra não era feita às ocultas, sacolas de revistas começaram a surgir nas ruas, os publicadores bradando lemas.
No fim do ano de serviço de 1940, o irmão Phillips, em seu escritório na Cidade do Cabo, pôde relatar ao irmão Rutherford notável aumento de publicadores. O novo auge para a África do Sul foi de 881 publicadores, com o número médio de 656, que era um aumento de 50 por cento, à base dos relatórios da média do ano anterior. A guerra deveras estimulara os publicadores do Reino na África do Sul.
MALÍCIA CATÓLICA LEVA À PROSCRIÇÃO
A principal publicação da Igreja Católica na África do Sul, Southern Cross, em sua edição de 2 de outubro de 1940, publicou um artigo principal trazendo à atenção o que acontecia no Canadá (onde total proscrição da obra do Reino ocorreu em julho de 1940) e daí se seguia a seguinte declaração maldosa: “As atividades dessa gente [Testemunhas de Jeová] que condenam a lealdade à autoridade quer do Estado quer da Igreja, são ainda mais perigosas num país como a África do Sul, com sua enorme população nativa. O Governo deve certamente frear a disseminação de sua propaganda aqui.” De imediato após isso, as autoridades da censura começaram a apoderar-se de exemplares de assinantes de A Sentinela e Consolação e, quando a filial escreveu-lhes para descobrir o motivo, as autoridades se negaram a dar qualquer explicação.
Visto que era sabido que a Igreja Católica estava por trás de tudo isso, um exemplar especial de Notícias do Reino foi preparado, a fim de responder ao ataque católico em Southern Cross, e 200.000 exemplares foram rapidamente distribuídos por toda a África do Sul. Isto foi acompanhado por uma declaração de fatos a respeito das Testemunhas de Jeová e sua obra. Mandaram-se exemplares a todo membro do Parlamento, do poder judiciário e da imprensa. Para os membros do Parlamento e do Poder Judiciário, exemplares do artigo que tratava do assunto da neutralidade cristã, em A Sentinela de 1.º de novembro de 1939, também foram incluídos. Tempos depois, a polícia foi instruída a apoderar-se de todos os exemplares deste artigo de A Sentinela. Apresentou-se recurso ao primeiro-ministro, e obteve-se uma resposta do Chefe de Censura da União. Entre outras coisas dizia: “Embora suas intenções tenham sido, e ainda sejam as melhores, não se pode aceitar que tenham permissão de frustrar os passos dados pelo Governo para os esforços bem-sucedidos de guerra. Se sua Sociedade tiver êxito em seus esforços de converter todo o mundo neste país para este ponto de vista, o inimigo não enfrentaria nenhuma oposição ativa, e, por conseguinte, é difícil ver como possam esperar que o Governo fique sentado e deixe de tomar qualquer ação contra os senhores.”
O passo seguinte da filial foi preparar uma petição dirigida ao governo. Ela se queixava do confisco das publicações da Sociedade e respeitosamente solicitava ao Governo que liberasse tais publicações cristãs e assim restaurasse a liberdade de adoração no país. No curto espaço de dez dias, obtiveram-se 50.000 assinaturas de europeus que viviam em todas as parte da União. Por volta desse mesmo tempo, fez-se o anúncio oficial de que A Sentinela e Consolação tinham sido proscritas pelo Governo.
Ulterior ação do Governo consistiu em confiscar completas remessas de revistas, ao chegarem. Logo se tornou claro que se impusera uma proscrição total sobre a importação de publicações da Sociedade Torre de Vigia. O primeiro dos folhetos a ser confiscado foi Teocracia. Na rápida sucessão, seis ou sete remessas de publicações tiveram todas o mesmo destino. A razão fornecida para o confisco foi de que tais publicações eram consideradas “objetáveis”.
Tudo isso se devia à influência da Igreja Católica e também à situação de emergência da guerra, visto que muitas da publicações proscritas tinham sido permitidas no país por muitos anos sem qualquer dificuldade. A filial tomou medidas para reaver as publicações confiscadas, e isto levou a um processo legal. O processo chegou ao Supremo Tribunal da Cidade do Cabo. Embora as circunstâncias parecessem pesar muito contra a Sociedade Torre de Vigia (EUA), os irmãos que compareceram ao julgamento ficaram emocionados de verificar que o juiz demonstrava atitude imparcial e julgou que o ministro responsável pela proscrição deveria fornecer motivos para suas ações e também deveria conceder uma audiência para que se fizessem outras exposições sobre o caso.
A batalha legal continuou por algum tempo e não foi senão em abril de 1942, depois da luta ser travada por um ano inteiro, que se apresentaram as bases sobre as quais as publicações eram, supostamente, objetáveis. A filial tinha quatorze dias para responder a tais pontos, o que foi feito, e, ao mesmo tempo, o irmão Phillips expressou seu desejo de fazer exposições pessoais, em harmonia com a decisão do tribunal. No entanto, o tribunal não havia fixado o limite de tempo para tais exposições serem feitas ou recebidas, e os meses foram passando. Demorou dois anos até que o assunto foi resolvido.
Em agosto de 1941, toda a correspondência enviada da filial da Cidade do Cabo foi confiscada pelas autoridades da censura. Não foi senão várias semanas depois que a filial ficou sabendo disso, quando foram enviadas cartas dos irmãos no campo, e apresentou-se um protesto. Acusou-se seu recebimento, mas não se deu nenhuma explicação. As suspeitas das autoridades, de que a Sociedade estava escrevendo cartas a respeito do esforço de guerra, segundo se verificou, eram totalmente injustificadas.
Em setembro de 1941, o Ministro do Interior lançou um decreto sob as leis de emergência, para se apoderar de todas as publicações da Sociedade na África do Sul. Os resultados disso na filial foram bem excitantes. Às dez horas da manhã, o D. I. C. (Departamento de Investigações Criminais) chegou para executar a ordem. Vieram com caminhões, visando remover todo o estoque de publicações da Sociedade. Mas, o superintendente da filial estava alerta. Rapidamente verificou o mandado judicial e verificou que não se harmonizava com as leis. Tomou pronta ação, fazendo os oficiais do D. I. C. esperar no escritório da Sociedade, enquanto que ele, pessoalmente, impetrava um mandado de segurança ao Supremo Tribunal, pedindo que se impedisse o Ministro do Interior de confiscar as publicações. Seu mandado foi bem sucedido. Às 12 horas, obteve-se tal mandado e a polícia teve de trepar em seus caminhões vazios e ir embora! Cinco dias depois, o ministro cancelou sua ordem, depois de pagar às custas da Sociedade. Pode-se imaginar quão contente ficou a família de Betel da filial da Cidade do Cabo com esta vitória!
PROSSEGUE A BATALHA
Nossa luta continuou. A edição em africâner de Consolação foi proscrita de acordo com a Lei da Alfândega, que governa a importação. Visto que a revista era impressa e publicada na África do Sul, era óbvio que se tratava dum engano. Todavia, um pioneiro foi condenado em Kroonstad por distribuir a revista. Interpôs-se recurso e o Supremo Tribunal inverteu a decisão. Mais tarde, em 12 de setembro de 1941, o Government Gazette (Diário Oficial) sugeriu que a proscrição tinha acabado. Outra etapa a favor da Teocracia!
Os jornais noticiavam plenamente grande parte destas ações estimulantes, e isto resultava em tremenda publicidade para a mensagem do Reino e para a obra das Testemunhas de Jeová. Compreendendo que o público em geral precisava de esclarecimento sobre o assunto, a filial publicou dois opúsculos especiais, Why Suppress the Kingdom Message? (Por Que Suprimir a Mensagem do Reino?) e Jehovah’s Witnesses: Who Are They? What Is Their Work? (Testemunhas de Jeová: Quem São? Qual É Sua Obra?) Eles receberam ampla distribuição em inglês e africâner durante outubro de 1941.
Tal esclarecimento em ampla escala da obra que era feita pelas Testemunhas de Jeová era mui necessário, porque muito jornais traziam notícias torcidas sobre elas, e rumores e acusações de serem “quinta-colunistas” e “nazistas” estavam sendo difundidos. Um dos principais diários, o Daily Dispatch de East London, publicou um artigo que fazia uma calúnia contra o presidente da Sociedade, J. F. Rutherford. Visto que o diretor se recusou a publicar uma carta de retratação, moveu-se um processo contra a calúnia e o jornal foi processado em 5.000 libras em perdas e danos. Quando o editor viu que os irmãos estavam determinados nisso, rapidamente recuou, publicou uma retratação e pagou todas as custas do processo.
REAÇÃO DIANTE DA PROSCRIÇÃO
A reação dos irmãos diante da proscrição de algumas publicações foi esconder as publicações proscritas em suas casas. Eram “cautelosos como as serpentes”. (Mat. 10:16) Em Joanesburgo, a polícia deu várias batidas nas casas dos publicadores mas eles recebiam avisos antecipados de tais batidas através dum interessado que fazia parte da equipe de investigadores. Em Pretória, Frans Muller, ainda escolar, sob a orientação dos seus pais, arrastou uma caixa após outra de publicações para passagens estreitas abaixo do assoalho de madeira de sua casa, onde sabiam que os preciosos livros estariam bem seguros. Tudo isso significava que os publicadores tinham muito menos publicações para trabalhar no campo, mas, usavam-se em grande medida as publicações impressas localmente tais como o livro Filhos. Como afirma um irmão mestiço da Cidade do Cabo: “Os estoques eram limitados, mas isto não diminuiu o passo da obra. Disseram-nos que emprestássemos os livros às pessoas e começássemos estudos com elas. Fizemos isso, e foi surpreendente ver como nossos estudos bíblicos aumentaram vertiginosamente. Muitos começaram a entrar na verdade nesse período.”
O auge de publicadores ascendeu para 1.253, e trabalhavam muito. A assistência na assembléia de Joanesburgo, naquele ano subiu para cerca de 800 pessoas, sendo 186 batizadas. Muitas congregações novas foram organizadas, o total subindo de 127, em 1940, para 172, em 1941.
Embora a revista A Sentinela, que vinha dos EUA, estivesse na lista de proscrição, Jeová amorosamente fornecia o alimento espiritual. Os irmãos na Cidade do Cabo jamais careceram de matéria para impressão em suas prensas, e de enviá-la sob o nome “Alimento Apropriado”. Um daqueles que, durante a guerra, jamais perderam um único exemplar de sua assinatura de A Sentinela e que sempre o enviava para o escritório da Cidade do Cabo depois de o ler era o irmão J. J. van Zyl, visto que seus exemplares vinham endereçados ao “Sargento J. J. van Zyl, Polícia Sul-Africana, Kranskop, Natal”.
FINALMENTE A VITÓRIA!
Por certo, a luta contra Deus e sua obra do Reino na África do Sul não teve êxito. De 1941 em diante, a luta para acabar com a proscrição e liberar nossas publicações continuou sem cessar. Perto do fim de 1943, os estoques de publicações na filial estavam ficando bastante reduzidos e os irmãos oravam fervorosamente para que fossem liberadas as publicações que tinham sido confiscadas. Daí, começaram a acontecer coisas. Foi nomeado novo Ministro do Interior. Outra carta foi enviada pelo superintendente da filial ao Diretor da Censura, solicitando o fim da proscrição. Uma cópia da carta foi enviada ao novo ministro, junto com uma solicitação de uma audiência pessoal, que o ministro anterior concordara em dar, mas jamais se realizara.
Em janeiro de 1944, realizou-se a audiência, e o ministro acordou em liberar as remessas confiscadas, acabar com a proscrição das revistas, e liberar as demais publicações que tinham sido confiscadas. Também prometeu revogar o decreto, à base das Leis de Emergência, que declarava que todas as publicações eram subversivas. Uma semana mais tarde, a filial recebeu a confirmação de tudo isso por escrito, e, alguns dias depois, enorme estoque de publicações (cerca de 1.800 caixas) foi entregue na filial. Não ficara danificado por ter sido retido por três anos. Quão felizes se sentiram os irmãos na filial e no campo em virtude disso! Que vitória maravilhosa, em resposta às suas orações!
PROSCRIÇÃO DE LIVROS EM OUTRAS PARTES
No início da Segunda Guerra Mundial, houve frenética proscrição de livros em muitas partes do Império Britânico e em outros países. Era exatamente como Jeová há muito movera o profeta Daniel a predizer — o ‘chifre pequeno’ (do qual a Comunidade Britânica de Nações era uma parte) estava ‘assumindo ares de grandeza’, ‘lançando a verdade por terra’ e cometendo ‘transgressão’ contra as coisas santas de Deus. (Dan. 8:9-12) Isto se estendia aos três protetorados britânicos na África meridional — Basutolândia, Bechuanalândia e Suazilândia. A proscrição oficial das publicações da Sociedade entrou em vigor em fevereiro de 1941. Permaneceu em vigor até 1960 apesar de todos os esforços de eliminá-la. Até mesmo a Bíblia Rei Jaime foi proscrita, caso fosse a impressa pela Sociedade Torre de Vigia (EUA). Isto ocorreu apesar de que, naqueles três países, em 1941, não havia uma Testemunha de Jeová sequer.
ANOS FRUTÍFEROS NA ÁFRICA DO SUDOESTE
O momentoso ano de 1939 iniciou outro capítulo na história da obra na África do Sudoeste. Ainda não haviam sido formados quaisquer grupos naquelas plagas e este amplo campo ainda estava vazio. Um casal de pioneiros, Barry Prinsloo e sua esposa, Joan, sentiram o impulso de ir e testemunhar ao povo daquele território.
Barry comprou um caminhão e o transformou numa casa-móvel. Nela montou uma instalação a gás, prevendo corretamente a escassez de gasolina em virtude da guerra. Para chegar de Joanesburgo à África do Sudoeste, tiveram de viajar pelo deserto de Kalahari. Havia muito poucas estradas e tinham de seguir as marcas deixadas por algum carro que passara antes ou uma carroça de mula, e até mesmo essas marcas eram completamente apagadas às vezes.
Por fim chegaram a Windhoek, e dali se foram mais para o norte pregando e colocando publicações. Por certo tempo, a polícia os seguia e juntava as publicações que haviam colocado. Com o tempo, foram detidos e acusados de vender sem licença. Aconselhados pela Sociedade, pediram o adiamento do processo, dependendo dos resultados de alguns processos de natureza similar na África do Sul. Algumas semanas depois, o irmão Prinsloo compareceu ao tribunal e conseguiu um veredicto favorável.
As notícias de uma assembléia em Joanesburgo chegaram até eles, e embora significasse árdua viagem de cerca de 1.600 quilômetros, decidiram ir. Mas, ocorreu uma tragédia. A maioria dos rios da África do Sudoeste não são mais do que ravinas secas e arenosas que só correm quando há uma chuvarada excecional. Tentando atravessar um desses rios seu carro ficou atolado. Naquela noite, o rio sofreu enchente arrastando a casa-móvel algumas centenas de metros corrente abaixo. Ali o encontraram na manhã seguinte, quebrado em duas partes e o chassi enterrado na areia. Salvaram o que puderam, e avisaram a Sociedade do desastre, e de seu desapontamento por não poderem comparecer à assembléia. Mas, mui prontamente, receberam um presente enviado pelo superintendente da filial, e um telegrama explicando que era para um “pequeno feriado”.
Depois da assembléia, voltaram e acamparam perto da casa-móvel destroçada, pensando em consertá-la. Ao mesmo tempo, testemunharam aos lavradores ovambos, usando Johannes como intérprete. Johannes era um bosquímano que haviam contratado para acompanhá-los em suas viagens através do território, e ele bem pode ter sido o primeiro bosquímano a aceitar a verdade. Os bosquímanos são uma tribo nômade de habitantes do deserto, que vivem mormente da caça com arco e flecha envenenada. Sendo, sem comparação, os menores de todos os africanos da parte sul da África, e comparáveis em tamanho aos pigmeus da África Central, estes caçadores são extremamente primitivos em seus hábitos de vida. As comunicações entre eles e outros se torna muito difícil, não só devido aos locais inacessíveis que habitam, mas também por sua língua, com seu vocabulário limitado e incessante fluxo de cliques. Alguns deles, contudo, deveras se tornam lavradores. Devido à proscrição das publicações e a situação em geral, a Sociedade com o tempo convidou o casal Prinsloo a voltar à África do Sul.
Assim, embora pioneiros tivessem ido à África do Sudoeste em 1929, 1935 e 1942, e colocassem muitas publicações, não houve real cultivo do campo, resultando em poucos frutos. O ano de 1950, contudo, assinalou momento decisivo na história da obra na África do Sudoeste. A Sociedade então enviou quatro missionários, graduados da Escola de Gileade, George Koett, Fred Hayhurst, Gus Eriksson e Roy Stephens. No início de 1950, estabeleceu-se um lar missionário em Windhoek.
Embora tais irmãos não devessem concentrar-se meramente em colocar publicações, mas em achar e apascentar as “outras ovelhas” do Senhor, ainda apresentavam excelentes colocações. (João 10:16) Ao mesmo tempo, conseguiram contatar cinco irmãos africanos que se mudaram para vizinha localidade africana, vindo da União Sul-Africana, e eles foram organizados numa companhia (congregação). Um dos missionários também iniciou nada menos de 25 estudos nesta localidade africana. Tudo parecia indicar que a obra neste território, em especial entre os africanos, gozava de excelente início, com boas perspectivas de aumento.
[Mapa na página 77]
(Para o texto formatado, veja a publicação)
ÁFRICA MERIDIONAL
ZAIRE (Congo Belga)
UGANDA
QUÊNIA
TANZÂNIA (Tanganica)
ANGOLA
ZÂMBIA (Rodésia do Norte)
MALAUI (Niassalândia)
MOÇAMBIQUE
ÁFRICA DO SUDOESTE
RODÉSIA (Rodésia do Sul)
BOTSVANA (Bechuanalândia)
ÁFRICA DO SUL
Cidade do Cabo
SUAZILÂNDIA
Joanesburgo
Durban
LESOTO (Basutolândia)
[Foto na página 92]
George Phillips compondo tipo à mão na filial da Cidade do Cabo.
[Foto na página 97]
Lar zulu.